Neste 22 de agosto, dia em que completa 100 anos, Colatina tem motivos de sobra para comemorar: é uma das cidades mais importantes do Espírito Santo e está entre os municípios que mais oferecem qualidade de vida para os moradores, além de fazer parte da rota de grandes investimentos, de origem pública e privada, anunciados para os próximos anos para a região Noroeste.
Colatina também conhecida como a "capital capixaba da moda" por causa da tradição na indústria de confecções e ainda se destaca pelo comércio forte. A cidade é uma das mais empreendedoras do Espírito Santo, com quase 14 mil pequenos negócios.
O município foi o maior produtor de café do mundo durante a década de 1950, tornou-se a Princesa do Norte e o destino de muitos migrantes, que fizeram da cidade a mais populosa do Estado no período. Hoje, são os serviços na área da saúde e da educação que atraem profissionais de várias partes do Brasil.
A história revela a capacidade de Colatina de se adaptar às mudanças no cenário econômico e de aprender com as tragédias, como a lama de rejeitos da Samarco, que atingiu o Rio Doce em 2015 e afeta a vida dos moradores até hoje. Por isso, A Gazeta preparou uma série de reportagens especiais com o retrospecto dos fatos mais marcantes ao longo desse primeiro centenário.
As riquezas do café atraíram as pessoas para Colatina no passado, mas hoje são os serviços na área da saúde e da educação que abrem as portas do município. Os números dos setores revelam uma potência: na educação, são 108 instituições de ensino, presenciais e à distância, públicas e privadas, que somam cerca de 35 mil alunos matriculados. Já na saúde, são 7 hospitais e mais de 600 leitos, públicos e particulares.
O médico Paulo Bernardes foi atraído por esse potencial. Nascido em Cachoeiro de Itapemirim, ele concluiu a especialização em Cardiologia em São Paulo, mas foi em Colatina que construiu a carreira como médico e professor na faculdade de medicina. Ele mora na cidade há 10 anos e conta que se sente acolhido.
O médico também trouxe os pais para morar na cidade. “A adaptação deles foi tão boa quanto a minha. Eles moram no bairro Maria das Graças e não saem de lá de jeito nenhum porque fizeram uma família de amigos", contou.
E foi esse mesmo colo que recebeu a Tatiani Bellettini. Ela é doutora em Ciências da Saúde e deixou Santa Catarina, na região Sul do Brasil, para realizar o sonho de trabalhar como pesquisadora. “Eu descobri muito mais que esperava. Vim cheia de esperança e de gratidão. Não conhecia a cidade, mas já era grata, porque foi o lugar que me deu o meu lugar ao sol. Foi Colatina que me deu a oportunidade de realizar meu sonho", conta.
Em menos de dois anos na cidade, Tatiani já se casou e está grávida. “Colatina é a minha casa, não saio mais daqui. O Sul é só para visitar”, conta.
A cidade também enche de orgulho os moradores mais antigos, como o radialista Carlos Pinto. Ele se mudou do Rio de Janeiro para Colatina há 21 anos e não pensa em sair por causa da qualidade de vida que o município oferece. “Eu vejo a cidade como a capital da região Noroeste porque tem tudo: vida noturna, faculdades, vários bancos e um sistema de saúde que funciona", explica.
O amor por Colatina é tão grande, que o radialista batizou a única filha como Karliane Colatina, inspirado na força do município e da mulher que deu origem ao nome da cidade. “Colatina é a cidade melhor para se viver”, afirma.
A qualidade de vida atestada pelos moradores também foi comprovada pelos especialistas. Os dados mais recentes do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal, que avalia as condições de saúde, educação, renda e trabalho, colocam Colatina entre os quatro melhores municípios para viver no Espírito Santo, junto com Aracruz (1°), Vitória (2º) e Linhares (3°).
Colatina surgiu no final do século XIX, como um porto. O primeiro povoado se formou no entorno do barracão de Santa Maria, construído para abrigar os primeiros imigrantes, que chegavam por terra, seguindo o leito do Rio Santa Maria, e pelo Rio Doce.
Ponto de parada das embarcações e dos tropeiros, o povoado foi impulsionado pelas atividades comerciais e, sobretudo, pela exploração da madeira. Logo, recebeu outro nome: Vila de Colatina. Colatina Soares de Azevedo era a esposa do governador do Estado Muniz Freire, paulista e de uma família tradicional de São Paulo, também era considerada uma mulher de vanguarda pela vasta cultura.
A homenagem partiu do chefe da colonização da época e agradou o então desembargador Afonso Cláudio, que fez a profecia: “Esta homenagem à paulista, certamente, tornará próspera a futura cidade”.
A prosperidade chegou de trem, em 1906. A Estrada de Ferro Vitória Diamantina na época, trouxe progresso e fez de Colatina mais a vila mais importante de Linhares, tanto que tornou-se sede do município e a capital do Espírito Santo por 33 dias, durante a Revolta de Xandoca.
Colatina foi elevada a município em 30 de dezembro de 1921, mas manteve a tradição das comemorações em 22 de agosto, data da criação da vila de Linhares no ano de 1833.
Na década de 1950, ganhou destaque por ser o maior produtor de café do mundo e assumiu a dianteira da produção manufaturada do Estado. A prosperidade trazida pela cafeicultura atraiu migrantes e Colatina chegou a ser a cidade capixaba mais populosa.
A escalada de desenvolvimento foi interrompida pela crise do café, mas foi retomada pela industrialização, a partir da década de 1960. O setor da indústria é forte até hoje, com mais de 400 empresas e 9 mil trabalhadores. A tradição na fabricação de roupas deu ao município o título de capital capixaba da moda.
A força da economia também vem do comércio e do setor de serviços, sobretudo na saúde e na educação, que respondem por 48% do Produto Interno Bruto (PIB) do município.
Colatina chegou ao primeiro centenário com o frescor de uma cidade em acensão. De acordo com o levantamento do Instituto Jones dos Santos Neves, a cidade vai concentrar a maior parte dos investimentos, de origem pública e privada, anunciados para os dez municípios do centro oeste capixaba até 2023. Ao todo, estão previstos 980 milhões de reais.
O município está na rota dos grandes investimentos, mas também se destaca pelo empreendedorismo da população. Os 13.979 pequenos negócios geraram para o município, em 2020, mais de 17 milhões de reais em ICMS pelo Simples Nacional, quase nove por cento do total arrecadado no ano passado.
Mas a história de Colatina também é marcada por grandes tragédias. Em 1979, o Rio Doce transbordou e alagou a maior parte da cidade por mais de 10 dias e deixou 80% da população desabrigada. 34 anos depois, o município enfrentou outra grande enchente. Mas 2013 também foi marcado pelos deslizamentos de terra, que tiraram a vida de oito moradores.
Entre 2014 e 2017, Colatina sofreu os efeitos de uma seca sem precedentes, que levou o município à situação de emergência por causa das perdas no campo.
A cidade ainda sentia os impactos da falta de chuva quando recebeu outro duro golpe: a lama da Samarco, que atingiu o Rio Doce em novembro de 2015. Mesmo depois de quase 6 anos, a população ainda desconfia da qualidade da água, que é captada do rio para abastecer o município. E pelo menos mil pessoas recebem o auxílio financeiro mensal pago pela Fundação Renova, criada para reparar os danos provocados pela tragédia.
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