Campeão do Brasileiro e da Copa Libertadores no mesmo fim de semana, o Flamengo finalmente colheu os primeiros frutos polpudos da reestruturação financeira pela qual passou nesta década.
A confirmação do título nacional veio neste domingo, sem entrar em campo, após o Palmeiras perder do Grêmio pela 34ª rodada. Treze pontos à frente dos alviverdes e do Santos, os rubro-negros não podem mais ser ultrapassados até a 38ª rodada.
Com o heptacampeonato, o Flamengo empata com o Corinthians em número de conquistas do Nacional. A taça de 2019 se junta às de 1980, 1982, 1983, 1987, 1992 e 2009 na sala de troféus do clube carioca. O Palmeiras tem 10, e o Santos, 8.
Após um período de contenção de gastos, o clube ganhou poder de investimentos bem superior ao da maioria dos concorrentes, mas não vinha transformando isso em conquistas expressivas.
Com o elogiado elenco montado para a temporada 2019 e o também aclamado trabalho do treinador português Jorge Jesus, vieram as primeiras grandes taças. A principal delas foi erguida no Peru pelo presidente Rodolfo Landim, mas a mudança começou com seu antecessor, Eduardo Bandeira de Mello.
Símbolo do Flamengo de saúde financeira e de decepções na busca pelos principais objetivos esportivos, Bandeira assumiu o clube em 2013 e encontrou situação complicada. Acumulou frustrações em campo e foi criticado pela condução do departamento de futebol, mas, ao fim de seu segundo mandato, no final de 2018, entregou a agremiação a Landim em outro estado.
No início do primeiro mandato, o último presidente rubro-negro teve de lidar com uma dívida de R$ 741 milhões (R$ 1 bilhão, em valores atuais, corrigidos pelo IPCA). Embora a equipe tenha vencido a Copa do Brasil naquele ano, ficou claro que a prioridade era equacionar as dívidas e começar a pagá-las, o que limitou bastante os investimentos no futebol.
O faturamento começou a escalar ainda em 2013, porém foi só em 2015 que uma parcela maior do dinheiro passou a ser destinada ao carro-chefe do clube --foi nessa temporada que chegou o centroavante peruano Paolo Guerrero. O primeiro momento foi de contenção de gastos.
"Outros clubes tiveram crescimento de receitas, com venda de atletas, mas optaram por gastar na atividade [futebol]. Essa é a grande diferença do Flamengo. Enquanto o clube se organizou pensando no futuro, outros pensaram no presente", disse o economista Cesar Grafietti, consultor do Itaú BBA, que analisou as finanças dos 20 times da Série A do Brasileiro.
No fim do exercício de 2018, a dívida do Flamengo já havia caído para R$ 469 milhões. Embora o valor possa ser considerado alto, é bem menor, por exemplo, do que o apresentado pelo rival Botafogo (R$ 730 milhões). Em 2018, para cada R$ 1 de receita gerada, houve endividamento de R$ 0,87. O superavit foi de R$ 45,8 milhões, o que mostra a situação sob controle.
Outro fator importante é a composição da dívida. Dos R$ 469 milhões, são R$ 305 milhões em dívidas tributárias, e elas estão equacionadas por meio do Profut (Programa de Modernização da Gestão de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro), implementado pelo governo federal em 2015. Com a dívida com a União parcelada em 20 anos, o clube pôde sanar dívidas bancárias e trabalhistas.
"O endividamento de hoje não é nocivo ao caixa, como empréstimos a curto prazo", afirmou Pedro Daniel, diretor da empresa de auditoria EY.
Foi essa saúde que permitiu ao Flamengo fazer grandes investimentos para o elenco nesta temporada. Nas chegadas de Rodrigo Caio, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol, de acordo com balancete do primeiro semestre, foram gastos R$ 135,8 milhões. Depois, ainda chegariam os laterais Rafinha e Filipe Luís e o meio-campista Gerson.
A folha salarial, incluindo gastos com a comissão técnica, é de R$ 8 milhões, valor que não inclui direitos de imagem. E agora todo o investimento teve retorno esportivo.
Na última década, a única conquista que havia superado o nível estadual tinha sido a Copa do Brasil de 2013. Na Libertadores, multiplicaram-se os fracassos precoces. No Brasileiro, o máximo foi o vice-campeonato de 2018, oito pontos atrás do Palmeiras.
Bandeira de Mello só pôde colher como torcedor os frutos que plantou como presidente, algo que ele fez sorridentemente no triunfo sobre o River Plate, em Lima. Pagou do próprio bolso a viagem e o ingresso, já que o atual presidente, que já foi de seu grupo político, tornou-se desafeto.
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