A história de Colatina começa muito antes da emancipação política, em 1921. Até aí, a cidade era uma vila subordinada a Linhares. A chegada da estrada de ferro (que mais tarde viria ser a EF Vitória a Minas), e o desbravamento da margem Norte do Rio Doce, a partir da construção da ponte Florentino Avidos, colocaram Colatina definitivamente no mapa. Numa ascensão muito rápida, o município passou a ocupar posição de destaque no cenário político e econômico do Estado.
Mesmo a quilômetros do mar, Colatina nasceu como um porto, no final do século XIX, durante ações do governo do Espírito Santo para povoar e desenvolver a região centro-norte capixaba. Em 1888 e 1889, os primeiros imigrantes italianos desembarcaram no porto em Vitória para ocupar as terras do Núcleo de Colonização Senador Antônio Prado. Eles precisavam percorrer mais de 100 quilômetros para chegar aos lotes prometidos.
Partindo de Vitória, os colonos desciam em canoas pelo rio Santa Maria da Vitória até Santa Leopoldina, passavam por Santa Teresa e seguiam pela mata fechada até a sede do núcleo, Mutum, onde atualmente fica o distrito colatinense de Boapaba.
Já navegável na época, o Rio Doce surgiu como a alternativa para facilitar e acelerar o processo de colonização. Os imigrantes faziam o caminho de Vitória até Regência, foz do Doce, pelo mar. Em 1890, um barracão foi construído para abrigar os imigrantes até que eles fossem direcionados para as terras que ocupariam. No lugar do barracão, hoje, está a sede do Oitavo Batalhão da Polícia Militar.
A margem sul do rio Doce se desenvolveu no entorno do barracão e o povoado foi chamado Arraial do Barracão de Santa Maria, posteriormente, batizado Vila de Colatina, uma homenagem do chefe da colonização à Colatina Soares de Azevedo, esposa do governador do Estado Muniz Freire. A chegada da estrada de ferro Vitória-Diamantina, em 1906, mudou o rumo da história.
Por causa do progresso trazido pela ferrovia, Colatina se tornou a vila mais importante de Linhares, até mais que a própria Linhares, que sediava o município. Por isso, em 1907, o líder político de Linhares, Alexandre Calmon, o coronel Xandoca, transferiu a sede do município para a Vila de Colatina. Em 1916, Colatina ganhou relevância política, durante a Revolta de Xandoca. A vila tornou-se capital do Espírito Santo por 33 dias.
Colatina foi elevada a município em 30 de dezembro de 1921, mas manteve a tradição das comemorações em 22 de agosto, data da criação da vila de Linhares, no ano de 1833.
No centro das atenções do Estado, o mais novo município recebeu investimentos importantes, como a construção da ponte Florentino Avidos sobre o Rio Doce. A obra começou em 1926, pela margem Sul do rio. O projeto, ousado para a época, fazia parte dos planos de expansão da ferrovia para o Norte do Estado, que não foram à frente por falta de dinheiro.
A ponte foi concluída em 1928 e cumpriu seu papel de abrir caminho para a exploração da região e impulsionar ainda mais o desenvolvimento de Colatina, que tinha na madeira e no café as maiores fontes de riqueza. “O desenvolvimento de Colatina foi predatório, às custas da natureza. Cortar madeira, destruir os riachos. E as sequelas estão aí até hoje”, pontua Namy.
E foi às custas do rio Santa Maria que Colatina recebeu uma das maiores obras de intervenção urbana do Estado na época. Na década de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, engenheiros americanos foram enviados ao município com a missão de retificar a estrada de ferro para acelerar o transporte do minério de ferro de Minas Gerais até o porto em Vitória. Para isso, desviaram o curso do rio e mudaram a foz para o lugar onde é hoje.
O aterro foi feito com a terra removida dos morros que havia na região central de Colatina. Criança na época, o professor aposentado Olney Braga lembra da época: “foi um movimento fantástico naquela região. A gente via aquilo e ficava triste, se perguntando por que estavam aterrando o nosso rio, tão caudaloso e bonito? Por que estavam tirando o morro da cabrita? Eu e os meus colegas ficávamos tristes, mas não imaginávamos os benefícios que dali surgiriam”.
A obra aumentou a área plana de Colatina e assim nasceu o atual bairro Esplanada. No lugar do morro das Cabritas, foi construído o hospital Silvio Avidos, inaugurado em 1949 pelo presidente da República Eurico Gaspar Dutra.
O desenvolvimento urbano resultou na retirada dos trilhos do centro da cidade, em 1975. Uma festa marcou a última viagem, que foi registrada pelo fotógrafo Afrânio Serapião de Souza. “A retirada dos trilhos foi a reportagem mais importante que eu fiz. Foi uma festa que teve muita emoção, tinha gente que gostava de ver o trem passando. Vai deixar saudade”, lembra.
Sem os trilhos, nasceu a avenida Getúlio Vargas, que ainda preserva as características da época, como os casarões e o comércio forte, que se desenvolveu às margens ferrovia. Aos 85 anos, o comerciante Domingos Riva ainda trabalha na loja que ele inaugurou na região central da cidade há 60 anos e destaca as transformações que Colatina viveu desde aquela época. “Antigamente, não havia bairros, só morros. Hoje, os morros estão cheios de bairros, com casas bonitas, modernas. O povo está acreditando em Colatina. É a Princesa do Norte!”, destaca.
Após a emancipação, Colatina ficou com a maior parte do território de Linhares e se tornou o município mais extenso do Estado, com uma área que abrangia os atuais municípios de Águia Branca, Alto Rio Novo, Baixo Guandu, Governador Lindenberg, João Neiva (o distrito de Acioli), Linhares, Marilândia, Pancas, Rio Bananal, São Domingos do Norte, São Gabriel da Palha, Sooretama e Vila Valério.
A primeira perda de área foi em 1935, com a emancipação de Baixo Guandu. Linhares se separou e tornou-se um município novamente em 1945. Depois, se emanciparam Pancas e São Gabriel da Palha, em 1963, Marilândia, em 1980, e São Domingos do Norte em 1990. Governador Lindenberg foi o último distrito a se separar de Colatina, em 1998.
Nascida em São Paulo, em 1864, Colatina Soares de Azevedo era neta do Barão de Paranapanema. De uma família tradicional e influente, Colatina era católica, recebeu boa formação acadêmica e cultural, bem acima da média para as mulheres da época. Ela se casou com o capixaba Muniz Freire em 1882, antes dele se tornar governador do Espírito Santo, entre 1892 e 1896, e, depois, de 1900 a 1904. O casal teve 10 filhos.
No discurso da época, o então desembargador Afonso Cláudio disse: “Esta homenagem à paulista certamente tornará próspera a futura cidade”.
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