O deputado federal Evair de Melo (PP) já chegou até a ser convidado para compor o secretariado de Renato Casagrande (PSB), mas o parlamentar, que é bolsonarista, virou um dos vice-líderes do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) na Câmara Federal e agora faz duras críticas ao governador do Espírito Santo.
Em entrevista ao colunista Vitor Vogas, Evair disse que “Casagrande ajudaria muito mais se ficasse de boca fechada”, criticando as decisões do socialista no enfrentamento à Covid-19. O discurso do parlamentar, no entanto, é um ponto fora da curva no Estado, onde não há uma composição coesa de oposição ao governo estadual.
Evair de Melo já foi filiado ao PV, partido pelo qual foi eleito deputado federal em 2014. Em 2018, migrou para o PP, partido do presidente da Câmara Arthur Lira, que faz parte do Centrão e é aliado de primeira hora de Bolsonaro na Casa.
Desde o início da pandemia, Evair tem reforçado o discurso do governo federal. Logo após ser nomeado como um dos vices-líderes, criticou governadores e prefeitos, afirmando que eles teriam demorado a tomar medidas para conter a disseminação do novo coronavírus, e que, por causa disso, tiveram que adotar atitudes tão restritas de isolamento social.
O próprio presidente, no entanto, minimiza desde o início os riscos da Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, comparada por ele a uma "gripezinha" ou "resfriadinho".
Em meio ao agravamento da pandemia de Covid-19, e diante de uma ausência de articulação nacional, os governadores, entre eles Casagrande, têm isolado o presidente Jair Bolsonaro na tomada de decisões. Eles articulam anunciar conjuntamente medidas restritivas para reduzir o avanço do novo coronavírus no Brasil.
A atitude de Casagrande é criticada por Evair, que diz que o socialista é visto no Planalto como alguém que não tem humildade. "É visto como um governador que não cumpre o que fala e que, a todo momento que tem, fica jogando para a galera. Ele não perde uma oportunidade de querer fazer discurso. Não estou entrando no mérito, mas é desproporcional ao tamanho do Estado", declarou em entrevista no último fim de semana.
Na última semana, o presidente Jair Bolsonaro e aliados publicaram no Twitter as cifras que teriam sido repassadas pela União para ajudar os Estados durante a pandemia. Evair foi um dos que repostou os valores nas redes sociais. Os números, contudo, continham repasses obrigatórios do governo, e não se referiam apenas à ajuda fornecida durante a crise sanitária.
Os dados foram duramente contestados por vários governadores, entre eles Casagrande, para quem Bolsonaro “torturou os números”, com o intuito de superestimar os repasses.
Para Evair, contudo, Casagrande tem "fechado portas" com o governo federal e não demonstra gratidão."O governo do Estado, até o dia de hoje, omite em 100% as entregas e o esforço do governo federal para socorrer principalmente Estados e municípios na questão econômica", declarou em entrevista ao colunista Vitor Vogas.
Mas o discurso duro de Evair contra o governo não tem sido acompanhado por outros parlamentares. O deputado tem ficado isolado nos ataques que direciona ao governador. Quem mais se aproxima dessa postura de oposição é a deputada federal Soraya Manato (PSL), esposa do ex-deputado Carlos Manato, que concorreu ao governo do Estado em 2018. Mesmo assim, Soraya se mostra mais uma defensora do presidente do que uma crítica de Casagrande.
Na Assembleia Legislativa, dos 30 deputados estaduais, apenas Capitão Assumção (Patriota) desempenha um papel de oposição. Outros parlamentares, como Torino Marques (PSL) e Danilo Bahiense (sem partido), costumam criticar o governo, mas não de maneira tão incisiva.
Além de ser um caso pontual entre os parlamentares, as declarações de Evair não representam necessariamente a visão do PP a respeito de Casagrande. No Espírito Santo, inclusive, o partido é um dos pilares do governo estadual, e o presidente do partido, Marcus Vicente, é secretário de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano.
Evair de Melo e Casagrande eram próximos. Durante todo o primeiro mandato de Casagrande (2011-2014), o parlamentar presidiu o Incaper, cargo que o projetou para conquistar uma vaga na Câmara dos Deputados em 2014. Na época, Evair era filiado ao PV.
Mas foi em 2018, contudo, que a relação começou a mudar. Evair foi convidado por Casagrande para ser secretário de Agricultura do governo. O parlamentar não só rejeitou, como publicou uma carta aberta nas redes sociais contando que havia recusado a proposta. A atitude gerou um mal-estar com o governo.
Na época, Evair ainda não havia sido nomeado um dos vice-líderes do governo – isso veio a acontecer em 2020 – , mas jȧ era bolsonarista e defendia o presidente nas rede sociais.
Se Evair aceitasse a titularidade da pasta na gestão Casagrande, Marcus Vicente, que é o presidente do PP no Espírito Santo e secretário de Saneamento do governo, assumiria a vaga deixada por ele na Câmara dos Deputados, como suplente da coligação.
O governador Renato Casagrande foi procurado pela reportagem para comentar as declarações do deputado federal Evair de Melo mas, via assessoria, informou que não iria se manifestar.
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