Em meio à crise vivida pelo setor cultural, que há mais de um ano sofre com a paralisação de atividades em decorrência da pandemia de Covid-19, a Prefeitura de Vitória segue sem um titular na Secretaria de Cultura. São quase três meses tendo interinos revezando no comando da pasta.
A indefinição de um nome à frente da secretaria tem gerado insatisfação entre os profissionais de cultura, que temem o enfraquecimento do setor na Capital. A Prefeitura de Vitória não informou se há previsão para que um titular seja nomeado.
Atualmente, o subsecretário de Cultura, Luciano Gagno, responde interinamente pela secretaria, acumulando as duas funções.
Desde que o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), tomou posse, a pasta foi comandada interinamente por três pessoas diferentes. Nos 15 primeiros dias de mandato, ficou sob responsabilidade da subsecretária de Comunicação, Valéria Morgado.
Logo depois, o atual subsecretário Luciano Gagno foi nomeado secretário interino até que um nome fosse anunciado à frente da pasta.
Durante esse período, Pazolini iniciou conversas com o ex-prefeito de Colatina Sérgio Meneguelli (Republicanos), que foi convidado para ser secretário de Cultura, mas acabou recusando a oferta.
Com a negativa, no início de fevereiro, Pazolini nomeou a vice-prefeita, Capitã Estéfane (Republicanos), para o cargo. Na época, a prefeitura informou que as demandas da pasta haviam aumentado e que, para colaborar com as atividades, a militar atuaria de forma temporária.
A nomeação, contudo, gerou insatisfação e até uma carta de repúdio por parte do Conselho Municipal de Políticas Culturais. A principal queixa era que a vice-prefeita não tinha “reconhecimento público na área cultural e/ou conhecimento do setor para o qual foi nomeada”.
Cinco dias após assumir a Secretaria de Cultura, a nomeação da capitã foi cancelada e o subsecretário Luciano Gagno voltou a responder pela pasta, função em permanece até hoje.
A falta de um nome em definitivo na pasta é vista por profissionais da Cultura na Capital como um sinal de desprezo pelo setor.
“Estamos tentando entender o que vai acontecer. O fato de não termos um secretário nos leva a crer que a cultura não tem importância para a atual gestão, que não é prioridade”, avalia Ricardo Salles, membro do Conselho Municipal de Políticas Culturais.
Em carta enviada ao prefeito em fevereiro, o conselho demonstrou insatisfação com a condução da área cultural. No documento, o grupo cobrou uma posição da prefeitura e se queixou da indefinição de um nome para comandar a secretaria.
“Enquanto a Prefeitura de Vitória demonstra insegurança sobre a condução do órgão gestor da Cultura no município, a política cultural da cidade está estagnada. Equipamentos culturais seguem sem coordenação, o que compromete o andamento das atividades; a Lei Rubem Braga continua sem previsão de aprovação de verba orçamentária para pagamento de pareceristas, o que atrasa a avaliação e aprovação dos projetos, bem como o repasse de recursos para os artistas; e até mesmo o Conselho de Política Cultural aguarda a nomeação de um secretário executivo, com a mesa diretora acumulando funções para cobrir a lacuna do Poder Executivo”, diz um trecho da carta.
Das demandas apresentadas, apenas uma foi resolvida até o momento. No início de março, a Prefeitura de Vitória nomeou um profissional da área de Cultura como secretário Executivo do Conselho.
De acordo com o vice-presidente do conselho, José Roberto Santos Neves, a carta nunca foi respondida pela gestão atual. Na opinião dele, a falta de alguém à frente da pasta, de forma definitiva, tem contribuído para uma lentidão nas decisões no setor cultural.
"A gente cobra por uma definição porque quer ver a Cultura deslanchar e essa insegurança é ruim não só para os profissionais, mas para a sociedade. Por mais que o subsecretário se esforce no diálogo, não está sendo satisfatório às demandas do setor", afirma.
Impressão semelhante tem a produtora cultural e diretora do Festival de Cinema de Vitória, Lúcia Caus. Há 30 anos trabalhando com Cultura, ela aponta que falta diálogo e preocupação por parte da prefeitura em fortalecer o setor em um momento que sofre com a paralisação das atividades.
“O setor cultural foi o primeiro a parar e vai ser o último a voltar, e não vemos nada acontecendo em um momento que precisamos tanto. Estamos falando da Capital do Estado, que até hoje não tem um secretário titular. O que eu sinto é que está todo mundo isolado e perplexo", opinou.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Vitória afirma que a gestão atual tem feito diversas ações na área de Cultura, entre as quais a oferta de cursos e oficinas, a realização do Carnaval On-line no último mês, além de exposições.
Questionada sobre a demora em indicar um titular para a Secretaria de Cultura e quando isso vai acontecer, a Prefeitura de Vitória relacionou algumas iniciativas, mas não respondeu objetivamente sobre a nomeação nem deu prazos.
"A Secretaria acredita e investe na formação cultural como um meio de transformação social, fomento da cultura de um modo geral e ainda geração de oportunidades igualitárias de crescimento e desenvolvimento do cidadão", escreveu por meio de nota.
Confira a nota enviada pela prefeitura com algumas ações realizadas na gestão atual:
"Em menos de três meses de gestão a Secretaria Municipal de Cultura (SEMC) reabriu para o público e disponibilizou formações culturais em sete equipamentos municipais distribuídos pela cidade. Em todos os espaços os protocolos de segurança orientados pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), e pelas autoridades sanitárias, relacionados ao combate ao coronavírus, vinham sendo rigorosamente seguidos até o atual período de quarentena, iniciado no último dia (18). De janeiro a março, a SEMC ofertou mais de 1.000 vagas em 40 diferentes oficinas e cursos de formação cultural, tanto em formato virtual como presencial. Ação que se reflete e impacta positivamente regiões da cidade caracterizadas pela profunda desigualdade social e constantemente marginalizadas e esquecidas por outras administrações. De 12 a 14 do último mês de fevereiro a SEMC, em uma ação inédita, realizou a primeira edição do Carnaval On-line de Vitória, com a participação de 22 bandas em mais de 20 horas de transmissão de programação. Todas as bandas foram contratadas seguindo o edital Arte em Casa que foi concebido para prestar apoio aos artistas, técnicos e demais profissionais das áreas de arte e da cultura que estão impedidos de realizar shows durante esse período de isolamento social. Também está em curso o “Festival Arte em Casa – Homenagem à Mulher” que durante todos os sábados de março traz apresentações de artistas locais, também contemplados pelo edital Arte em Casa, por meio do canal do YouTube da Prefeitura Municipal. Também concomitante com as ações já relacionas a SEMC dá visibilidade e publicidade às ações, projetos, apresentações e execuções de obras artísticas beneficiadas pela leis Aldir Blanc que já beneficiou quase duzentos artistas, bandas, atores, pintores e expositores do Estado. Por meio do edital do Arte é Nossa, que tem o objetivo de transformar Vitória em uma galeria a céu aberto, com intervenções artísticas de grafite/pintura mural em diferentes regiões da cidade, a SEMC já entregou obras em duas regiões: Mercado da Vila Rubim e São Pedro."
Depois, novamente cobrada sobre a nomeação, a assessoria da prefeitura acrescentou que "o prefeito está satisfeito com o trabalho que o secretário em exercício Luciano Gagno tem desenvolvido, inclusive cogitando a possibilidade de ele ser efetivado no cargo", afirmou, também em nota, acrescentando alguns projetos que estão em planejamento, como o "Grafite nos Morros" e rua de lazer na região de São Pedro.
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