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'Só sobrou meu canudo', diz advogada que perdeu casa após chuva no ES

"Só sobrou meu canudo", diz advogada que perdeu casa após chuva no ES

A casa de Carla Magnago foi destruída pela chuva que atingiu o município de Alfredo Chaves, no Sul do Estado

Publicado em 23 de janeiro de 2020 às 21:53

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Carla mostra o canudo da faculdade de Direito, uma das poucas coisas que restou da casa dela após a chuva em Alfredo Chaves. (Reprodução/Instagram)

O canudo do curso de Direito da Universidade Federal do Espírito Santo. Este foi um dos poucos objetos que restaram da casa da advogada Carla Magnago, 28 anos, após a destruição provocada pela chuva que atingiu o município de Alfredo Chaves, no dia 17 de janeiro. O imóvel foi tomado pela água barrenta, que quase ultrapassou a marca da porta.

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No dia seguinte, tinha mais de meio metro de lama no meu quarto. Não dava para achar nada. Mas pela janela, minha amiga viu a ponta de um objeto no meio da destruição. Quando ela me mostrou, eu falei: 'é meu canudo, pega pra mim'

Carla Magnago
Advogada
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Com o canudo em mãos, Carla postou uma foto nas redes sociais. No post, que viralizou, a advogada desabafou, em tom de revolta, sobre a dor de ver a cidade natal sendo destruída pela "maior enchente da história do município", fruto da ganância do homem. 

"Em poucos anos a natureza que vem sendo pisoteada pelo nosso município levará a nossa cidade do mapa. A natureza cobra. Aí ficarão meia dúzia de herdeiros construindo prédios pra ninguém morar, porque até lá terão matado todo mundo. Comam dinheiro e bebam lama, vocês venceram", diz Carla na publicação. Confira o post completo abaixo:

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O que sobrou da minha casa. Meu Grau de Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo. Alfredo Chaves, 19 de janeiro de 2020, na maior enchente da história do Município, fruto da ganância de empreiteiros que socaram prédios numa cidade de cultura histórica, derrubando casas com séculos de história viva pra subir prédios sem vagas nas garagens para os carros que superlotam as ruas da cidade estacionados e impedem também qualquer chance de turismo local. De pecuaristas que comeram as matas pra criar gado. De empresários que só pensam no próprio bolso e estão acabando com o Plano Urbano e Arquitetônico de nossa cidade enfiando aterros, condomínios e loteamentos. Fruto de obras claramente irregulares. Fruto de crimes ambientais de todo tipo que prescrevem! Fruto de construções desenfreadas que atendem a uma parcela muito bem definida de privilegiados locais. Fruto de descaso, de negligência. Fruto de irresponsabilidade e corrupção. Fruto da inércia dos órgãos fiscalizadores. Fruto do profundo despreparo de gente que não sabe planejar a cidade, mas que é encarregado de fazê-lo. Fruto da ausência de uma economia sustentável. Fruto da abertura desenfreada de estradas por gente que se pudesse defecaria no próximo. Fruto de diversas alterações irregulares do curso do nosso rio. Fruto da total ausência de contenção e contingência de uma tragédia anunciada. Fruto de um plano de ação mesquinho, egoista e burro para a especulação imobiliária milionária que em dez anos contribuiu para a ocorrência de duas catástrofes de enormes proporções com vítimas fatais. Fruto de alterações climáticas que a ganância provocou. Em poucos anos a natureza que vem sendo pisoteada pelo nosso município levará a nossa cidade do mapa. A natureza cobra. Aí ficarão meia dúzia de herdeiros construindo prédios pra ninguém morar, porque até lá terão matado todo mundo. Comam dinheiro e bebam lama, vocês venceram.

Uma publicação compartilhada por Carla Joana Magnago (@carlajoanamagnago) em

Carla nasceu e cresceu em Alfredo Chaves, cidade onde os pais ainda moram. Atualmente, ela mora em Vitória, onde trabalha como advogada. Na hora da chuva ela era informada, por telefone, sobre o cenário de destruição. Uma cena que ela jamais imaginava encontrar quando chegou no município, no dia seguinte. 

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Eu fui levar mantimentos e água para minha família. Mas quando eu cheguei lá, o cenário era pior do que eu imaginava. Não dava para entrar na garagem, foi parar moto, bicicleta, móveis. Eu nunca tinha visto algo parecido, foi assustador

Carla Magnago
Advogada
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Para a advogada, destruições como as que aconteceram no Sul do Estado podem ser minimizadas se houver mais responsabilidade e fiscalização na ocupação de cidades.

"Eu sei que a força da natureza é incontrolável, mas a ação humana vem contribuindo para esta destruição. Dez anos atrás, isso não teria acontecido. Mas começaram a destruir a vegetação, a fazer aterros, loteamentos, construir prédio em cima de prédio e essa foi a consequência. A gente precisa pensar no futuro e o que fazer para minimizar esses efeitos, porque senão vai acontecer de novo", finalizou.

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