O eventual retorno do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao PSL anima filiados da legenda no Espírito Santo, mas pode pôr em xeque a relação da cúpula do partido com o governo estadual. Isso porque o atual presidente da sigla, o deputado Alexandre Quintino (PSL), é aliado do governador Renato Casagrande (PSB) e tem se aproximado cada vez mais de partidos de centro-esquerda, conforme observado nas eleições de 2020.
Em Vitória, por exemplo, o PSL, que é um partido de direita e com viés conservador, compôs chapa com Fabrício Gandini (Cidadania) para a prefeitura. Em outros municípios houve alianças com partidos da base de Casagrande.
Alguns correligionários apontam que a postura do PSL no Estado pode ser colocada na mesa, caso Bolsonaro volte para o partido. Uma das condições do presidente para filiação, inclusive, é ter controle da Executiva nacional e diretórios. Quintino, contudo, não acredita que a aliança com Casagrande gere qualquer conflito na sigla, e vê com bons olhos um possível retorno do presidente.
“O PSL fará bem para o Presidente Bolsonaro e Bolsonaro fará muito bem ao PSL”, afirmou.
Bolsonaro está sem partido desde novembro de 2019, quando se desfiliou do PSL após um racha interno. Na época, a sigla ficou dividida entre uma ala bolsonarista e uma ala bivarista, mais alinhada ao presidente nacional do partido, Luciano Bivar (PSL).
Seguindo o chefe do Executivo, alguns políticos também deixaram a legenda para se filiar à Aliança pelo Brasil, partido que seria criado pelo presidente em 2020. Mas a Aliança pelo Brasil ainda não saiu do papel, e dificilmente será concretizada a tempo para as eleições de 2022.
Com a tentativa frustrada de criar o próprio partido, Bolsonaro tem conversado com algumas legendas em busca de uma filiação. Na última quinta-feira (11), durante uma live, ele disse que vai decidir o futuro político até o fim de março e admitiu negociações com o PSL, partido pelo qual foi eleito em 2018.
A hipótese não é totalmente descartada por BIvar. Mas, de acordo com o presidente do partido, caso haja uma reaproximação, o retorno de Bolsonaro à legenda vai ser analisado pelos filiados e não pela Executiva nacional. Isso, contudo, leva tempo, como ele mesmo afirmou.
No Espírito Santo, um eventual retorno de Bolsonaro ao partido é visto com bons olhos por Alexandre Quintino. O deputado afirma que o diretório recebe bem essa possibilidade, e que isso fortaleceria a sigla. “O PSL só tem essa musculatura política hoje por causa de Bolsonaro", opina.
O secretário-geral do partido, Amarildo Lovato (PSL), compartilha da opinião. Para ele, o PSL no Estado se fortalece com a filiação de Bolsonaro, apesar de ele ter dúvidas sobre a volta do presidente.
"Existe uma ala muito forte do partido, em nível nacional, que quer trazer Bolsonaro de volta. Eu só acredito depois que ele estiver filiado; é uma pessoa instável. Mas é claro que todo mundo quer um presidente da República no partido. E isso soma muito, ajuda a crescer o PSL aqui no Estado”, pontuou.
Quando Bolsonaro se desfiliou do PSL, era Amarildo Lovato quem liderava o partido no Estado. Aliado do presidente, ele deixou clara sua fidelidade ao mandatário, mas foi substituído na presidência pelo deputado estadual Alexandre Quintino, em março de 2020. A mudança foi feita em acordo com Luciano Bivar, e a Lovato foi garantida a sigla para concorrer às eleições em Vila Velha.
A mudança no diretório estadual também levou a um racha no PSL no Estado. O deputado Danilo Bahiense, que era líder do partido na Assembleia Legislativa, renunciou à posição. Logo depois, o parlamentar entrou com um processo de desfiliação, sendo autorizado pela Justiça a sair da legenda sem perder o mandato.
À frente do PSL, Quintino deu uma nova cara ao partido. Diferentemente de seu antecessor, não se mostrou um grande defensor do presidente, e tem se aliado cada vez mais ao governador Renato Casagrande, mantendo diálogo e parceria com siglas de centro-esquerda.
Se Bolsonaro voltar mesmo para o PSL, há quem aposte em mudanças no diretório. "Acho que essa relação que Quintino desenvolveu com Casagrande pode ser colocada na mesa, porque vai de encontro à essência do partido, que é conservador, de direita. Acho que, nesse sentido, Amarildo até poderia voltar a assumir a presidência", declarou um filiado.
Amarildo, contudo, não vê a relação de Quintino com Casagrande como um problema para o partido. “O PSL sempre teve muita autonomia nos Estados, então não acredito que haja um impacto nas relações políticas que o partido tem aqui", declarou.
Quintino reforça o discurso de Amarildo. Para ele, o retorno de Bolsonaro ao PSL não impediria uma aliança com Casagrande ou afastaria o partido do governo estadual.
“Não acho que teria mal-estar algum, ou impactaria o PSL no Estado. Estou à disposição do PSL. Presidindo ou não, sou um soldado do partido", finalizou.
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