A Igreja Cristã Maranata (ICM) realiza seminários especiais para surdos e surdocegos que acontecem em Maanains de todo o país. As aulas são ministradas em Língua Brasileira de Sinais (Libras) em vários níveis de compreensão linguística, como Libras tátil e Libras em campo reduzido. Essas ações, que vêm sendo realizadas nos últimos cinco anos, fazem parte do trabalho de Acessibilidade e têm coordenação dos pastores da ICM, contribuindo, dessa forma, para levar a palavra de Deus a todos os fiéis da igreja.
“Começamos com pessoas surdas, que foram as primeiras a serem atendidas pelo trabalho de Acessibilidade, porque, desde 1989 temos registrado a presença de pessoas surdas nos cultos. E cada pastor buscava, do seu jeito, garantir formas desses fiéis poderem participar dos cultos. Foi apenas em 2004 que institucionalizamos a assistência aos surdos e cegos na ICM. Temos uma comissão de acessibilidade que produz o material adaptado e vídeos com orientações a pais e professores”, conta o pastor Medina, que é coordenador do Trabalho de Acessibilidade.
A assistência aos surdos, principalmente o ensino de Libras, tem sido importante para a ICM, cujo objetivo é a evangelização. E mesmo durante a pandemia do novo coronavírus e a necessidade do isolamento social, a igreja tem elaborado vídeos em Libras que são disponibilizados no YouTube, trazendo esclarecimentos sobre temas estudados nas Escolas Bíblicas Dominicais (EBD) e outros assuntos bíblicos.
O trabalho é voltado para o louvor e o ensino de pessoas de todas as idades e em diferentes níveis de necessidades. “Nossa missão é dar acesso à palavra de Deus, mas não fica apenas nisso, pois essas pessoas também conquistam sua independência e autonomia”, observa o pastor Medina, que realiza cultos em Libras para os fiéis surdos.
Todo domingo é realizado um culto, às 16 horas, que tem Libras como língua principal e que é traduzido para o português. “Não é uma adaptação, é um culto realizado diretamente na língua dos fiéis que são surdos, que participam com glorificações e pregação da palavra”, conta o pastor Bízio, que também participa da coordenação da Acessibilidade e é doutor em Linguística e pós-graduado em Libras.
Com a pandemia, os cultos passaram a ser realizados de forma virtual e mesmo na plataforma há preocupação com a acessibilidade dos fiéis. “Criamos salas simultâneas com cada um, para fazer o atendimento personalizado, como se estivéssemos presenciais. É o ponto alto do culto, esse momento de interação, principalmente porque muitos estão em casa e não conseguem ir à igreja. Vai além da assistência espiritual, pois também contribui com a questão social e da interação com outras pessoas”, afirma o pastor Bízio.
O que começou com acessibilidade apenas a pessoas surdas, logo também se estendeu a fiéis surdocegos, que são pessoas que possuem a visão e a audição bastante reduzidas, a ponto de precisarem de outras formas de se comunicar com o mundo.
A ICM possui acessibilidade para surdocegos, que são assistidos com a Libras Tátil e Comunicação Háptica. Atualmente, nas oficinas de Libras, os alunos já começam a receber orientações sobre como assistir o surdocego. O material didático para a oficina específica de surdocegos já está sendo preparado, assim como o material disponibilizado na EBD, que é adaptado para os fiéis surdos que frequentam a igreja.
“Temos uma equipe muito grande para adaptar o material didático para crianças e pais. Fazemos a interpretação em Libras do que é aprendido na Escola Bíblica Dominical (EBD) para crianças surdas e também pais e gestantes surdos, para que eles ensinem seus filhos. Para cegos, além de fornecer todo o material escrito em Braile para aqueles que sabem ler, orientamos os professores a fazerem audiodescrição de toda a aula, localizando a criança dentro da sala e também a utilização de material tátil, uma vez que a criança cega não tem memória visual”, conta a pediatra e neurologista da infância e adolescência Maria Amin, que integra os grupos responsáveis pelas adaptações do material didático.
Amin também acrescenta que para o grupo de surdocegos é necessário ter um sistema de assistência mais presencial. Há a utilização de interpretação de Libras tátil para essas pessoas, uma vez que os fiéis surdocegos são adultos e jovens. “Durante a pandemia, criamos um sistema de assistência ao surdocego. Por ser um atendimento que precisa ser presencial, fizemos um seminário apenas para este grupo, dentro da igreja, com oito intérpretes para auxiliá-lo”, explica.
A doutoranda e mestre em Educação Elaine Gomes Vilela conta como o atendimento e cuidado do Trabalho de Acessibilidade foi essencial para mudar a vida de vários fiéis que antes estavam isolados por não terem como se comunicar.
“Eu estava fazendo mestrado quando conheci o Gabriel, que era surdocego e ele vivia isolado. Ele não conseguia se comunicar e não conhecia a palavra de Deus. Lembro que a mãe contou que o Gabriel tinha ido à igreja apenas duas vezes em toda a sua vida, pois ele não entendia nada. Mas quando começou a participar dos seminários especiais e dos cultos, ele aprendeu a se comunicar com os outros e até começou a fazer amizades dentro da igreja”, lembra Elaine, que é também guia-intérprete de Libras e a única pesquisadora no país a trabalhar com comunicação social háptica, tema da sua tese de doutorado que está em andamento.
Ela conta que, hoje, Gabriel viaja o país inteiro, fala em se casar, estudar, constituir uma família. “Antes, ele não podia nem se expressar e hoje, Gabriel expressa que Deus o ama. Ele me disse: ‘sou feliz porque vejo Deus e Deus me vê’. A mãe dele, em uma live, me disse o quão importante foi para o filho ter esse contato com a igreja, com outras pessoas que puderam ensiná-lo a se comunicar”, destaca.
São pessoas que possuem perda sensorial tanto da visão quanto da audição, mesmo que haja algum resíduo visual ou auditivo.
Quem nasce ou se torna surdocego antes da aquisição da linguagem consegue ter entendimento real dos acontecimentos e informações por meio de elementos palpáveis, concretos, que exemplificam para eles conceitos e informações.
É uma forma de comunicação, por meio do tato, usando a Língua Brasileira de Sinais (Libras).
É uma forma de utilização do tato para se comunicar. Ela é utilizada como um complemento para se comunicar com outra pessoa por meio do toque.
É um recurso de acessibilidade que permite que pessoas cegas ou com baixa visão entendam o que está se passando em determinada cena ou ambiente, onde tudo vai sendo descrito em formato de narrativa.
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