O Espírito Santo conquistou em 2020 o primeiro lugar num importante indicador do Ranking de Gestão e Competitividade dos Estados: o da destinação de lixo. O levantamento do Centro de Liderança Pública (CLP) constitui uma importante referência para os gestores públicos, que serve como um guia de identificação de pontos de melhorias e definição dos focos de atuação dos governos estaduais. Nesse quesito da destinação do lixo, os municípios da Grande Vitória têm grande relevância, destacando a importância do trabalho das prefeituras da Serra, Vitória e Cariacica.
O Estado ocupa ainda a quarta colocação neste ranking como mais sustentável do país, com 78,4 pontos em uma escala que vai até 100. A média do Brasil é de 54,8%. Já na classificação geral, o Espírito Santo ocupa o quinto lugar.
E uma das empresas que contribui para este resultado é a Marca Ambiental, a maior do Estado no segmento de tratamento de resíduos com 25 anos de mercado, que aposta em projetos inovadores como o do Parque de Ecoindústrias de Reciclagem, localizado na Rodovia do Contorno, em Cariacica.
“Nosso Parque de Ecoindústrias tem como objetivo oferecer uma teia de soluções no beneficiamento de diferentes tipos de resíduos aos clientes da Marca e também a diferentes empresas que buscam os processos de reciclagem para seus negócios”, destaca o diretor da Marca Ambiental, Gustavo Ribeiro.
O Parque de Ecoindústrias conta hoje com nove empresas, que reciclam resíduos orgânicos, da construção civil, vidro, óleo vegetal, papéis, pneus, escória de siderurgia e óleo mineral para produzir massa asfáltica, triagem de resíduos, e ainda gera energia a partir do biogás captado da decomposição de resíduos dispostos em células de aterro sanitário.
Uma das ecoindústrias que integra este projeto é a Organobom, uma unidade de compostagem que recebe resíduos orgânicos, como restos de alimentos; podas de árvores; material oriundo de restaurantes, feiras livres e supermercados; e transforma em composto orgânico.
Dados do anuário da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) de 2020 apontam que 45,5% dos resíduos correspondem a matéria orgânica, mas nem todo esse percentual é convertido em adubo porque o lixo chega misturado. Mas uma parte desses resíduos ganha destinação correta, como explica o diretor comercial da Organobom, Fábio Junger.
“O material oriundo da compostagem volta para a sociedade em forma de composto orgânico, que vai adubar as hortaliças e os plantios de uma forma geral, fechando um ciclo por completo. Vai gerar de novo o alimento que serviu de base para ele e também ser utilizado em jardins urbanos”, explica Fábio Junger.
A compostagem usa a temperatura dos alimentos com oxigênio e água. Desta forma, ocorre um processo de putrefação natural, em que as próprias bactérias dos alimentos se transformam em composto orgânico.
Outra empresa instalada no Parque de Ecoindústrias é a Greenvix, que implementou no Estado um modelo de gestão integrada de resíduos de vidro por meio de soluções inteligentes e personalizadas.
De acordo com Roberto de Melo Bretas, diretor da Greenvix, a parceria com a Marca Ambiental contribui de forma diferenciada para esse trabalho.
“Temos realizado um trabalho de orientação e educação junto aos grandes geradores para que o material seja separado. A própria Green vai até o local e faz essa coleta. O vidro leva mais de quatro mil anos para se decompor na natureza. Seria uma atrocidade dispor esse elemento em aterro sanitário junto com outros resíduos”, afirma Bretas.
Quando chega na Green, o vidro é quebrado para reduzir volume e passa por uma etapa de limpeza para retirar impurezas, restando ao final apenas vidro e rejeito de papel. Depois, esse material vai para o alto-forno da Owens-Illinois, que é a maior fabricante de embalagens de vidro do mundo e que compra com exclusividade da Green essa matéria-prima. Lá, ela é derretida até se tornar um plasma, que é transformada em novas embalagens de vidro.
No Parque de Ecoindústrias também é desenvolvido um projeto pioneiro de reciclagem de pneus inservíveis, por meio de parceria entre a Marca Ambiental e a Pneuvix.
Essa proposta foi vencedora em 2013 do edital da Finep, agência do governo federal que financia pesquisas e projetos, por incluir processos de inovação tecnológica na geração de energia a partir do pneu.
“O projeto foi contratado em 2016 e entrou em operação em 2018. Neste período firmamos parceria com a Marca Ambiental. Foi uma sinergia. A geração de energia ainda está em implantação, mas a reciclagem já está operando”, detalha o gerente da Pneuvix, Luiz Alberto Baptista, que também preside o Fórum Capixaba de Economia Circular da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes).
Segundo ele, a reciclagem de pneus era algo deficitário no Espírito Santo e uma necessidade que a Marca Ambiental já havia identificado.
A Pneuvix recebe pneus de caminhões, carros, motos, bicicletas, utilitários e ônibus. Depois, eles passam por classificação e trituração até o ponto de a borracha ser separada do aço e do têxtil. A partir daí, essas matérias-primas são reintroduzidas na indústria.
O aço retorna 100% para a siderúrgica. Já a borracha pode ser vendida para fabricação de asfalto-borracha, grama sintética, tapetes, pisos ecológicos, de academia e de área de playground com absorção de impacto. Outra aplicação é como combustível.
A Pneuvix está licenciada no Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) e no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e apta a comercializar créditos de reciclagem de pneus, uma vez que a Resolução 416/2009 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) atribui responsabilidade aos fabricantes e importadores para que todo pneu posto no mercado de reposição tenha a comprovação de destruição de um para um.
“A Pneuvix se torna parceira ao destruir esse pneu e comercializar esse crédito para que os fabricantes não tenham problemas com a lei”, pontua Luiz Alberto.
Dados da Abrelpe publicados no Panorama de Resíduos Sólidos 2020 mostram nos últimos 10 anos, a geração total de resíduos sólidos urbanos no Brasil cresceu 19%, subindo de 67 milhões de toneladas por ano, em 2010, para 79,6 milhões de toneladas por ano, em 2019.
O Espírito Santo está na lista dos 10 Estados com índice de cobertura de coleta acima da média nacional (92%), com 93,7%, ficando atrás de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Goiás, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Paraná.
Já a quantidade de resíduos sólidos urbanos destinados de forma inadequada subiu 16% no Brasil em 10 anos, passando de 25,3 milhões de toneladas por ano em 2010 para 29,4 milhões de toneladas por ano em 2019.
O relatório da Abrelpe mostra que os resíduos orgânicos seguem sendo o principal componente do lixo dos brasileiros em 2019, totalizando 45,3%. Resíduos recicláveis secos totalizam 35%, formados por plásticos (16,8%), papel e papelão (10,4%), vidros (2,7%), metais (2,3%) e embalagens multicamadas (1,4%). Já os rejeitos correspondem a 14,1% do total.
Em 10 anos de análise, a Abrelpe constatou ainda que iniciativas de coleta seletiva subiram de 56,6% nos municípios em 2010 para mais de 73% das cidades em 2019.
Os dados da Abrelpe mostram que, no cenário nacional, o Espírito Santo tem lições a ensinar. Em um ranking realizado pelo Centro de Liderança Pública que tem como objetivo avaliar os estados através vários indicadores, o Espírito Santo aparece com nota máxima em primeiro lugar no indicador de destinação de lixo. Com uma abrangência populacional (42%) e grande atuação no mercado, a Marca Ambiental contribui positivamente para essa avaliação.
Empresas de capital aberto que se preocupam com a sustentabilidade estão no radar de investidores interessados em apoiar projetos que respeitem critérios ambientais, sociais e de governança corporativa, o chamado ESG (sigla em inglês “Environmental, Social and Governance”).
Com a pandemia, companhias que adotaram práticas ESG foram mais resilientes em 2020 e tiveram melhores resultados, aumentando o interesse por negócios que se preocupam com esses critérios.
A Bolsa de Valores de São Paulo trabalha com o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), que classifica empresas com base em sete dimensões: a estratégia perante o social e a sustentabilidade; o aspecto econômico; a governança corporativa estruturada; o tipo de produto e se ele causa impacto; a questão social; a questão ambiental, com políticas de redução de água, de dióxido de carbono e energia; e ações para mitigar mudanças climáticas.
Embora não tenha capital aberto, a Marca Ambiental foi criada com uma filosofia voltada para o cuidado com o meio ambiente em função da natureza de seu próprio negócio. Desta forma, ela acaba sendo um instrumento para que empresas que estão na Bolsa alcancem a sustentabilidade na área de resíduos, contribuindo para que esses investidores estejam nos fundos ESG no mercado financeiro.
“Existem fundos ESG que captam dinheiro para aplicar em empresas com essas iniciativas. Não buscam só quem esteja na Bolsa. Podem procurar uma empresa que esteja aqui no Espírito Santo ou que não esteja listada para investir. O investidor pode comprar esse ISE, que é negociado na Bolsa e representa todas as empresas inseridas nele, ou ver quais estão dentro desse índice e investir nelas separadamente”, explica o estrategista-chefe da APX Investimentos, Tiago Pessotti.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta