A novela protagonizada por Jair Bolsonaro (sem partido) e o PSL, partido pelo qual o presidente da República se elegeu, pode estar prestes a ganhar um novo capítulo. Bolsonaro deixou a sigla em novembro do ano passado, afirmando que criaria uma legenda. O divórcio aconteceu após desavenças com o presidente nacional do PSL, Luciano Bivar. Onze meses se passaram e agora, sem força para tirar o Aliança pelo Brasil do papel, o presidente voltou a dialogar com membros do antigo partido para reatar o namoro.
Essa possível reconciliação foi recebida com alegria por bolsonaristas que permanecem no PSL, mas pode causar desconforto e enfraquecer pontes construídas pelo partido no Espírito Santo. O diretório estadual da legenda também passou por um racha após a saída do presidente e, desde então, tem buscado diálogo com partidos de centro-esquerda.
Em âmbito nacional, duas grandes alas se formaram no PSL entre bolsonaristas e apoiadores de Bivar, que romperam com a família Bolsonaro. Em reunião com deputados do PSL, Bolsonaro afirmou que discutirá o eventual retorno ao partido somente após a eleição à presidência da Câmara dos Deputados, no início do ano que vem. Bivar, por meio de interlocutores, já mandou avisar: Bolsonaro até pode voltar, mas só se desistir de vez do Aliança pelo Brasil, como registrou o jornal "O Globo".
Enquanto isso, em terras capixabas, Amarildo Lovato, liderava a sigla no momento do desembarque de Bolsonaro. Aliado do presidente, ele deixou clara sua fidelidade ao mandatário, mas foi substituído na presidência pelo deputado estadual Alexandre Quintino.
Atual vice-presidente estadual e presidente da Executiva municipal em Vila Velha, Lovato afirma que a decisão já está tomada por parte do presidente e do partido. Vai somar muito o retorno dele para o PSL. Ele é PSL de coração, a gente percebe que ele tem a ideologia que casa com o nosso partido, afirma.
Apenas quatro meses se passaram entre a briga de Bolsonaro e Bivar e a saída de Lovato da presidência da sigla no Estado, determinada pelo presidente nacional. Ele garante, no entanto, que o diálogo entre Bivar e Bolsonaro já foi recuperado.
Na ocasião, o próprio Amarildo informou aos correligionários da saída, por meio de uma mensagem. "Comunico a todos que não estou mais presidente do PSL17", iniciou o texto. Após acrescentar que Quintino seria o responsável pela cadeira, ele orienta os presidentes municipais da sigla a procurar Quintino para as definições eleitorais deste ano e se despede:"Peço desculpa a todos, mas infelizmente a vida é assim. Boa sorte a todos e contem sempre comigo."
A troca teria sido motivada pelo interesse de Bivar em não dar legenda para pré-candidatos bolsonaristas, que poderiam trocar o partido pelo Aliança pelo Brasil após a criação da nova sigla. Ao que tudo indica, a preocupação continua. De acordo com a coluna Lauro Jardim, do O Globo, publicada neste domingo (30), Bivar teria enviado um recado para o presidente: a porta estaria aberta, desde que o mandatário desista, formalmente, da criação do novo partido.
Diferentemente de seu antecessor, Quintino tem se aliado ao governador Renato Casagrande (PSB) e mantido diálogo e parceria com siglas de centro-esquerda como PSB e Cidadania.
Lovato sustenta que, apesar das diferenças e da clara divisão, ambos convivem bem. Eu e Quintino vivemos em paz, só deixo claro para ele que sou Bolsonaro, defendo o projeto do Bolsonaro, aponta. Em ano eleitoral, em que o PSL está, inclusive, integrando chapas de partidos de centro-esquerda, foi preciso fazer acordos para desenhar as campanhas.
Dentro do estadual o partido tem alas mais bolsonaristas e alguns municípios que o Quintino pediu pra colocar junto com o partido do governador. Alguns municípios vão caminhar com o PSB, em outros não vamos caminhar com Renato [Casagrande].
A própria direita capixaba é marcada por rachas e desentendimentos. Antes mesmo de ser criado, o partido de Bolsonaro já sofria com desavenças entre os militantes.
Devido à proximidade da campanha, membros do PSL e do PSB acreditam que as alianças não serão afetadas pelo suposto retorno de Bolsonaro. Para Lovato e outros pré-candidatos pelo PSL, a própria possibilidade já pode influenciar na hora de angariar votos.
Quintino, responsável pelas candidaturas que vão caminhar com Renato, não quis comentar o assunto. Não dá pra trabalhar em cima de suposição, do que pode acontecer, vamos esperar acontecer primeiro. Não dá pra trabalhar em cima de hipótese, não, disse.
Torino Marques (PSL), um dos dois deputados estaduais que continuam na sigla mas que não poupa críticas à gestão de Quintino e chegou a dizer que só estava no partido porque é impedido pela legislação de se desfiliar se diz feliz com a possibilidade por acreditar que ele nunca deveria ter saído e sua volta pode fortalecer a sigla.
No início da legislatura, o partido tinha uma das maiores bancadas na Assembleia Legislativa. Ao longo dos desentendimentos, no entanto, Capitão Assumção (Patriota), bolsonarista de carteirinha, foi expulso da sigla em uma espécie de acordo e Danilo Bahiense (sem partido) se desfiliou com desavenças tanto com Lovato quanto com Quintino.
As possíveis consequências desse retorno para os rumos do partido no Estado, para Torino, vão depender das conversas em Brasília. Não sei o que Bolsonaro está pedindo em troca para voltar. Com certeza ele vai pedir algo. Questionado se o presidente poderia exigir que o partido se afastasse de siglas de centro-esquerda, o deputado não hesitou em responder poderia ser, não só isso mas outras questões que ele poderia pedir. Realmente não sei como estão as conversas.
As coligações criadas por Quintino podem surpreender, uma vez que, mesmo sem Bolsonaro, o PSL se considera uma sigla de direita. Grupos conservadores no Estado já fizeram, inclusive, campanhas para que candidatos aliados a Casagrande e partidos de esquerda não recebam votos. Do outro lado da moeda, o PSB tem se posicionado abertamente contra a gestão de Bolsonaro e, inclusive, se manifestou a favor impeachment do mandatário.
Para Alberto Gavini, presidente estadual do PSB, a volta de Bolsonaro não é algo tão certo. Ele ressalta que a parceria no Estado foi construída por causa de Quintino, que conseguiu inclusive o apoio do partido socialista para candidatos do PSL no interior, e, por mais que o partido não tenha nada contra o PSL, é contra a política adotada pelo presidente. A maior parte das coisas que ele faz contrapõe o que o PSB acredita, pontua.
Talvez por isso ele prefira sustentar que isso não vai acontecer, ele não vai voltar para o PSL. Mas, se ele voltar, vai ser muito ruim para o PSB, diz Gavini, após um longo suspiro.
Por enquanto, as pontes construídas permanecem fortes e, provavelmente, vão sobreviver ao período eleitoral deste ano. Para essa eleição não tem como mudar muita coisa, mas temos até o dia 26 de setembro para fazer as alterações necessárias, finaliza.
Outro partido que tem se aproximado do PSL de Quintino é o Cidadania. Antigo PPS Partido Popular Socialista a sigla teve origem na esquerda clássica, derivando do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Na Capital, o pré-candidato à prefeitura e presidente estadual do Cidadania, Fabrício Gandini, anunciou como vice na chapa o vereador Nathan Medeiros, que era do PSB e mudou para o PSL. A coligação entre Cidadania e PSL foi arquitetada entre os deputados estaduais Gandini e Quintino, o que mostra que o diálogo entre as siglas, aparentemente, divergentes tem dado resultado.
A reportagem procurou Gandini e Nathan Medeiros para comentar a provável volta de Bolsonaro, mas até a publicação desta reportagem não teve respostas.
Bolsonaro já passou por oito partidos ao longo de sua vida pública entre eles o PP e o PTB, bases do Centrão. Ele costuma ficar, em média, 4 anos em cada sigla. Além de Bolsonaro, dois de seus filhos também deixaram o PSL além de nomes conhecidos da política capixaba, como Carlos Manato (sem partido).
Manato chegou a trabalhar no recolhimento de assinaturas para a criação do Aliança pelo Brasil. Sua esposa, Soraya Manato, é deputada federal pela sigla. Assim como Eduardo Bolsonaro, Soraya não poderia deixar o PSL devido a uma vedação presente na legislação, que não autoriza a troca de partidos durante o mandato sem justa causa.
O vereador do Rio Carlos Bolsonaro, que estava no PSC, aproveitou a janela partidária para vereadores este ano e migrou para o Republicanos. O senador Flávio Bolsonaro que, como ocupante de cargo majoritário, pode mudar de partido a qualquer momento, deixou o PSL e também foi para o Republicanos.
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