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15 anos da morte de Serginho, zagueiro capixaba que teve mal súbito

15 anos da morte de Serginho, zagueiro capixaba que teve mal súbito

A reportagem de A Gazeta conversou com o cardiologista e presidente do grupo de estudos da Sociedade Brasileira de Cardiologia do Esporte, Antônio Carlos Avanza Júnior, que explicou sobre a doença que levou Serginho em 2004

Publicado em 28 de outubro de 2019 às 20:51

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Zagueiro Serginho teve parada cardiorrespiratória durante jogo contra o São Paulo, no Morumbi. (Internet | Reprodução)

No último domingo (27) fez 15 anos do falecimento do zagueiro capixaba Paulo Sérgio Oliveira da Silva, mais conhecido como Serginho, que teve morte súbita durante uma partida de futebol. Ele, que jogava na Associação Desportiva São Caetano, enfrentava o São Paulo no Morumbi naquele 27 de outubro de 2004.

Serginho foi socorrido no gramado, mas morreu cerca de uma hora depois no hospital. A causa da morte, segundo a necropsia, foi uma hipertrofia miocárdica. Após a tragédia, os clubes brasileiros passaram a fazer exames mais minuciosos nos atletas e foi proibido o início de jogos, em qualquer categoria, sem uma ambulância e um médico à disposição no estádio.

Este é um dos casos mais conhecidos de mortes por mal súbito de jogadores de futebol. Serginho morreu aos 30 anos de idade. O capixaba sofria de cardiomiopatia hipertrófica e teve uma parada cardiorrespiratória no início do segundo tempo.

Em entrevista ao Gazeta Online em 22 de maio de 2018, o então presidente do grupo de estudos da Sociedade Brasileira de Cardiologia do Esporte, Antônio Carlos Avanza Júnior, comentou o caso.

Ele afirmou à época que o caso da morte do Serginho foi uma morte anunciada, porque os exames eram conclusivos de que ele não poderia jogar profissionalmente. "Ele sabia do risco de morte súbita. Mas no caso dele, esta é a doença que mais mata no mundo em pessoas abaixo de 35 anos e atletas de futebol", afirmou.

Em conversa com a reportagem de A Gazeta nesta segunda-feira (28), Avanza reforçou que muita coisa mudou desde 2004 quanto aos primeiros socorros em campo. "Naquela época não tinha o desfribilador portátil. Tinha o médico da equipe. No caso do Serginho, tinha a UTI móvel, mas não tinha o desfribilador portátil. Hoje as regras já mudaram. Tem que ter UTI móvel, médico habilitado e o desfibrilador. Até em festa é obrigatório que se tenha", afirmou.

Questionado de mudaria alguma coisa no quadro de Serginho caso tivesse um desfribilador portátil em campo àquela época, Avanza explica que a chance com certeza seria maior.

"Ele tinha cardiomiopatia hipertrófica e tinha sido aconselhado a não seguir como atleta profissional. Ele foi examinado pela equipe do Instituto do Coração (Incor) e os cardiologistas de lá contraindicaram que ele praticasse atividade física. É difícil. Essa doença é a principal causa de morte súbida em menores de 35 anos", completou Avanza.

MORTE SÚBITA OU PARADA CARDÍACA?

A denominação de "mal súbito" é mais ampla, de modo que não é necessariamente ligada ao quadro de doenças do coração. "A morte súbita pode ter várias causas, inclusive a não cardiológica. Ele teve uma parada cardiorrespiratória e uma morte súbita, rápida. Qualquer pessoa pode ter a morte súbida, mas têm formas de previnir", explicou o médico.

Quem tem alguma doença genética do coração, por exemplo, deve ficar alerta. É neste tipo de caso, segundo Avanza, em que a doença pode ser silenciosa e não ser registrada em exames. "Existem doenças genéticas que não aparecem nos exames, e aí a pessoa tem morte súbita e depois ficam tentando entender o porquê. Mas, no caso do Serginho, foi por conta dessa doença do coração mesmo", completou.

CARDIOMIOPATIA HIPERTRÓFICA

Esta é uma doença em que os músculos cardíacos tornam-se anormalmente espessos.

- O tratamento pode ajudar, mas essa doença não tem cura;

- Requer um diagnóstico médico;

- Sempre requer exames laboratoriais ou de imagem;

- É uma doença crônica, que pode durar anos ou a vida inteira.

A cardiomiopatia hipertrófica dificulta o bombeamento de sangue pelo coração e, muitas vezes, não é diagnosticada. A maioria das pessoas com essa doença não apresenta sintomas nem problemas significativos. Em alguns indivíduos, isso pode causar falta de ar, dor no peito ou batimentos cardíacos anormais (arritmias).

O tratamento pode incluir cirurgia, um dispositivo implantável ou medicamentos para retardar ou controlar a frequência cardíaca, mas nunca a cura. Avanza frisa que o principal sintoma é a síncope — ou seja, os desmaios. Quem também tem a doença, pode sentir palpitação/arritmia.

Aspas de citação

Quem tem essa doença não pode de jeito nenhum ser um atleta de alto rendimento. Aliás, para qualquer atividade física, independente de ser atleta ou não, a pessoa deve sempre passar pela avaliação do médico para fazer atividade física. O desfecho da história triste de Serginho era totalmente prevenível. É importante falar que, independente de ser atleta ou não, a pessoa deve sempre passar por avaliação do médico para fazer atividade física

Antônio Carlos Avanza Júnior
Presidente do grupo de estudos da Sociedade Brasileira de Cardiologia do Esporte
Aspas de citação

Serginho era casado com Helaine Cristina Cunha, com quem teve um filho: Paulo Sérgio, hoje com 24 anos. Pelo São Caetano: fez 232 jogos e marcou 14 gols; quarto jogador que mais atuou pelo clube (terceiro do atual elenco), atrás de Sílvio Luiz, Dininho e Daniel, com 114 jogos disputados.

Times profissionais: Patrocinense-MG (1995), Social-MG (1995 a 1998), Democrata-MG (1996), Mogi Mirim-SP (1996), Ipatinga-MG (1998), Araçatuba-SP (1999), São Caetano-SP (1999 a 2004). Títulos: vice-campeão brasileiro em 2000 e 2001, vice-campeão da Libertadores em 2002 e campeão paulista de 2004.

OUTROS JOGADORES COM PROBLEMAS CARDÍACOS

WASHINGTON, 'CORAÇÃO VALENTE'

Ídolo do Fluminense e Athletico, Washington teve uma artéria obstruída diagnosticada quando defendia o Fenerbahçe, da Turquia. O jogador então com 27 anos foi aconselhado a abandonar o futebol. Ele voltou ao Brasil em 2002 e passou por um cateterismo e uma angioplastia. O retornou se deu menos de um ano depois, pelo Athletico. Dois anos depois, Washington quebrou o recorde de gols em uma edição do Brasileiro, ainda pelo clube paranaense. Ele também foi destaque no Fluminense e até hoje é tratado com carinho pelos torcedores do clube, que o apelidaram de "Coração Valente".

FABRÍCIO CARVALHO

Fabrício Carvalho foi o artilheiro do São Caetano em 2004. No ano seguinte, com 27 anos, precisou se afastar dos gramados quando teve detectada uma arritmia cardíaca, nos exames de pré-temporada. Fabrício só voltou a jogar em 2007, pelo Goiás. Ele também passou por clubes como Portuguesa, Remo, Bragantino, Oeste, Ferroviária, Guaratinguetá e Cabofriense. Em 2015, encerrou a carreira pelo Taboão da Serra. Hoje. Fabricio é cantor de música gospel.

RENATO ABREU

Em março de 2012, Renato Abreu descobriu uma arritmia, quando passou por exames no Flamengo. O submeteu-se a uma cirurgia no coração e voltou a treinar menos de um mês depois. Jogou normalmente a temporada daquele ano pelo Flamengo e foi para o Santos no ano seguinte, seu último clube na carreira.

IVO WORTMANN, O CORAÇÃO DE LEÃO

O hoje treinador Ivo Wortmann, ficou conhecido como "Coração de Leão" nos anos 70, quando ainda era jogador. Ivo teve passagens marcantes pelo América-RJ e Palmeiras. Em 1975, deixou de se transferir para o Atlético de Madrid, porque os exames médicos do clube espanhol diagnosticaram um problema cardíaco. O "Coração de Leão" voltou ao Brasil e seguiu atuando. Como treinador, Wortmann rodou o mundo entre clubes e seleções.

DONI

o ex-goleiro Doni, que atuou pela seleção Brasileira, decretou o fim da sua carreira nos gramados em 2013, por problemas cardíacos. No ano anterior o então goleiro Liverpool, da Inglaterra, sofreu uma parada cardiorrespiratória e detectou uma arritmia cardíaca em exames feitos depois do incidente. De volta ao Brasil, chegou a assinar contrato com o Botafogo-SP, mas acabou optando pela aposentadoria, antes do retorno aos gramados.

EVERTON COSTA

Ex-Vasco e Santos, Everton Costa, que atuava como atacante, sentiu uma arritmia cardíaca aos 28 anos, em 2014, durante jogo do Cruz-Maltino na Copa do Brasil, contra o Resende. Ele ficou seis dias internado e passou por uma cirurgia para implantar um desfibrilador no coração, uma espécie de marca-passo. Costa não conseguiu mais voltar ao gramados e anunciou a aposentadoria precoce em fevereiro de 2015.

DIEGO SACOMAN

O ex-zagueiro da Ponte Preta foi reprovado nos exames médicos do Athletico por ter uma hipertrofia no coração constatada nos exames de admissão no clube paranaense. O jogador precisou ficar quatro meses de repouso total para o coração diminuir de tamanho. Em 2015, retornou aos gramados pelo Santa Cruz e foi campeão pernambucano. Atualmente, aos 32 anos, defende o Juventus-SP.

FABRICE MUAMBA

Em 2012, o ex-jogador Fabrice Muamba, nascido no Congo e naturalizado inglês, foi forçado a se aposentar do futebol depois de sofrer um ataque cardíaco e ficar com o coração 78 minutos sem bater, quando atuava pelo Bolton, que enfrentava o Tottenham, pela Taça da Inglaterra. Então com apenas 24 anos, Muamba ainda passou por duas cirurgias para tentar voltar a jogar, mas anunciou sua aposentadoria agosto do mesmo ano.

MARC-VIVIEN FOÉ

Outro caso trágico de morte no futebol foi o do camaronês Marc-Vivien Foé, em junho de 2003, durante a Copa das Confederações, na França. O jogador desabou no centro do campo e os médicos ainda tentaram reanimá-lo por 45 minutos, sem sucesso. A causa da morte foi uma cardiomiopatia hipertrófica.

ADILSON

Antes de Biro Biro, o caso mais recente tinha ocorrido com o volante Adilson, do Atlético-MG. Em entrevista coletiva na última sexta-feira, o jogador, ao lado de Rodrigo Lasmar, médico do clube, e Rui Costa, diretor de futebol, confirmou que terá de se aposentar do futebol pela descoberta de problemas cardíacos. O clube informou que o atleta foi diagnosticado com cardiomiopatia.

Serginho era casado com Helaine Cristina Cunha, com quem teve um filho: Paulo Sérgio, hoje com 24 anos. Pelo São Caetano: fez 232 jogos e marcou 14 gols; quarto jogador que mais atuou pelo clube (terceiro do atual elenco), atrás de Sílvio Luiz, Dininho e Daniel, com 114 jogos disputados.

Times profissionais: Patrocinense-MG (1995), Social-MG (1995 a 1998), Democrata-MG (1996), Mogi Mirim-SP (1996), Ipatinga-MG (1998), Araçatuba-SP (1999), São Caetano-SP (1999 a 2004). Títulos: vice-campeão brasileiro em 2000 e 2001, vice-campeão da Libertadores em 2002 e campeão paulista de 2004.

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