Estúdio Gazeta
Igreja Cristã Maranata
Em seu trabalho diário, a servidora pública federal Patrícia Marques da Silva Nascimento utiliza os seus conhecimentos no Direito para atuar na gestão da informação no Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES). Aos finais de semana, ela inclui uma outra atividade na rotina desde a infância, assim como centenas de outros membros da Igreja Cristã Maranata (ICM): fazer trabalho voluntário.
Atualmente, Patrícia é uma das responsáveis pelo grupo de louvor do Maanaim de Domingos Martins e está sempre presente nos eventos e seminários realizados no local, juntamente com o servidor público da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Rodrigo Oss. Conhecido como “Cidade Maanaim”, ele está situado na região da Mata Atlântica, em Marechal Floriano, Espírito Santo, com capacidade para eventos com até quatro mil pessoas, incluindo espaço para hospedagem e alimentação.
Para que esses eventos aconteçam com sucesso, a ICM conta com um verdadeiro exército de voluntários, muitos vindos até de outros Estados para ajudar. Somente para manter essa estrutura do Maanaim Domingos Martins funcionando nos seminários realizados a cada 15 dias e feriados são necessárias cerca de 40 equipes e 300 voluntários, para atender uma média de 3.000 pessoas, segundo o coordenador das equipes, pastor Marcelo Villela.
Essas equipes se dividem em funções como limpeza, hospedagem, cozinha, operação de som, transmissão na TV, posto médico e bombeiros civis.
Questionada sobre o que a faz dedicar seus finais de semana ao voluntariado na ICM, a servidora do TRE-ES responde de imediato: “gratidão”. Como responsável por organizar a parte técnica dos eventos, separar repertório, entre outras atribuições, ela afirma que também há ensaios antes dos eventos e relata que não é porque são voluntários que todos são leigos.
“Não recebemos nada material, mas espiritualmente recebemos muito. A gente nunca vai pagar o que Deus tem feito por nós. O que nos move é estar sempre trabalhando e o grupo também recebe vários profissionais, tem professores de canto, professoras de violino, pessoas formadas que estudam até hoje, que buscam aperfeiçoamento”, ressalta Patrícia, sobre o grupo de louvor.
Ela e Rodrigo Oss relatam que os ensaios são lotados e quando tem evento de louvor é preciso até cortar pessoas da lista, pois a procura é muito grande entre os interessados em participar da equipe. Eles acrescentam que não é porque são voluntários que não há responsabilidade, muito pelo contrário.
O servidor da Ufes menciona que iniciou sua vida no voluntariado aos 12 anos e só no Maanaim Domingos Martins já são mais de 20 anos de trabalho voluntário. “É algo que monetariamente nós não podemos medir, mas se formos colocar, de fato, o que o Senhor está nos dando, quando nós nos dispomos a vir para o trabalho voluntário, estamos devolvendo. É diferente do trabalho normal, que a gente recebe salário pelo serviço. Aqui, estamos devolvendo para o Senhor, por nos dar tanto”, avalia Oss.
Quem também tem mais anos de voluntariado do que de emprego formal é o pastor Elias Teodoro Beltrame, tenente do Corpo de Bombeiros Militar há 30 anos. Antes de entrar na corporação, ele já atuava como bombeiro civil, na brigada de incêndio da ICM.
Atual coordenador da brigada de incêndio, Beltrame explica que o trabalho envolve a parte de prevenção a incêndios e acidente, primeiros socorros, capturas de animais silvestres, além do trabalho de poda de árvores. “Quem acompanha a equipe de bombeiros voluntários são profissionais de diversas áreas, da área da saúde, da área administrativa, da Polícia Militar de diversos locais do país”, afirma.
Ele disse que atua no Maanaim Domingos Martins há cerca de 33 anos, ou seja, “antes de ser bombeiro militar já tinha começado nessa parte de segurança”. Mas as equipes recebem treinamento para atuar também em eventos de outros Maanains, sendo distribuídas de acordo com a necessidade.
Para a pensionista Cleuza Duke, 76 anos, o trabalho de voluntária na cozinha é sinônimo de alegria. São 38 anos auxiliando na cozinha em eventos no Maanaim Domingos Martins e ela não pretende parar. “Ser voluntária é maravilhoso. É uma alegria quando chega a data de vir e, se passar muito tempo, sinto falta. A gente se dispõe a fazer a obra e o Senhor faz tanto pela vida e pela família da gente”, frisa.
Outro voluntário da ICM há mais de três décadas é o pastor Marcelo Villela, funcionário aposentado da EDP. Além do serviço pastoral, ele atua em outras atividades desde 1986 na “Cidade Maanaim”. Há mais de 20 anos, coordena as equipes de voluntários.
Villela detalha que uma das exigências para ser voluntário na ICM é a pessoa estar ativa na Igreja. “Se você perguntar: qual é o currículo para entrar aqui? É um só: espiritual. A pessoa tem que estar integrada à Igreja, tem que ter uma atividade na Igreja, não pode chegar aqui simplesmente e dizer que quer trabalhar, porque tudo tem um processo”, explica o coordenador das equipes de voluntários do Maanaim Domingos Martins.
Os voluntários que atuam nos seminários não precisam pagar inscrição nos eventos, têm direito a hospedagem, alimentação e transporte. Eles recebem treinamento, conforme as funções a serem desempenhadas, recebem as boas-vindas e são designados para atuar pelo líder da equipe em que se inscreveu.
Cada líder de equipe indica o quantitativo de vagas previstas para o evento, normalmente duas semanas antes, e os interessados podem se inscrever até alcançar o total de postos disponíveis.
Villela garante que, como “na Igreja nada é por obrigação”, consegue equilibrar na sua rotina o trabalho como pastor, como coordenador das equipes - ambos voluntários - e a sua vida pessoal. “Tudo que você faz espontaneamente, o sabor é melhor”, garante.
Quem também garante o mesmo é o servidor do Tribunal de Justiça do Pará e pastor Zeilton Junker Souza. Capixaba de nascimento, ele mora no Pará há 34 anos e sempre que pode vem ao Espírito Santo para participar dos seminários. Onde mora, participa de trabalho social e de evangelização realizado em conjunto com outros voluntários da ICM.
A ICM faz, duas vezes por ano, a Missão Amazônia, um trabalho evangelístico e social que visa a atender às comunidades ribeirinhas da Amazônia Oriental, que engloba parte do Pará. Os voluntários saem de Marabá, no Pará, cidade onde o pastor Zeilton mora. Nessa missão, médicos, dentistas, enfermeiros e outros profissionais da área da saúde fazem palestras e atendem gratuitamente os moradores dessas comunidades. “O voluntariado é isto: trabalhar por amor”, completa.
No Maanaim Domingos Martins também há uma equipe de saúde para prestar atendimento aos membros que participam dos eventos. A unidade é formada por cerca de 10 pessoas por eventos, preparada para atendimentos emergenciais. Localizada dentro do espaço da ICM, com ambulatórios, salas de repouso, consultório e unidade móvel de emergência para transportar eventual paciente para o hospital mais próximo.
A coordenação da equipe está há seis anos por conta do pastor Robson Silva de Souza, empresário e terapeuta ocupacional, e tem em sua composição médicos, enfermeiros, residentes em Medicina e recepcionistas. Ele afirma que há profissionais especializados em Pediatria por conta da grande quantidade de crianças que acompanham seus familiares nos seminários, além de clínico geral e emergencista.
Uma das voluntárias no posto médico atualmente é a pediatra Adriana Rodrigues. Há cerca de 20 anos ela fez seus primeiros plantões no local, ficou afastada por um período por problemas de saúde, e retornou há dois anos.
“Eu me sinto tão abençoada, me converti quando já era médica, e fui conquistando muitas coisas. Foi tanta coisa que Deus fez por mim, que é uma gratidão imensa. Isso (o trabalho voluntário) é uma forma de agradecer um pouco o que Deus fez por mim. É um prazer trabalhar aqui”, afirma a pediatra.
O voluntariado é a base para o funcionamento também de todos os templos da ICM. Na ICM Jardim Camburi 3, por exemplo, há seis grupos de assistência, sendo cada um liderado por um capitão, como o servidor público estadual Fabriciano Guimarães Pereira Mendes. Esses grupos são responsáveis por todas as atividades do dia realizadas na Igreja, desde a organização e preparação do templo para o culto da madrugada, visita a enfermos, grupo de louvor, até os preparativos dos cultos da noite e dos finais de semana.
Para Mendes, que ingressou na ICM em 2015, não há dificuldade para conciliar as atividades na Igreja com o seu trabalho. Muitas vezes, ele vai abrir a Igreja e recepcionar os irmãos para o culto da madrugada, às 6 horas, e aos finais de semana, quando tem mais tempo livre, participa da limpeza após a Escola Bíblica Dominical e organiza a ICM Jardim Camburi 3 para o culto da noite. Além disso, também atua nas funções de diácono, tesoureiro e secretário da Igreja, sendo as duas últimas realizadas muitas vezes em casa.
“O meu grupo é o maior e tem em torno de 80 pessoas. A Igreja tem mais de 350 membros e há grupos com 40 a 60 pessoas. Eles se dividem em cinco a 10 pessoas que fazem o trabalho, se revezando todos os dias. Todo o nosso trabalho é por gratidão a Deus. O que nos move a realizar esse trabalho é o amor do Senhor para conosco. Eu me considero privilegiado de fazer parte desse grupo de voluntários”, pontua Mendes.
O investigador da Polícia Civil aposentado Marcos Felix Soares, 52 anos, afirma que desde que se batizou na ICM, em 2011, já fez todas as atividades voluntárias possíveis, como ajudar na limpeza, na assistência, na visita a um irmão hospitalizado, no grupo de louvor, foi obreiro e hoje é diácono na ICM Jardim Camburi 3.
Soares ressalta que não há distinção de classe social dos membros ou da posição que ocupam na sociedade na hora de dividir as tarefas. Na Igreja, todos colaboram igualmente, realizando desde a simples limpeza a um trabalho na área espiritual.
“A gente quer retribuir as bênçãos com tudo que fazemos de forma voluntária. A gente nunca faz nada em troca de retribuição material. Tudo é feito de coração, reconhecendo o que o Senhor fez por nossas vidas”, acrescenta o investigador aposentado.
Já no caso da pedagoga e professora Cláudia Mendes, 49, são cerca de 30 anos de voluntariado na Igreja, desde que se batizou, aos 19 anos. Nos últimos quatro anos, ela passou a ocupar a função de coordenadora do grupo de senhoras, com 140 mulheres, responsável pelo Culto das Senhoras, às quartas-feiras. Além disso, coordena as visitas aos enfermos e familiares, às idosas, às viúvas, aos órfãos e gestantes.
Cláudia destaca que também já fez todas as atividades voluntárias na Igreja, desde a limpeza, apoio a eventos, grupo de louvor e professora da Escola Bíblica Dominical. No grupo que coordena atualmente estão muitas professoras das mais diversas classes, de crianças e adolescentes, e responsáveis pelo serviço de limpeza, entre outras.
“É uma benção muito grande participar desse grupo. O que nos motiva é a paz, é a benção do Senhor nos enriquecendo. Tudo o que fazemos é por amor a tudo aquilo que Deus nos faz. A nossa alma tem sede de Deus. São pequenos trabalhos que permitem a Igreja estar preparada, é isso que nos motiva”, acrescenta a professora.
O pastor Gedelti Gueiros, presidente da ICM, conclui que o Ministério voluntário acaba sendo um incentivo para que haja voluntariado nas mais diversas áreas. Isso faz com que o voluntariado seja responsável por mover a Igreja Maranata. “O trabalho voluntário é por fé”, conclui.
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