Mesmo mal gerido e à margem dos grande centros, o futebol do Espírito Santo sempre revelou jogadores para as principais equipes do país e para a Seleção Brasileira. Tanto que, hoje, em todas as categorias, tem ao menos um capixaba representando o Estado.
Nesta semana, mais uma promessa da base vai dar continuidade a essa tradição e vestirá a camisa amarela. Aos 18 anos, o lateral-direito Ramon Rocha, do Palmeiras, foi convocado pelo técnico André Jardine para a Seleção Sub-20, que enfrenta Peru e Colômbia, em um torneio amistoso na Granja Comary, no início de dezembro.
Nascido em Baixo Guandu, cidade com pouco mais de 30 mil habitantes e localizada na divisa do Espírito Santo com Minas Gerais, Ramon lembra que levou um susto quando soube da convocação.
"Essa foi a minha primeira convocação e, para mim, foi um susto. Uma coisa dessa às vezes te deixa sem acreditar. Mas isso é o resultado do trabalho que venho fazendo no Brasileiro. Sabia que esse ano ainda teria uma convocação de Sub-20 e, se eu desse o meu melhor, poderia ter uma oportunidade. Estou muito feliz e tenho certeza que terei um experiência incrível, quero aprender e aproveitar a chance da melhor forma possível".
Ramon, que foi convocado pela primeira vez, é o segundo guanduense a figurar em uma das categorias da seleção. O meia-atacante Pedrinho, do Grêmio, também está representando o Brasil, mas na Sub-17, que nesta quinta-feira garantiu a vaga na final da Copa do Mundo.
Amigos de infância, as jovens promessas estão sempre em contato, por telefone, e se encontram nas férias em Baixo Guandu. Ramon afirma que recebeu uma ligação de Pedrinho, minutos após saber da sua convocação.
"Ele (Pedrinho) é um irmão que tenho de outra mãe. Nós crescemos juntos. Nas férias, quando vamos para Baixo Guando, estamos sempre juntos, curtindo, brincando, conversamos bastante... E, minutos após eu receber a notícia da minha convocação, ele me ligou para trocar uma ideia. Me passou qual foi a sensação dele ao saber da primeira convocação e essas coisas. Ele é meu irmãozão".
Lateral saiu de casa com apenas 11 anos
A história de Ramon até a primeira convocação para a Seleção Brasileira começou em 2012, quando saiu de casa, aos 11 anos, e foi jogar no Ubaense, clube formador de Minas Gerais. O jogador foi descoberto por um olheiro e passou quatro anos no time mineiro. Ramon lembra que abriu mão da vida ao lado da família e dos amigos para apostar no sonho de ser jogador profissional, assim como o seu irmão Júnio Rocha, lateral do Rio Ave, de Portugal.
"João Carlos (Tatu) me levou para o Ubaense, clube formador de jogadores, quando eu tinha 11 anos. Quando eu saí de Baixo Guandu, abri mão de muitas coisas, família, amigos... E tudo isso, no começo, foi muito difícil. Mas meus pais sempre acreditaram no meu sonho de ser jogador, assim como meu irmão, que hoje é profissional. Eu sempre quis seguir a trajetória dele e o tenho ele como exemplo".
Ao mesmo tempo que buscava se firmar como jogador, o então adolescente Ramon teve que aprender cedo a se tornar adulto. O lateral sempre teve como objetivo maior mudar a vida da sua família.
"A minha força para superar isso foi o apoio dos meus pais Lucimar e Eraldo, dos meus irmãos Vitor, Eduarda e Júnio e da vontade de conquistar algo para dar o melhor para a minha família. Aos poucos fui me acostumando, tive que virar adulto rápido, criar responsabilidades e hoje vou sempre nas férias para visitá-los".
Campeão Mundial pelo Palmeiras
Quatro anos após iniciar a carreira no Ubaense, Ramon conseguiu chegar à base do Palmeiras, onde conquistou muitos títulos, entre eles o Mundial em cima do Real Madrid, e assinou o seu primeiro contrato profissional, que vai até o 2021.
"Em 2015 fui observado por um olheiro do Palmeiras (Douglas), que me viu jogando e decidiu me levar para São Paulo. Passei um mês sob avaliação, depois acabei ficando, onde estou aqui até hoje. Nesse tempo, conquistei diversos títulos: Paulistas, na Itália e o Mundial contra o Real Madrid".
Em São Paulo há quatro anos, hoje Ramon mora em um hotel, que tem parceria com o Palmeiras. O lateral-direito treina durante o dia e estuda à noite.
"Moro em um hotel muito bom com os jogadores, em quartos duplos, em um bairro bem bonito, perto de shopping... A gente treina de manhã, em um local a 20 minutos de ônibus do hotel e estuda à noite. De tarde ficamos livres. No ano que vem acho que vou sair para morar em um apartamento".
Vivendo há quase oito anos longe de Baixo Guandu, Ramon sente saudades de casa mas segue em busca do seu sonho.
"São Paulo é uma cidade com muitos sonhadores. No nosso time tem jogadores que, assim como eu, jogam fora dos seus estados. Todo mundo buscando acreditando e correndo atrás dos seus sonhos".
Semifinal do Brasileirão Sub-20
Antes de se apresentar na Seleção Brasileira, Ramon Rocha estará com o Palmeiras na disputa do jogo de volta das semifinais do Campeonato Brasileiro Sub-20, contra o Vasco. Após o empate de 1 a 1, na ida em São Paulo, o Alviverde precisa de uma vitória, no Rio de Janeiro, para avançar à decisão.
Confiante na classificação, o lateral-direito diz que o seu time está preparado para buscar a vaga e posteriormente brigar pelo título com Corinthians ou Flamengo.
"Temos um grupo bem experiente e não tem muito o que se fazer de diferente. A gente trabalha todo dia e o nosso time já sabe o que tem que ser feito. Vamos jogar com alegria e vai passar o time que merecer. Por isso, temos que fazer por merecer para sairmos classificados para a final. Se a gente chegar, não tenho preferência entre Corinthians ou Flamengo. Sendo qualquer um, o Palmeiras vai impor o seu jogo e buscar mais um título".
A partida acontece neste sábado, às 14h, no estádio Nivaldão, em Nova Iguaçu.
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