Estúdio Gazeta
Sindipetro ES
A Petrobras, como empresa estatal, sempre foi uma das maiores patrocinadoras de projetos culturais no Brasil. Prova disso está no renascimento do cinema nacional, que desde que a companhia passou a investir nessa área, cresceu e muitos dos projetos chegaram a competir em festivais nacionais e internacionais, levando o jeito brasileiro de fazer cinema a todos os cantos do mundo.
Com patrocínio da Petrobras, lançado em 1994, o filme “Carlota Joaquina”, de Carla Camurati, levou cerca de 1,2 milhão de brasileiros aos cinemas para prestigiar o filme que se tornou o marco da retomada do cinema nacional. Além dele, outros filmes patrocinados pela companhia também foram importantes e ganharam posição de destaque na história do cinema brasileiro, como: “O Quatrilho” (1995), “Cidade de Deus” (2002), “Carandiru” (2003) e “Tropa de Elite” (2007).
Mais recentemente, temos os aclamados “O Som ao Redor” (2013), “Aquarius” (2016), premiado no Festival de Gramado em 2016 e em vários festivais internacionais de cinema, e “Bacurau” (2019), que venceu o prêmio do Júri em Cannes, em 2019.
“Em 2001, foi lançado o Petrobras Cinema, que era um projeto de apoio ao curta-metragem e o curta ‘Baseado em Histórias reais’, de Gustavo de Moraes, foi selecionado. Foi um filme gravado com uma equipe inteira do Espírito Santo, com recursos da Petrobras e hoje coleciona 15 prêmios. A história desse filme se conecta com muita gente, sendo inclusive, responsável por inspirar várias outras pessoas a entrarem para o audiovisual”, avalia a produtora cultural Leandra Moreira.
Segundo ela, o impacto de uma empresa como a Petrobras investir em cinema, por exemplo, é muito grande. “Com o incentivo de uma empresa como a Petrobras coisas incríveis acontecem. Um filme produzido no Espírito Santo, naquela época, não teria chances de acontecer se não fosse a chancela da Petrobras. Esse é um importante compromisso para uma empresa”, afirma.
Por outro lado, a roteirista e diretora de cinema Luiza Lubiana avalia que o Estado, por ter ativos da Petrobras, deveria ter editais específicos. “Essa é uma falha, já que a Petrobras nunca teve um edital de cultura voltado especificamente para o Espírito Santo e com o desmonte da empresa, atualmente, a área de cultura, que é a mais sensível, acaba sendo mais afetada. Uma empresa do porte da Petrobras investindo menos em cultura é uma carência muito grande nessa área para o Estado”, avalia.
Luciana, que é também presidente da Sátira Filmes e coordenadora do festival de Cinema de Santa Teresa (Fectsa) e do Festival velas do Piraqueaçu, em Aracruz, destaca a importância da cultura para o país como um todo. “A cultura é fundamental, pois um país sem cultura não tem alma, não tem pensamento crítico. A cultura é o espelho do país e o filtro da qualidade ética, emocional, sentimental do coração de uma nação”, reflete.
Da mesma opinião é o músico e produtor de cultura Fábio Carvalho. Pós graduando em especialização de Políticas de Gestão de Cultura, Carvalho reconhece a importância da empresa para o país. “No entanto, a Petrobras poderia ter investido mais no território em que atua. O impacto é muito grande em todos os setores, principalmente o social e ambiental'', observa.
Segundo Carvalho, a Petrobras deveria ter um fomento para investir na cultura popular. “É importante que invista na cultura brasileira, de base, que possa existir uma linha de financiamento direto para artistas independentes e nas comunidades onde a empresa causa maior impacto. No entanto, a participação de empresas na cultura tem diminuído muito, desde 2018. Com isso, boa parte da cultura ‘morreu’. A realidade é que deveria sempre melhorar esse investimento e não estagnar”, lamenta.
Para o diretor do Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo (Sindipetro-ES), Rodrigo Lopes Ferri, a Petrobras “é a maior empresa patrocinadora do país de projetos de cultura, educação e conscientização ecológica”. Ferri afirma ser fundamental que uma empresa do porte da Petrobras tome a iniciativa de projetos que deixem um legado para a população, transformando vidas e comunidades.
“São dezenas de patrocínios que ocorrem todos os anos há décadas que vão de grandes nomes conhecidos e respeitados dentro e fora do país como a Companhia Débora Colker, Orquestra Petrobrás Sinfônica, Projeto Tamar, até iniciativas locais pequenas como o Projeto Araçá, em São Mateus. É importante reforçar que a Petrobras tem dedicado verbas de patrocínio que vão além daquele montante que pode ser deduzido no imposto de renda e normalmente é até onde a maior parte das empresas vai, nós vamos além porque reconhecemos a importância”, avalia.
Ferri também destaca alguns projetos patrocinados pela Petrobras fora da Grande Vitória, principalmente no Norte capixaba. No entanto, com a venda dos ativos nessa região, a tendência é que percam o patrocínio desses projetos, uma vez que não há previsão de patrocínio de projetos culturais, educacionais ou voltados para o meio-ambiente por parte das empresas que vão assumir o controle desses ativos.
“Isso provavelmente vai se perder, pois a Petrobras privilegia o patrocínio nas cidades em quem tem atuação direta, ou seja, os projetos na Capital continuarão sendo beneficiados, mas o interior, que está perdendo a presença da Petrobras, também vai perder o incentivo à cultura, à educação e aos esportes que havia no passado, já que as empresas que estão comprando as áreas não têm previsto nada neste sentido”, ressalta.
Em um levantamento realizado pelo Dieese/subseção FUP, houve uma drástica redução de investimentos da Petrobras em indicadores sociais externos, como socioambiental, cultural e esportivos. Esses indicadores, segundo a entidade, vinham crescendo de 2005 a 2014, mas desde 2015, têm registrado um processo de queda, retornando a patamares anteriores a 2003.
No Estado, essa realidade impactou uma das mais duradouras parcerias, entre a Petrobras e o Projeto Tamar, que após quase 40 anos concluíram parceria. Segundo nota emitida pela Petrobras, a “decisão foi tomada pela Fundação Pró-Tamar, que está optando por outros modelos de parceria e de formas de financiamento”.
Ainda segundo a nota, o apoio começou em 1982 “quando a Fundação ainda estava iniciando a busca por parcerias para a missão de conservação de espécies de tartarugas ameaçadas de extinção e, ao longo das décadas, ajudou a implementar inúmeras atividades de pesquisas e conservação, de inclusão social, de comunicação e de monitoramento de desovas no litoral brasileiro”.
A Petrobras afirmou, na nota, que tem perspectiva de crescimento de investimentos nessa área. A previsão para este ano é de aplicar “cerca de R$ 90 milhões no Programa Petrobras Socioambiental, potencializando o número de pessoas atendidas e biomas protegidos”.
“Recebemos a notícia com tristeza, pois depois de quase 40 anos de parceria não seremos mais patrocinadores do Projeto Tamar. Sempre foi motivo de orgulho para nós, petroleiros, dizer que éramos patrocinadores do projeto. Não temos acesso ao que levou de fato o fim da parceria, mas, ultimamente, a Petrobras tem mudado um pouco a política de patrocínios”, observa o diretor do Sindipetro-ES.
Entre os exemplos das novas políticas de patrocínio da empresa, Ferri destacou a busca por atletas de alto desempenho. “O objetivo passou a ser a medalha, a foto no pódio. Não acho errado patrocinar atletas de alto desempenho, mas me preocupa deixarmos a base, os projetos locais, os pequenos de fora. Muita gente não sabe dos editais e perde a oportunidade de participar”, finaliza.
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