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O juçara, o açaí capixaba, vira fonte de renda em Rio Novo do Sul

O juçara, o açaí capixaba, vira fonte de renda em Rio Novo do Sul

Fruto da palmeira tem se popularizado. É uma iguaria da Mata Altântica que tem mais vitaminas e antioxidantes que o tradicional açaí do Norte do país

Publicado em 3 de dezembro de 2019 às 12:55

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Para os produtores, o mercado do juçara tem tudo para crescer e se fortalecer no Espírito Santo e em toda a região do Sudeste. (Reprodução/ TV Gazeta Sul )

Se você costuma consumir polpa ou creme de açaí na Região Metropolitana de Vitória, provavelmente, já consumiu o juçara, produzido em Rio Novo do Sul. O município do Sul do Estado é o principal produtor do Estado e a Capital é o destino certo do fruto que é confundido com o açaí da Amazônia.

Em Rio Novo do Sul, o beneficiamento do fruto é feito por agroindústrias que descobriram o juçara há 20 anos, quando dois agricultores que trabalhavam com as tradicionais culturas de banana, café e leite conheceram uma pessoa da região Norte do Brasil, que apresentou a forma como era consumido o açaí.

Em Rio Novo do Sul, o beneficiamento do fruto é feito por agroindústrias que descobriram o juçara há 20 anos. (Divulgação/Família Bortolotti)

Ainda sem muito conhecimento, a extração começou de forma informal. Antes, a palmeira do juçara só era consumida como palmito doce e o fruto era descartado. Com o passar do tempo, a produção foi crescendo e hoje, é a única atividade econômica da família Bortolotti, no interior de Rio Novo do Sul.

“O negócio foi tomando proporções maiores, conseguimos novos clientes e, com isso, chegou o momento que a formalização foi obrigatória para ampliar o mercado e estabelecer a nossa empresa para alcançar novos patamares. O processo de formalização incluiu a melhoria da mão de obra, dos processos internos e da compra e venda”, conta o produtor Vicente Bortolotti, que trabalha com a participação dos três filho na agroindústria.

JUÇARA É DIFERENTE DO AÇAÍ

Como a maioria das pessoas desconhece a existência do juçara, muita gente consome como açaí, mas os frutos são diferentes.

“A diferença entre as duas palmeiras, além do bioma, que um é da Mata Atlântica e o outro da Amazônia, é que o açaí dá vários tronquinhos com mais caule e o juçara dá um caule só, então, se você cortar o juçara para tirar o palmito, você mata a planta”, explica a bióloga e pesquisadora de produtos florestais do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Fabiana Gomes Ruas. Ela destaca ainda que o juçara tem mais vitaminas e antioxidantes, por isso é até uma injustiça comercializar como açaí, já que se trata de um fruto mais nobre nutricionalmente.

Para acabar com essa mistura de nomes entre os frutos e evitar que os produtores vendam juçara como açaí, o Incaper está trabalhando para incentivar a valorização do fruto. Em 2013, foi criada uma instrução normativa que autoriza colher o fruto e dá algumas orientações, como na hora da colheita que precisa deixar um cacho na planta para manter a produção.

“Estamos trabalhando para criar a identidade própria do fruto e não ficar ‘pegando carona’ no açaí. A gente explica que é um fruto muito semelhante, de mesmo uso, mas que são diferentes e que há espaço no mercado para as duas opções”, reforça Fabiana.

Gustavo Bortolotti, que trabalha com o pai na agroindústria, diz que para eles será ainda melhor quando os consumidores tiverem todas as informações sobre o juçara. “A nossa agroindústria nasceu com o juçara, e essa é a principal via que escolhemos para trabalhar. A gente nunca quis se apoderar do nome açaí, a nossa visão é que o produto seja conhecido como juçara.”

POUCOS PRODUTORES SÃO LEGALIZADOS

“Essa é a barreira que precisamos enfrentar. Temos produtor colhendo juçara no nosso Estado, mas poucos são legalizados e, por isso, usam o nome de açaí. Eles têm medo de falar que comercializam juçara porque é um fruto da Mata Atlântica e a planta é ameaçada de extinção, mas para colher legalmente é só o produtor procurar o Incaper ou o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf) e fazer um planejamento de manejo simplificado, que é simples”, esclarece Fabiana

Cultivo é rentável para propriedades no Estado

Para os produtores, o mercado do juçara tem tudo para crescer e se fortalecer no Espírito Santo e em toda a região do Sudeste.

“São vários os fatores que levam a gente responder que o mercado é promissor e que tem muita chance de melhorar. Primeiro porque o consumo de açaí cresceu muito na região, e o juçara se beneficiou com isso; segundo porque as pessoas estão conhecendo o juçara; e terceiro que agora há pesquisa sobre o fruto, inclusive mostrando que é mais completo que o próprio açaí”, garante Gustavo.

A bióloga do Incaper, Fabiana Gomes Ruas, garante ainda que além de rentável o juçara é um fruto simples de manter nas propriedades. “A produção é muito rentável, vale a pena, ainda mais porque é uma planta que não exige tantos cuidados, aguenta sombreamento do interior da mata, e aqui no Estado é 100% Mata Atlântica, então ela se adapta em muitos municípios. É até uma oportunidade que o produtor tem para tirar renda da sua mata.”

De acordo com o Incaper, não existe um levantamento específico do juçara no Espírito Santo, e por enquanto, Rio Novo do Sul é o que mais produz e comercializa. (Divulgação/Família Bortolotti)

Quem tiver frutos em diferentes idades de desenvolvimento pode colher o juçara o ano todo. Caso todas as plantas sejam da mesma idade, a colheita pode ser a cada quatro meses, de acordo com o Incaper.

REGISTRO

O fruto ainda não está registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por isso alguns produtores ainda comercializam como açaí. De acordo com o Incaper, não existe um levantamento específico do juçara no Espírito Santo, e por enquanto, o município de Rio Novo do Sul é o que mais produz e comercializa, seguido por Santa Teresa.

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O trabalho para que o juçara seja oficialmente reconhecido está em andamento. “A gente já deu muitos passos nesta direção, o que falta mesmo é juntar com o Ministério da Agricultura para registrar esse produto novo e os produtores também enfrentarem essa condição de lançá-lo e não ficarem comercializando como um produto que já está consolidado, como o açaí”, ressalta Fabiana

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