Estúdio Gazeta
Green House Psiquiatria
Começa com uma cervejinha com os amigos num final de semana. Depois, a vontade de beber em casa, após o trabalho. Ah, mas a rotina está pesada! Melhor um drinque para relaxar, aliviar as tensões. Logo, é preciso uma dose todos os dias para aguentar a barra. Está instalada a dependência.
Não é fraqueza, falta de caráter ou de fé. A relação com a bebida alcoólica é mais complicada. Assim como não é simples a dependência de qualquer que seja a substância. Mas a maneira como a pessoa consome a droga, seja o álcool, seja um medicamento, é quase sempre vista de forma muito estigmatizada.
“O preconceito relacionado ao tema advém de um conjunto de fatores, dentre eles a influência cultural, gerando estigma, além da deficiência de informação adequada para compreensão de que se tratam de problemas de saúde como qualquer problema de saúde clínico, como uma hipertensão, um diabetes. Trata-se de transtornos relacionados ao cérebro e seus comportamentos, com tratamentos atualmente bem descritos e com importantes evidências científicas terapêuticas, muitas vezes de características crônicas”, explica o psiquiatra Edson Kruger, da Green House Psiquiatria, um grupo privado que atua na área de Psiquiatria desde 2013, como referência em tratamento de alta complexidade no Espírito Santo.
Vencer esse preconceito é mais uma batalha para um dependente químico. E, segundo Kruger, faz parte da realidade também das pessoas com transtornos psiquiátricos.
É preciso, diz o médico, derrubar certos mitos sobre o tema, que prejudicam muito a vida de quem está lutando por sua saúde mental. Um desses mitos diz respeito às contribuições genéticas ao vício ou ao transtorno psiquiátrico.
“A maior parte das doenças ou transtornos possui uma relação genética bem descrita pela literatura. No entanto, apesar do componente genético/hereditário, a exposição a fatores de risco ou a influência do meio ambiente ao longo da vida é um importante agente que facilita o desencadeamento de doenças”, observa o psiquiatra.
Também é falso deduzir que a pessoa com dependência química ou um transtorno psiquiátrico não tem vontade de se tratar. O médico Edson Kruger lembra que esses problemas necessitam de uma intervenção médica e, muitas vezes, de outros profissionais. “Do ponto de vista técnico-científico, transtornos mentais, incluindo as dependências químicas, são problemas de saúde que necessitam de uma avaliação médica para melhor direcionamento terapêutico”.
O tratamento da dependência química, complementa ele, envolve uma dinâmica terapêutica de característica multidisciplinar, com suporte de áreas distintas de cuidado para uma melhor adesão e resposta terapêutica.
“Trata-se de um transtorno com características de cronicidade, em sua grande maioria associado a outro transtorno mental que necessita ser tratado, como transtornos do humor, ansiedade, déficit de atenção/hiperatividade, cognitivo, dentre outros. Esta característica multidisciplinar, associada à cronicidade comportamental e dificuldade em adesão, podem gerar obstáculos à continuidade do tratamento”, destaca o médico.
A partir de uma primeira avaliação, o plano terapêutico deverá ser analisado, podendo ser ambulatorial, em hospital dia ou internação, a depender da avaliação do profissional e o contexto de vida do paciente. Claro que se o indivíduo tem consciência de sua realidade, o tratamento tem mais chance de sucesso.
De acordo com ele, a rede de suporte familiar consiste em um dos pilares essenciais para esses casos. “O engajamento familiar na compreensão do tratamento, o apoio emocional e a disponibilidade dos parentes favorecem o bem-estar ao longo do tratamento. Há situações em que a família necessitará participar mais ativamente do tratamento, conforme orientação do médico responsável”, finaliza o médico.
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