O centro de treinamento Ninho do Urubu, em Vargem Grande, tem sido, nos últimos anos, um dos personagens de um cabo de guerra entre Flamengo e Prefeitura do Rio de Janeiro. O episódio mais recente diz respeito às medidas em meio à pandemia de coronavírus, mas outras questões já estiveram em disputa entre o clube e os órgãos municipais.
Favorável a um rápido retorno do futebol desde o começo do surto de contágio de Covid-19, o Flamengo, na última terça-feira (19), passou a realizar treinamentos sem as devidas liberações dos órgãos governamentais. No mesmo dia, o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) disse que a volta aos treinamentos só seria liberada após a gestão entender que a pandemia está controlada, com baixa taxa de contaminação e maior disponibilidade de leitos de UTI na cidade.
Diante dos atropelos em relação aos decretos das autoridades, fiscais da Subsecretaria de Vigilância Sanitária e da Coordenadoria de Licenciamento e Fiscalização da Secretaria Municipal de Fazenda foram ao Ninho, na última quinta-feira (21), para conferir uma denúncia de descumprimento do Decreto RIO 47.282/20. Entretanto, foram impedidos de realizar tal verificação, o que gerou autuação e multa. No dia seguinte, dirigentes do Flamengo compareceram à Vigilância Sanitária para esclarecimentos sobre o veto.
Tal embate foi mais um capítulo de uma rusga que se intensifica desde o ano passado, quando Prefeitura e Flamengo estiveram em "lados opostos" após o caso de incêndio em um dos alojamentos no CT do clube. O incidente deixou dez jogadores das categorias de base mortos e três feridos.
Em 8 de fevereiro de 2019, horas após a tragédia, autoridades municipais garantiram que o local não tinha alvará de funcionamento por faltar um documento definitivo do Corpo de Bombeiros, motivo pelo qual o clube já havia sido multado 30 vezes.
Além disso, ainda no dia da tragédia, a prefeitura também garantiu que o local atingido pelo fogo não constava no projeto aprovado pela área de licenciamento.
Eduardo Bandeira de Mello, que foi presidente do clube entre 2013 e 2018, por outro lado, contestou a versão da Prefeitura do Rio e ressaltou até que os órgãos municipais haviam feito elogios à gestão rubro-negra.
"Esses assuntos nem sempre chegam à alta administração. Posso garantir que nunca houve nenhum tipo de interdição ou auto de interdição baseado em segurança de trabalho. Isso eu posso garantir. Estranho as declarações que a Prefeitura tenha tentado interditar e não tenha conseguido. Isso é surreal. O que me lembro é que a Prefeitura, através da Secretaria de Criança e do Adolescente elogiou o que vinha sendo feito pelo Flamengo, justamente na questão sobre o tratamento das crianças. Sobre multas, não sei dizer, mas certeza que não chegou nada ao Flamengo sobre problemas de segurança no alojamento", disse o ex-presidente do Flamengo à Rádio Globo, à época.
No fim de fevereiro do ano passado, a Prefeitura chegou a interditar o CT, cumprindo determinação de documento de 2017, jamais efetuada pelo Flamengo. Em meados de março, o clube obteve uma liminar para utilização parcial do CT, liberado completamente em maio.
Neste domingo (24), o prefeito Marcelo Crivella vai se reunir com os clubes. Em pauta, protocolos e diretrizes para o retorno aos treinos, o que ainda está proibido. O Flamengo já vem realizando atividades no gramado, e o Vasco se prepara para a volta, porém, contrário a essa "pressa", Botafogo e Fluminense não devem comparecer ao encontro.
"Estamos propondo, no conselho científico, uma estratégia de retorno. Os clubes que puderem obedecer isso, então a partir do dia 25 poderão [voltar a treinar]. A estratégia é muito rigorosa. No domingo me reúno com os clubes. Agora, reitero apelo para que as medidas sejam obedecidas. Se os clubes não respeitam, então as pessoas em casa também ficam desestimuladas a respeitar. As medida [contra coronavírus] que nós tomamos são ruim para todos", explicou Crivella em coletiva de imprensa na tarde da última sexta-feira (22), quando perguntado sobre o plano que será apresentado na reunião.
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