Na Serra, único município capixaba onde as eleições 2024 vão acabar apenas no dia 27 deste mês — data do segundo turno do pleito municipal —, os dois concorrentes que seguem na disputa pela Prefeitura, Weverson Meireles (PDT) e Pablo Muribeca (Republicanos), vão brigar por pouco mais de 105 mil votos. Esse é o número de eleitores que escolheram outros candidatos na cidade, votaram em branco ou anularam o voto.
Weverson, primeiro colocado na votação realizada neste domingo (6) e candidato de Sergio Vidigal (PDT), atual mandatário do município serrano, recebeu 97.087 votos no primeiro turno das eleições. Já o deputado estadual que também garantiu participação na segunda partida do jogo eleitoral conquistou 61.690 eleitores — 35.397 a menos em comparação ao pedetista.
Considerando que os eleitores que levaram ambos os candidatos para a próxima etapa da corrida eleitoral não mudem de ideia até o fim do mês, os postulantes precisam converter os 58.643 votos recebidos pelo ex-prefeito Audifax Barcelos (PP) somados aos 18.751 depositados em Igor Elson (PL), 7.513 no Professor Roberto Carlos (PT), 919 em Wylson Zon (Novo) e os 175 em Antonio Bungenstab (PRTB) a seu favor. Além disso, os concorrentes também devem tentar convencer os 10.270 cidadãos que votaram em branco e os 9.132 que votaram nulo a depositarem a confiança neles.
O resultado exato desta conta é 105.403. O número demonstra a quantidade de possíveis votos que podem ir tanto para Weverson quanto para Muribeca no segundo turno. Não são considerados, aqui, as 98.344 abstenções pois não é possível prever quantos dos eleitores que não votaram no primeiro turno, votarão no segundo. No entanto, há alguns fatores a serem considerados que podem influenciar a decisão do eleitor e a migração dos votos.
O primeiro é que a taxa de conversão (a “virada” de votos) do deputado precisa ser muito maior para garantir a vitória, visto que ele recebeu 25,20% dos votos ante 39,66% do pedetista. Para o cientista político João Victor Santos, este é um desafio significativo para Muribeca, visto que o perfil dele difere do que a população da Serra está acostumada.
“O Muribeca tem um perfil mais extremista, que é diferente do que a Serra conhece há quase 30 anos com Audifax e Vidigal no poder. Mas ao mesmo tempo em que ele é extremista em algumas ações, ele se provou uma figura popular”, explica o cientista político, que avalia ser preciso uma sinalização aos eleitores de centro.
Segundo Santos, o fato da candidatura de Muribeca estar na direita, dialogando muito pouco com o centro e menos ainda com a esquerda, pode dificultar a conquista de votos necessários. “Para vencer, a cada 10 votos ele tem que conseguir 7, além de manter os que ele já recebeu”, contabiliza o cientista político.
O candidato do atual mandatário, por outro lado, precisa “virar” uma menor quantidade de votos para conquistar o comando da Serra. Além disso, como explica Santos, ele tem alguns facilitadores. “Além de ter a máquina da Prefeitura na mão, já que o Vidigal é cabo eleitoral dele, Weverson já tem um comportamento mais de centro, ideologicamente falando”.
Apesar de ser uma figura nova no cenário, Weverson Meireles carrega o histórico político do município ao ser lançado por Vidigal, que se alterna no poder com Audifax desde 1997, quando o atual prefeito assumiu o cargo pela primeira vez. Por isso, Santos considera que o perfil do pedetista pode ser mais compatível com o que a população espera do próximo chefe do Executivo municipal.
“O perfil eleitoral do Audifax e do Vidigal é muito semelhante. O eleitorado dos dois é parecido. Então, o Weverson vem carregado dessa história recente da Serra, mas ao mesmo tempo é novo. E por isso esta é uma disputa de novidade no município. Porém, o Weverson, além de manter os votos que já recebeu, precisa virar apenas 3 a cada 10 para vencer o segundo turno”, reflete o cientista político.
Outro fator importante para esta nova etapa do pleito municipal é o apoio dos perdedores, em especial o de Audifax, escolhido por quase 24% dos moradores da Serra no dia 6 de outubro.
Santos considera que, por mais que Weverson, como sucessor de Vidigal, possa ser visto como um adversário por uma parte do eleitorado do ex-prefeito, ele também representa uma gestão já conhecida, o que pode ser atraente para outros eleitores que pretendiam reconduzir Audifax ao cargo.
“O apoio do Audifax é muito esperado, mas muito mais do campo político do que do campo eleitoral. Essa expectativa sobre a decisão do ex-prefeito diz respeito ao histórico que ele tem de disputa com o grupo do Vidigal, mas também sobre o que ele pensa para a Serra”.
Ao mesmo tempo, aqueles que depositaram os votos nos “extremos” da disputa, devem seguir a mesma ideologia defendida na primeira votação. “Os votos dos polos tendem a seguir os mesmos critérios que levaram as pessoas a votarem nessas candidaturas no primeiro turno. Os do Igor Elson (votado por 7,66% dos eleitores), muito provavelmente, devem migrar para o Pablo Muribeca. E essa é a tendência até porque o deputado já sinalizava para esse eleitor mais bolsonarista, conservador e religioso”, explica o cientista político.
Já os eleitores que escolheram o candidato do PT, Professor Roberto Carlos, podem migrar com mais intensidade para Weverson, até mesmo porque o próprio partido da esquerda já declarou estar ao lado do pedetista. Para Santos, inclusive, isso pode ter acontecido já durante a primeira parte do processo eleitoral, visto que, de acordo com ele, a campanha do petista estava desidratada e, por isso, o concorrente recebeu poucos votos (3,07%).
Por mais que o posicionamento dos candidatos que ficaram de fora da segunda batalha eleitoral seja esperado pelos que ainda disputam o cargo, o cientista político acredita que, em eleições municipais, o apoio dos derrotados é muito mais simbólico do que efetivo politicamente.
“No segundo turno, o eleitorado dificilmente segue a tendência do seu candidato. O voto municipal é mais influenciado pelo dia a dia da cidade. A população se preocupa mais com o recolhimento do lixo, a fila no posto de saúde… O voto ideológico fica mais no campo das eleições gerais (quando são escolhidos o Presidente da República e os governadores dos Estados)”, argumenta Santos.
No entanto, a influência dos outros políticos não é descartada e pode ajudar na conquista dos eleitores indecisos, que não rejeitam nem apoiam os concorrentes. Essa parte do eleitorado, inclusive, pode ser fundamental para garantir uma vitória. Santos comenta que é mais fácil conquistar os indecisos e aqueles que votaram nulo ou branco no primeiro turno, do que aqueles que rejeitam um candidato.
A rejeição (quando um eleitor diz que não votaria de jeito nenhum em um candidato) também deve ser considerada para o cálculo dos votos que ainda podem ser conquistados. Quanto mais alta a rejeição for, menores são as chances de converter eleitores que já definiram seu voto previamente.
De acordo com o levantamento Ipec sobre o cenário eleitoral da Serra, contratado pela Rede Gazeta e divulgado às vésperas do primeiro turno da eleição, Weverson é o postulante menos rejeitado no município: apenas 13% dos consultados não votariam nele. Enquanto isso, Muribeca é rejeitado por 22% dos eleitores da cidade capixaba.
Ambos os índices são, para Santos, baixos, mas ainda podem ter efeitos visíveis e decisivos. O fato de os dois candidatos serem pouco conhecidos pela população é um possível motivo para a baixa rejeição, que pode aumentar conforme se intensificam as ações de campanha voltadas para o segundo turno, pontua o cientista político.
Tais atividades são, também, fundamentais para a obtenção dos votos pelos quais o pedetista e o republicano brigam. As conversas com eleitores nas ruas da cidade, as peças de campanha que circulam física e digitalmente, a divulgação das propostas e ideais em debates e outras agendas públicas podem impulsionar ou desfavorecer os adversários.
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