Em meio a uma disputa extremamente polarizada e ao temor de que um determinado candidato à Presidência suba a rampa do Planalto, muitos eleitores acabam optando pelo chamado voto útil, um trunfo que pode contribuir para definir o pleito em outubro. Nas Eleições 2022, os nomes de Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) têm rivalizado nas primeiras colocações na preferência do eleitorado, mas também na rejeição. Para garantir a vitória, a campanha de ambos luta para capturar os votos de centro.
O voto útil, ou estratégico, é aquele dado não ao candidato com o qual o eleitor mais de identifica, mas a quem possa evitar a vitória do adversário, considerado uma alternativa ainda pior. Nesses casos, a rejeição a um perfil têm mais peso na decisão do que a afinidade com um postulante ao cargo.
A cientista política e professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Marta Zorzal destaca que o voto de um eleitor é definido a partir de inúmeras e diferentes variáveis. Entre elas, estão contexto social, concepção ideológica, o grau de credibilidade dado às instituições, pesquisas eleitorais e interesses próprios. Com o voto útil, não são esses fatores que mais pesam na hora da escolha.
“O chamado voto útil é estratégico. Um eleitor pode votar em um candidato ou partido a fim de evitar outro que ele detesta muito, mesmo que ele prefira o partido A ou candidato A, ele sente que estará desperdiçando seu voto, porque entende que esse candidato não tem chance de vencer. Então ele vai votar em B ou C, optando pelo que considera ‘menos pior’. Ele pode não gostar de nenhum dos dois, mas vai escolher o que detesta menos.”
Ela observa que a prática, que não ocorre apenas no Brasil, é mais comum no segundo turno das eleições, quando as opções são reduzidas a dois candidatos. Na primeira fase do pleito, muitos ainda tentam eleger o candidato com quem mais se identificam. Ainda assim, dado o cenário de polarização exagerada nas Eleições 2022, essa estratégia pode mudar.
As últimas pesquisas de intenção de votos, realizadas por diferentes institutos, mostram que a competição está mais favorável ao candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Entretanto, não o suficiente para uma vitória em primeiro turno. É na alta rejeição a Jair Bolsonaro (PL) e nos eleitores indecisos que o candidato têm mirado, para tentar aumentar a vantagem.
Não é uma tática exclusiva da campanha petista, no entanto. O atual presidente também a utiliza, ao apostar na parcela do eleitorado que tem alta rejeição ao nome de Lula, ao Partido dos Trabalhadores ou às legendas mais à esquerda do espectro político. À sua maneira, cada um fomenta a ideia de que é único capaz de derrotar o oponente, desconsiderando a possibilidade de uma terceira via.
A cientista política frisa que, na realidade, o que os candidatos tentam é capturar esses eleitores dispersos, que depositariam 2%, 5%, 8% dos votos em outros nomes. “Com essa polarização tão forte, muitos já querem usar esse voto estratégico no primeiro turno. Já tentam fazer com que os eleitores do Ciro, por exemplo, usem o voto [em Lula], para não ter que ver Bolsonaro em um segundo turno.”
A professora de Direito Constitucional e Processo Legislativo da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio Ana Luiza Couto pondera, que, a menos de dois meses do primeiro turno das eleições, é difícil que um terceiro candidato consiga elevar significativamente seu percentual de votos para disputar de forma competitiva.
Mas, por si só, isso não é determinante. Segundo a especialista, outros fatores também devem ser considerados, pois podem impactar os resultados, como o pacote de benesses criado recentemente pelo presidente Jair Bolsonaro.
“No atual momento, as pesquisas não apontam ainda um ganho real por causa dessas benesses que o governo federal vem oferecendo para tentar se fortalecer. De agora para frente, vamos começar a perceber se essas medidas trouxeram mais aprovação por parte de um segmento, ajudando a equilibrar um pouco mais. Nosso país, historicamente, tem muito voto de gratidão, e as próximas pesquisas podem apontá-los.”
Outro tipo de voto que deve ser considerado, de acordo com a jurista, é o chamado “voto de devoção”, resultante do que considera ser uma “aproximação inquietante e indevida” entre política e religião, fortalecida durante o governo atual.
“É um voto que parece que se mantém estável. Mas, no fim, parece que também teremos que cogitar a escolha difícil. No nosso país, as pessoas não votam em partidos, não votam em projetos, votam em pessoas criadas por projetos articulados.”
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