A madeira, o café e a pecuária foram a base do tripé que sustentou a economia de Colatina durante as décadas de 1940 e 1950. Trouxeram a prosperidade que rendeu títulos importantes para Colatina, entre eles o de Princesa do Norte. Atualmente, com a economia diversificada, baseada na indústria, no comércio e no setor de serviços, sobretudo nas áreas da saúde e da educação, Colatina responde por 2,5% de todas as riquezas produzidas no Estado.
No dia 22 de agosto, o município completa 100 anos. Para celebrar, A Gazeta preparou reportagens especiais, destacando fatos marcantes dessa história, que passa pelo trabalho duro de quem enxergou o futuro nessas terras.
A exploração da madeira financiou o desenvolvimento das cidades que surgiram durante o período da colonização no Brasil. E, assim como aconteceu em todo o país, a atividade extrativista também foi a responsável pela prosperidade que colocou a ainda Vila de Colatina em situação de destaque em relação às outras vilas subordinadas ao município de Linhares.
A derrubada das matas para a exploração das terras e para a abertura das estradas trouxe riqueza, mais ainda depois que a ponte Florentino Avidos foi inaugurada em 1928. O caminho sobre o Rio Doce facilitou o transporte dos troncos até a cidade. “Essa tirada de madeira provocou a pujança econômica de Colatina inicialmente. A venda de madeira fortalecia o comércio, depois se instalaram as serrarias. Toda a madeira do Noroeste foi trazida até Colatina. A do Norte ia para o porto de Conceição da Barra. E isso, evidentemente, provocou uma riqueza enorme da cidade”, explica o professor e jornalista Adilson Vilaça.
A essa altura, as pastagens para criação de gado já ocupavam grandes áreas e o café despontava como a potência que se tornaria mais tarde, impulsionada pelo território extenso. Da emancipação, em 1921, até o início dos anos 1960, o município era o maior do Estado. Durante toda a década de 1950, se manteve na dianteira da produção nacional do grão. Entre 1953 e 1960, foi o maior produtor do mundo.
O beneficiamento do café e as serrarias de madeira colocaram Colatina na posição de principal produtor industrial do Estado, com valor manufaturado de 600 milhões de cruzeiros, mais que o dobro do valor registrado em Cachoeiro de Itapemirim na época: 291 milhões, provenientes da produção do café, tecidos de algodão e cimento. Vitória aparecia em terceiro lugar da lista, com 235 milhões.
Com a economia baseada no tripé café-madeira-pecuária, Colatina se consolidou como o centro comercial, cultural, industrial, bancário e de prestação de serviço de toda a região centro-norte do Estado, condição que lhe rendeu o apelido de Princesa do Norte, inspirado no título já atribuído a Cachoeiro de Itapemirim.
O município possuía sete agências bancarias, hoteis, hospitais e dois cinemas – O cine Alhambra, posteriormente chamado Cine Gama, funcionou até 1995 e foi reinaugurado depois de uma reforma. É o cinema mais antigo do Estado ainda em funcionamento.
Durante esse período, Colatina foi palco de obras importantes, como os armazéns do Instituto Brasileiro do Café (IBC), a Igreja Matriz e a Catedral, além do Iate Clube, com arquitetura inspirada nas obras modernistas de Oscar Niemayer, e do Estádio Justiniano de Mello e Silva, que ainda hoje é o maior no interior do Estado.
A economia próspera e em ascensão desencadeou o movimento de migração rural. Os descendentes dos primeiros imigrantes deixaram a região serrana para ocupar o interior de Colatina. O pai do José Gon vendeu as terras em Santa Teresa e investiu em um sítio na região hoje chamada de Santa Joana. “Aqui, era cheio de mata, de mato, então a gente foi desbravando esse terreno, limpando e plantando. A gente plantava café, milho, feijão e arroz, mas o café sempre foi o produto principal. Naquela época era o café bourbon, arábica como se diz hoje. Mas hoje é conilon que está mandando, porque ele é mais produtivo, mais fácil de trabalhar”, conta o produtor.
Hoje, aos 85 anos, o produtor continua trabalhando na roça. O café atravessou três gerações da família Gon e ainda é a principal atividade da propriedade. “Para a minha família, o café é tudo. Ele que é o suporte. Se você precisar de um dinheiro rápido, se tiver o café guardado, na hora, você já está com o dinheiro no bolso. Até antes de você entregar o café, você tem o dinheiro se precisar. Isso é muito importante para a gente que mora aqui na roça”, explica.
O pai do fotógrafo Afrânio Serapião de Souza também acreditou que o futuro estava em Colatina e mudou-se de Afonso Cláudio. “A profissão do meu pai era agrimensor. Ele veio para Colatina atraído pelo progresso da cidade, que tinha estrada de ferro, o vaporzinho, que fazia a ligação com Linhares, e muitas terras a explorar. Precisavam de um agrimensor. Quem mediu essas fazendas do Norte todo, no início, foi meu pai”, lembra Afrânio.
A supremacia de Colatina foi comprovada pelos números do Censo da época: na década de 1950, o município era o mais populoso do Estado e sediava um comércio forte, com 637 estabelecimentos atacadistas e de varejo.
A escalada do desenvolvimento foi interrompida na década de 1960. O ciclo da madeira já se esgotava e a atividade cafeeira também perdeu força devido ao ataque de pragas e à erradicação de muitas lavouras. Em 1963, veio o primeiro golpe: a emancipação de Pancas e São Gabriel da Palha. Além do baque econômico, a saída dos maiores e mais importantes distritos reduziu pela metade o território de Colatina, que deixou de ostentar o invejável posto de maior do Estado.
A crise nacional do café, desencadeada pelas super safras, atingiu Colatina com muita força. Entre julho de 1962 e maio de 1967, mais da metade dos cafezais do Estado foi arrancada. Dos 300 milhões de pés destruídos no período, a maior parte estava no município, que perdeu receita devido à queda drástica do preço da saca.
No final dos anos 1960, o Fundo de Recuperação Econômica do Estado do Espírito Santo (FUNRES) estimulou o surgimento de novos arranjos produtivos, que evitaram o colapso econômico de Colatina. A indústria ganhou força novamente, mas, dessa vez, dissociada das atividades extrativistas.
A história do empresário Marcos Coutinho está diretamente ligada à de Colatina. Ele administra a empresa, fundada pelo pai há mais de 50 anos, em um dos períodos mais nebulosos do município. O frigorífico foi um dos primeiros a inaugurar o ciclo fabril da cidade e segue como uma das empresas mais importantes do Estado.
Marcos lembra com o orgulho dessa trajetória. “O Espírito Santo passava por uma fase difícil do café. O Governo identificou algumas atividades para serem desenvolvidas e o abate bovino foi uma delas. Assim, surgiu a nossa empresa, que ajudou também a desenvolver o nosso bairro Honório Fraga e a cidade de Colatina como um todo, investindo muito na geração de empregos. Eu fico orgulhoso de fazer parte dessa história e de dar continuidade a ela. Nós temos vários projetos de ampliação, geração de novos empregos. Colatina é uma cidade em que gente acredita muito e vamos continuar investindo bastante”, garante o empresário.
A indústria se diversificou e, na década de 1970, a confecção de roupas ganhou força. “Naquela época, as roupas eram feitas sob medida pelas costureiras. Mas, com o crescimento da população, a demanda pelo vestuário aumentou. Foi, então, que as chamadas ‘sacoleiras’ passaram a viajar até São Paulo para comprar as peças que seriam revendidas em Colatina. Diante da concorrência, as costureiras da cidade começaram a produzir roupas em maior quantidade e com numerações padronizadas para abastecer o comércio local. Assim, foram surgindo as pequenas fábricas”, explica o historiador Namy Chequer.
“Nós chegamos a ter em Colatina cerca de mil confecções, entre as grandes, médias e as pequenas. Eram mais de 700 pequenas confecções”, completa Adilson Vilaça.
Até hoje, o setor de confecções se destaca no município e movimenta uma cadeia com 152 empresas. Não à toa Colatina é um polo de confecções e, desde 2012, reconhecida pelo Governo como a capital da moda no Espírito Santo.
Segundo o Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Espírito Santo, atualmente, Colatina possui 444 empresas. A maior parte está concentrada na fabricação de produtos voltados para a construção civil, de produtos alimentícios e de produtos minerais não-metálicos. O setor emprega mais de 9 mil trabalhadores e, de acordo com o Instituto Jones dos Santos Neves, a indústria responde por quase um quarto (22%) do Produto Interno Bruto do município.
Outra importante fonte de riqueza do município é o comércio varejista, que reflete o talento para a moda. De acordo com a Junta Comercial do Estado, Colatina possui 392 lojas especializadas na venda de artigos do vestuário e acessórios, o que equivale a 6% de todas as empresas ativas do município.
Hoje, o comércio é impulsionado pelo setor de serviços (sobretudo nas áreas da saúde e da educação). Juntos, respondem por 48% do PIB municipal. “Os serviços especializados, com estabelecimentos importantes de saúde e educação, atraem a população dos municípios vizinhos”, destaca o Diretor do Instituto Jones dos Santos Neves, Pablo Lira.
O comerciante Geraldo Magela herdou a atividade do pai e dedica mais da metade da vida ao comércio. Ele destaca a capacidade de adaptação dos empresários do setor para acompanhar as transformações no arranjo econômico de Colatina e atender às novas exigências do mercado. “As mudanças das atividades econômicas também passam para o varejo. Nos momentos atuais, meus dois filhos estão na empresa e eles continuam observando e se adaptando a essa realidade que está acontecendo também na forna de comercializar, que passa da venda na loja para uma venda virtual, nas redes sociais e em todas as plataformas que existem atualmente. Os comerciantes de Colatina estão de parabéns, prontos para o futuro”, completa.
Colatina iniciou o processo de industrialização na década de 1940, com o beneficiamento da madeira para a venda. Foi um período marcado pela prosperidade e, ao mesmo tempo, assombrado pela crise energética, que poderia desacelerar o avanço da atividade. A energia produzida por uma pequena usina térmica, com caldeira à lenha e um motor a diesel, já não era mais suficiente para sustentar as serrarias e mover o desenvolvimento da cidade. A energia “vagalume” era fornecida apenas durante algumas horas por dia.
A falta de energia também era um problema em todo o Estado, que vivia um surto de industrialização nessa época. E, mais uma vez, Colatina saiu na frente. “Colatina resolveu se virar e criou a própria empresa de produção de energia elétrica. Esse empreendimento garantiu o processo de industrialização da cidade. Foi tão importante que dura até hoje”, explica o historiador Namy Chequer.
O ponto de partida para a independência energética foi a pequena usina de geração de energia, instalada na cachoeira do Rio Santa Maria, em Boapaba. A usina foi criada por Henrique Nunes Coutinho em 1938 para beneficiar os grãos de café, arroz e milho produzidos na fazenda. Em 1944, uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH) foi criada para transferir a indústria de beneficiamento dos grãos para a sede de Colatina, no bairro Vila Lenira.
A pedido do então prefeito, Silvio Avidos, e com a autorização do Governo Federal, o excedente da produção passou ser utilizado para abastecer Colatina. Em 1946, pela primeira vez, houve a produção, transmissão, transformação e a distribuição de energia elétrica no município.
No início da década de 60, a substação de Colatina foi interligada à usina de Rio Bonito, instalada no rio Santa Maria da Vitória, em Santa Leopoldina.
Hoje, a empresa criada por Henrique Nunes Coutinho, em 1959, distribui energia elétrica para Colatina e outros dez municípios da região Noroeste do Estado.
Durante o ciclo de exploração da madeira, devido às longas distâncias e à dificuldade para o transporte das toras, muitas serrarias eram itinerantes, levadas até os locais de derrubada das matas. A energia que movia as serras era produzida a partir do óleo diesel, pelos motores dos caminhões. Essa demanda deu origem a outra atividade, que foi muito fortalecida no período: a retífica de motores. Os motores dos caminhões eram preparados e usados como dínamo.
Até hoje, Colatina possui várias retíficas e, não por acaso, a maioria das empresas está instalada ao longo do trecho da ES 080 que corta os bairros São Silvano e Carlos Germano Nauman. Antes da construção da rodovia do contorno pelo DER, em 2014, o fluxo de carretas era intenso nesses bairros, já que a ES 080 liga Colatina a vários municípios da região noroeste do Estado.
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