Fechar os portões para a entrada de torcedores nos estádios já não parece ser uma medida suficiente para manter a bola rolando no futebol internacional.
O surto de coronavírus, agora oficialmente uma pandemia pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que interrompe torneios e disputas esportivas locais todos os dias ao redor do mundo, está fechando também as fronteiras dos países para a prática do esporte.
Nesta quarta-feira (11), a Roma informou que foi impedida pelas autoridades da Espanha de viajar ao país para o duelo que teria contra o Sevilla, nesta quinta (12), pelas oitavas de final da Liga Europa.
O espanhol Getafe, que também teria um compromisso pelo torneio europeu, se recusou a viajar para a Itália, onde enfrentaria a Inter, em Milão. A cidade fica na região da Lombardia, epicentro do coronavírus na Europa.
Com 9.000 casos confirmados de pessoas infectadas e 460 mortes até esta terça (10), a Itália determinou a suspensão de todas as competições esportivas até abril. A circulação de cidadãos pelo país também está vetada, salvo por razões de saúde, trabalho e "casos de necessidade".
"Não queremos nos meter no foco do coronavírus, não é necessário. Pedimos ajuda à Federação [Espanhola] para que exija a suspensão [do jogo]. Se temos que perder a eliminatória, perderemos. Eu é que não vou assumir nenhum tipo de risco", disse o presidente do Getafe, Ángel Torres, em entrevista à rádio Onda Cero.
A Uefa anunciou o adiamento das duas partidas, ainda sem data para acontecerem.
O exemplo de Roma e Getafe mostra que a manutenção ou interrupção do calendário de competições já não é uma decisão que cabe fundamentalmente a clubes ou federações, mas sim a governos, responsáveis por tomar as medidas cabíveis em questões de saúde pública como essa.
A continuidade do futebol internacional também põe em risco os principais personagens do jogo, que são os jogadores, submetidos a viagens e, portanto, à possibilidade de contato com a doença.
O confronto entre Arsenal e Manchester City, por exemplo, que aconteceria na noite desta quarta-feira, foi adiado pela organização da Premier League. Isso porque nesta terça soube-se que o presidente do Olympiakos, adversário do clube de Londres no último dia 27, contraiu covid-19 (a doença causada pelo novo coronavírus) e entrou em contato com atletas de sua equipe após a partida na capital inglesa.
Esse episódio forçou o Arsenal a manter seus jogadores isolados em suas respectivas casas por 14 dias. Dirigentes do clube que sentaram próximo a Evangelos Marinakis, presidente do Olympiacos, também estão em quarentena. Segundo o Arsenal, o período de duas semanas segue a recomendação do próprio governo inglês.
O adiamento do jogo da Premier League marca, enfim, a entrada de fato do tema coronavírus no futebol da Inglaterra. Até então, a liga era a única que não havia tomado medidas mais drásticas com relação à disputa dos jogos, como o adiamento das partidas ou a realização delas com portões fechados.
Como medida de prevenção, a federação inglesa havia anunciado somente o protocolo que orienta os jogadores a não se cumprimentarem com aperto de mãos antes ou depois dos jogos.
"Nós PRECISAMOS ser mais responsáveis do que nunca agora. Nós todos, mais do que ninguém, amamos e apreciamos o futebol, mas a saúde e a segurança de todos nós PRECISA vir sempre em primeiro lugar", escreveu o meio-campista Cesc Fàbregas, ex-jogador de Arsenal e Chelsea e atualmente no Monaco, em sua conta no Twitter.
A FIFPro (Federação Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol), representante global dos atletas e com 65 associações nacionais da classe afiliadas, emitiu um comunicado no qual apela às autoridades da indústria do futebol que suspendam treinamentos e competições a fim de preservar a integridade dos jogadores.
"Viagens além-fronteiras e público nos jogos criam um alto risco, afetando todos, desde espectadores a jogadores, oficiais das partidas e estafe dos clubes. Pedimos que as autoridades tomem decisões transparentes, razoáveis e consistentes baseadas em diretrizes governamentais", diz a nota da FIFPro.
"Jogadores profissionais, como qualquer outro trabalhador, estão preocupados com eles e com suas famílias e amigos expostos ao coronavírus. Pedimos que os empregadores e organizadores de competições respeitem os desejos dos atletas de tomar medidas preventivas, incluindo a suspensão de treinamentos e torneios."
A mesma dúvida que paira sobre a continuidade do calendário internacional do futebol de clubes também já chegou às seleções. As eliminatórias asiáticas para a Copa do Mundo do Qatar, em 2022, marcadas para o fim de maio e para o início de junho, já foram adiadas.
No futuro próximo, a Uefa tem uma Eurocopa pela frente. Prevista para ser disputada de 12 de junho a 12 de julho, a edição deste ano do torneio de seleções será itinerante, espalhada por 12 cidades do continente, entre elas Roma.
A Conmebol também já age para organizar (ou reorganizar) as suas competições. O Paraguai não terá presença de público nos próximos eventos esportivos por determinação do governo. Palmeiras e Santos, por exemplo, ainda jogarão pela Libertadores no país.
Ainda, a entidade sul-americana terá uma nova edição da Copa América em 2020, que será realizada um ano após a última disputa justamente para se adequar ao calendário da Eurocopa.
"A Conmebol irá analisar detalhadamente cada caso e como afeta suas competições e acatará as decisões das autoridades sanitárias respeitando sempre as regulamentações locais. Diante das frequentes consultas sobre as eliminatórias para o Qatar-2022, a Conmebol lembra que essa é uma competição organizada pela Fifa e qualquer notícia a respeito será comunicada pelos canais oficiais da entidade matriz", afirmou a confederação sul-americana.
Procurada, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) ainda não informou se pretende tomar alguma medida emergencial.
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