Na carreira como jogador, o meia Dorielson Meirelles, o Bombom, como é conhecido no futebol, já se deparou com muitos adversários complicados, porém nenhum deles foi tão difícil de enfrentar como o câncer de sangue descoberto ainda em janeiro deste ano.
Durante cerca de nove meses, o camisa 10 campeão capixaba pelo São Mateus em 2009 e com passagens por vários clubes do Espírito Santo desafiou um rival invisível e conquistou a maior vitória da vida: nesta terça-feira (06) ele recebeu da equipe médica a confirmação de que estava curado do câncer sanguíneo do tipo Linfomas não Hodgkin de Células B.
No início de 2020, em São Mateus, onde cresceu e iniciou a trajetória como jogador profissional, Bombom sentiu dores abdominais e procurou o Hospital Roberto Silvares, que fica na cidade ao Norte do Estado. Inicialmente, ele próprio achava ser uma úlcera, porém o diagnóstico foi mais grave. Começou ali uma rápida mobilização de recursos para iniciar o tratamento.
"Eu senti uma dor muito forte e fui com meu amigo Erivelton para o hospital. Fiz uma endoscopia e estava achando que era uma úlcera no estômago, sabe. Mas aí o médico veio e falou que poderia ser um câncer. Aí foi aquele susto, mas graças a Deus apareceram uns anjos em minha vida e que me ajudaram. A primeira foi a Priscila Neves, irmã de um amigo, que logo começou a fazer contato com outros médicos e em pouco tempo eu já estava me tratando. Ela faz residência em São Paulo e agilizou tudo para mim", contou o atleta.
O primeiro exame foi realizado em uma quarta-feira. Dois dias depois, Bombom já estava na capital paulista, onde foi submetido a exames mais detalhados para iniciar a quimioterapia no Complexo Hospitalar Heliópolis, em Sacomã, referência no combate à doença do tipo sanguíneo.
"Ainda em São Mateus, quando falaram em câncer no sangue, logo pensaram que se tratava de Leucemia, que é mais comum. Deu esse tipo de câncer aí que é até difícil falar o nome (Linfomas não Hodgkin de Células B). Felizmente eu caí nas mãos de ótimos profissionais e o tratamento foi iniciado logo. Isso foi determinante para que eu me recuperasse. Foram muitas viagens entre São Mateus e São Paulo, mas agora acabou. Estou curado e só tenho a agradecer a todos que me ajudaram e oraram por mim", contou o jogador.
No período do tratamento, Bombom foi submetido a 6 sessões de quimioterapia e perdeu cerca de 15 quilos. Dos habituais 77 que costuma ter enquanto jogador, o camisa 10 chegou a se aproximar dos 60 quilos no processo para se curar da doença. Para o meia, esses percalços o deixaram mais forte para vencer a batalha contra a doença e já pensar em retomar a carreira.
"Já passei por muita dificuldade nessa vida. Perdi meus pais ainda muito novo. Tive de ralar muito, sabe. Aí apareceu essa doença, mas encarei com a ajuda de gente que eu nem sabia direito quem era. Fizeram rifa, jogo beneficente, festas para arrecadar dinheiro, recebi doações para ajudar com passagens, teve gente com quem joguei contra quando tinha uns 14 anos lá em São Paulo que abriu a porta de casa para me receber durante o tratamento. Faço questão de agradecer especialmente ao pessoal dos bairros Cacique, Vila Nova e Porto, em São Mateus, onde eu cresci. O que fizeram por mim não dá para agradecer. Se for citar um por um, vou ficar até amanhã falando", contou o bem-humorado jogador.
Liberado para voltar às atividades profissionais, Bombom vive a expectativa de voltar ao mundo da bola. Em duas semanas ele espera iniciar gradualmente os treinos leves para em breve voltar a fazer o que mais sabe e gosta: jogar futebol.
"A saudade de jogar é grande demais, é o que mais gosto nessa vida. Cheguei até a pensar em não voltar, mas depois de tudo que passei eu ainda tenho essa chance. Então não tenho porque não voltar. Falo todo dia com meus amigos, entre eles o Ronicley, e eles me incentivam. Pode escrever aí que o Bombom vai dar show de novo e com aquele tapa que eles conhecem. Estou muito feliz e agradecido", disse o meia, que além do Pit Bull do Norte, já jogou pelo Aracruz, Linhares, Desportiva, Rio Branco, Vitória e outros clubes do ES, além de experiências em equipes de outros Estados do país.
Segundo a hematologista Melissa Bosi Mello, do Centro Capixaba de Oncologia (Cecon), os linfomas são classificados de acordo com a Organização Mundial de Saúde, em subtipos. Por isto necessitam de um diagnóstico detalhado. Os linfomas não Hodgkin são, de fato, um grupo complexo de mais de 20 subtipos distintos da doença. Após o diagnóstico, a doença é classificada de acordo com o tipo de linfoma e o estágio em que se encontra (extensão). Para tornar a classificação mais fácil, os linfomas podem ser divididos em dois grandes grupos: indolentes (de desenvolvimento lento) e agressivos (de desenvolvimento rápido).
Os pacientes com linfomas indolentes podem apresentar poucos sintomas por vários anos, mesmo após o diagnóstico. Entretanto, a cura nesses casos é menos provável do que nas formas agressivas de linfoma. Esses últimos podem levar rapidamente ao óbito se não tratados, mas apresentam maior chance de cura.
"É um câncer de células sanguíneas que se desenvolve a partir de células linfáticas dos linfonodos ou gânglios do nosso corpo. Diferentemente da leucemia, que ocorre na medula óssea, onde o sangue é produzido. De uma maneira geral, os linfomas não Hodgkin respondem bem ao tratamento de quimioterapia", salientou a hematologista.
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