Quantas pessoas você consegue lembrar que já subiram longas escadarias para pagar alguma promessa feita e atendida? Para cinco amigos flamenguistas, porém, bastaram 16 degraus - que davam acesso às macas, no segundo andar de um estúdio de tatuagem na Praia do Canto, em Vitória.
Vestido a caráter, com a camisa rubro-negra, o primeiro deles a chegar, às 15h30 desta quinta-feira (12), não deixou dúvidas do motivos por estar ali. Com um urubu tatuado na panturrilha direita, o administrador Thiago Simões estava prestes a fazer a segunda tattoo em homenagem ao time do coração.
Discutindo pequenos ajustes com a tatuadora Cíntia Gonçalves, ele pediu para acrescentar duas estrelas ao desenho. "Vai que ano que vem ganha de novo?! Aí é só vir aqui e acrescentar mais uma", brincou com o otimismo de quem recém conquistou o título de melhor da América.
Junto dele chegou a estudante Adrieli Rocon. Com 14 tatuagens, ela reservou a parte do corpo na qual mais sofreu anteriormente para eternizar o momento: a costela. "A dor é grande, mas se eu sobrevivi à final, eu aguento isso", garantiu ela, relembrando a decisão conquistada diante do River Plate, de virada por 2 a 1, nos minutos finais.
O zumbido das maquininhas começou pouco depois das 16h. Com o contorno da taça da Libertadores envolta por uma bandeira vermelha e preta, a base do desenho foi a mesma para todos. Apenas o escrito abaixo dela é que variou. Teve quem preferiu colocar a data do título, o ano das duas conquistas ou a frase "até o fim", que surgiu nos mosaicos feitos pela torcida na arquibancada.
Enquanto era tatuado, Thiago avisou a mãe por mensagem da "loucura" que estava cometendo. Vascaína, ela deu uma leve cutucada no filho: "Outro urubu?". Próxima na fila, Adrieli confessou que esperaria para contar depois de feita. "Eles vão ver, não vai ter jeito, mas a família é toda tricolor", contou.
Enquanto ela estava deitada de lado na maca, chegou o terceiro amigo da turma, o gestor comercial Márcio Cândido Lima. Diferentemente dos outros dois, para ele seria a primeira tatuagem. "Quando eu ameaço ter dor de cabeça eu já tomo remédio. Odeio sentir qualquer tipo de dor. Estou com medo", admitiu.
Apesar da ansiedade e do nervosismo, ele explicou por que não desistiu. "Se eu tivesse feito essa promessa depois da final, eu teria que fazer dez tatuagens, de tanto que chorei de alegria", lembrou. "Hoje, apesar de tudo, não podia deixar de fazer. Imagina se eu não faço, e o Flamengo perde o mundial por minha causa?".
A apreensão, porém, durou pouco. No meio da tatuagem, Márcio já estava mais tranquilo. "A primeira agulhada parecia uma navalha cortando a pele, mas agora acho que me acostumei. Conversar também está me ajudando a ficar distraído e não pensar na dor". No fim, o resultado foi aprovado. "Ficou massa!", exclamou em frente ao espelho.
Quarta integrante da turma, a administradora e bióloga Lucélia Possatti chegou ao local sem saber onde faria a tatuagem e vestindo a camisa com a qual assistiu a todos os jogos da Libertadores deste ano. "Acho que vou fazer na costela. Eu sei que dói, mas é para eternizar o momento. Pelo Flamengo vale à pena", comentou.
Rubro-negra fanática, ela relembrou até os momentos de sufoco do time ao longo da história e também neste ano - quando, aliás, a promessa foi firmada. "Prometemos depois do primeiro jogo das oitavas de final, contra o Emelec (Equador), quando tínhamos perdido de 2 a 0", contou.
O último a chegar foi o auxiliar administrativo Vinícius da Rocha da Silva. Apesar de também encarar as agulhas pela primeira vez, no tríceps, ele era só tranquilidade e otimismo às 20h. "Todo o grupo já cumpriu essa loucura e vale à pena. Com a promessa cumprida, as expectativas estão lá em cima para o mundial, adiantou.
Ao todo, foram sete os amigos que se comprometeram a fazer a tatuagem. Além dos cinco que encararam as agulhas durante esta quinta-feira (12), uma amiga já fez o prometido na semana passada e outra ainda deve fazer nos próximos dias. Tatuados, eles voltam a se encontrar na terça-feira (17), para assistir a semifinal do Flamengo, no Mundial de Clubes.
Questionado sobre a existência de outra promessa, caso o Rubro-Negro seja campeão do mundo, o grupo foi unânime e garantiu que não. "Depois da final, talvez seja bom só fazer um exame no fígado para ver se ele continua bom depois de tanto churrasco e cerveja", brincaram.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta