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Maranata leva a palavra de Deus a surdos e surdocegos

Maranata leva a palavra de Deus a surdos e surdocegos

Assistência a fiéis que precisam de acessibilidade para participar de cultos e seminários da igreja também contribui para independência e autonomia deles no dia a dia

Publicado em 11 de fevereiro de 2021 às 19:01- Atualizado há 4 anos

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Cultos da Igreja Maranata são realizados com acessibilidade
Pastor Bizio (direita): "Vai além da assistência espiritual, pois também contribui com a questão social". Foto registrada antes da pandemia. (Maranata/Divulgação)

A Igreja Cristã Maranata (ICM) realiza seminários especiais para surdos e surdocegos que acontecem em Maanains de todo o país. As aulas são ministradas em Língua Brasileira de Sinais (Libras) em vários níveis de compreensão linguística, como Libras tátil e Libras em campo reduzido. Essas ações, que vêm sendo realizadas nos últimos cinco anos, fazem parte do trabalho de Acessibilidade e têm coordenação dos pastores da ICM, contribuindo, dessa forma, para levar a palavra de Deus a todos os fiéis da igreja.

“Começamos com pessoas surdas, que foram as primeiras a serem atendidas pelo trabalho de Acessibilidade, porque, desde 1989 temos registrado a presença de pessoas surdas nos cultos. E cada pastor buscava, do seu jeito, garantir formas desses fiéis poderem participar dos cultos. Foi apenas em 2004 que institucionalizamos a assistência aos surdos e cegos na ICM. Temos uma comissão de acessibilidade que produz o material adaptado e vídeos com orientações a pais e professores”, conta o pastor Medina, que é coordenador do Trabalho de Acessibilidade.

Pastor Medina
Pastor Medina: "Temos uma comissão de acessibilidade que produz o material adaptado e vídeos com orientações a pais e professores". Foto registrada antes da pandemia. (Maranata/Divulgação)

A assistência aos surdos, principalmente o ensino de Libras, tem sido importante para a ICM, cujo objetivo é a evangelização. E mesmo durante a pandemia do novo coronavírus e a necessidade do isolamento social, a igreja tem elaborado vídeos em Libras que são disponibilizados no YouTube, trazendo esclarecimentos sobre temas estudados nas Escolas Bíblicas Dominicais (EBD) e outros assuntos bíblicos.

O trabalho é voltado para o louvor e o ensino de pessoas de todas as idades e em diferentes níveis de necessidades. “Nossa missão é dar acesso à palavra de Deus, mas não fica apenas nisso, pois essas pessoas também conquistam sua independência e autonomia”, observa o pastor Medina, que realiza cultos em Libras para os fiéis surdos.

Todo domingo é realizado um culto, às 16 horas, que tem Libras como língua principal e que é traduzido para o português. “Não é uma adaptação, é um culto realizado diretamente na língua dos fiéis que são surdos, que participam com glorificações e pregação da palavra”, conta o pastor Bízio, que também participa da coordenação da Acessibilidade e é doutor em Linguística e pós-graduado em Libras.

Culto da Maranata com acessibilidade
A assistência aos surdos, principalmente o ensino de Libras, tem sido importante para a ICM, cujo objetivo é a evangelização. (Maranata/Divulgação)

Com a pandemia, os cultos passaram a ser realizados de forma virtual e mesmo na plataforma há preocupação com a acessibilidade dos fiéis. “Criamos salas simultâneas com cada um, para fazer o atendimento personalizado, como se estivéssemos presenciais. É o ponto alto do culto, esse momento de interação, principalmente porque muitos estão em casa e não conseguem ir à igreja. Vai além da assistência espiritual, pois também contribui com a questão social e da interação com outras pessoas”, afirma o pastor Bízio.

ASSISTÊNCIA A SURDOCEGOS

O que começou com acessibilidade apenas a pessoas surdas, logo também se estendeu a fiéis surdocegos, que são pessoas que possuem a visão e a audição bastante reduzidas, a ponto de precisarem de outras formas de se comunicar com o mundo.

A ICM possui acessibilidade para surdocegos, que são assistidos com a Libras Tátil e Comunicação Háptica. Atualmente, nas oficinas de Libras, os alunos já começam a receber orientações sobre como assistir o surdocego. O material didático para a oficina específica de surdocegos já está sendo preparado, assim como o material disponibilizado na EBD, que é adaptado para os fiéis surdos que frequentam a igreja.

Culto da Maranata com acessibilidade
Maria Amin: "Temos uma equipe muito grande para adaptar o material didático para crianças e pais". Foto registrada antes da pandemia. (Maranata/Divulgação)

“Temos uma equipe muito grande para adaptar o material didático para crianças e pais. Fazemos a interpretação em Libras do que é aprendido na Escola Bíblica Dominical (EBD) para crianças surdas e também pais e gestantes surdos, para que eles ensinem seus filhos. Para cegos, além de fornecer todo o material escrito em Braile para aqueles que sabem ler, orientamos os professores a fazerem audiodescrição de toda a aula, localizando a criança dentro da sala e também a utilização de material tátil, uma vez que a criança cega não tem memória visual”, conta a pediatra e neurologista da infância e adolescência Maria Amin, que integra os grupos responsáveis pelas adaptações do material didático.

Amin também acrescenta que para o grupo de surdocegos é necessário ter um sistema de assistência mais presencial. Há a utilização de interpretação de Libras tátil para essas pessoas, uma vez que os fiéis surdocegos são adultos e jovens. “Durante a pandemia, criamos um sistema de assistência ao surdocego. Por ser um atendimento que precisa ser presencial, fizemos um seminário apenas para este grupo, dentro da igreja, com oito intérpretes para auxiliá-lo”, explica.

Culto da Maranata com acessibilidade
Para Elaine (esquerda), o atendimento e cuidado do Trabalho de Acessibilidade foi essencial para mudar a vida de vários fiéis que antes estavam isolados. Foto registrada antes da pandemia. (Maranata/Divulgação)

A doutoranda e mestre em Educação Elaine Gomes Vilela conta como o atendimento e cuidado do Trabalho de Acessibilidade foi essencial para mudar a vida de vários fiéis que antes estavam isolados por não terem como se comunicar.

“Eu estava fazendo mestrado quando conheci o Gabriel, que era surdocego e ele vivia isolado. Ele não conseguia se comunicar e não conhecia a palavra de Deus. Lembro que a mãe contou que o Gabriel tinha ido à igreja apenas duas vezes em toda a sua vida, pois ele não entendia nada. Mas quando começou a participar dos seminários especiais e dos cultos, ele aprendeu a se comunicar com os outros e até começou a fazer amizades dentro da igreja”, lembra Elaine, que é também guia-intérprete de Libras e a única pesquisadora no país a trabalhar com comunicação social háptica, tema da sua tese de doutorado que está em andamento.

Ela conta que, hoje, Gabriel viaja o país inteiro, fala em se casar, estudar, constituir uma família. “Antes, ele não podia nem se expressar e hoje, Gabriel expressa que Deus o ama. Ele me disse: ‘sou feliz porque vejo Deus e Deus me vê’. A mãe dele, em uma live, me disse o quão importante foi para o filho ter esse contato com a igreja, com outras pessoas que puderam ensiná-lo a se comunicar”, destaca.

Culto da Maranata com acessibilidade
A ICM possui acessibilidade para surdocegos, que são assistidos com a Libras Tátil e Comunicação Háptica. Foto registrada antes da pandemia. (Maranata/Divulgação)

SAIBA MAIS

O que é uma pessoa surdocega?

  • São pessoas que possuem perda sensorial tanto da visão quanto da audição, mesmo que haja algum resíduo visual ou auditivo.

Como se comunicar com uma pessoa surdocega?

  • Quem nasce ou se torna surdocego antes da aquisição da linguagem consegue ter entendimento real dos acontecimentos e informações por meio de elementos palpáveis, concretos, que exemplificam para eles conceitos e informações.

O que é Libras Tátil?

  • É uma forma de comunicação, por meio do tato, usando a Língua Brasileira de Sinais (Libras).

O que é comunicação háptica?

  • É uma forma de utilização do tato para se comunicar. Ela é utilizada como um complemento para se comunicar com outra pessoa por meio do toque.

O que é audiodescrição?

  • É um recurso de acessibilidade que permite que pessoas cegas ou com baixa visão entendam o que está se passando em determinada cena ou ambiente, onde tudo vai sendo descrito em formato de narrativa.

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