O Kleber Andrade é um estádio que deveria, ao menos, se manter, conforme as próprias expectativas do Palácio Anchieta. Mas isso está muito longe de acontecer. O governador Renato Casagrande relata que o custo alto já era esperado quando o Klebão foi inaugurado, mas admite que há uma discrepância muito grande entre o que é investido em manutenção e o que é arrecadado com os aluguéis dos jogos.
Casagrande é enfático ao afirmar que o estádio seria melhor aproveitado se a gestão fosse para as mãos do setor privado. Caso isso não seja possível, o governo buscará formas de reduzir os gastos.
O governo espera lucro do Kleber Andrade ou apenas que ele se pague?
Lucro não. O máximo que a gente pode esperar, e também com dificuldade, é que ele se mantenha. Mas na hora que construímos o Kleber Andrade, não foi para ele dar resultado financeiro para o Estado e sim que ele fosse um local para que o Estado tenha condições de receber jogos do Estado e de fora, como a gente recebe.
O Kleber Andrade foi reinaugurado em dezembro de 2014. A obra foi anunciada em R$ 180 milhões. Desde janeiro de 2015, quando a Secretaria Estadual de Esportes assumiu a administração do estádio, foram gastos mais de R$ 7 milhões com manutenção e foi arrecadado pouco mais de R$ 350 mil. A receita com o estádio equivale a menos de 5% do valor gasto com a manutenção. Isso não faz dele uma despesa absurda para o Estado?
É uma discrepância, porque também o estádio ficou abandonado nesses quatro anos. Agora que entramos no governo nós estamos pensando em fazer investimento, concluir o estádio, mas ele ficou quatro anos entregue às moscas. Isso atrapalhou até a atração de eventos pro estádio. Assim que ele estiver com todo o investimento, o Estado pode ir melhorando a gestão e até transferi-la para a gestão privada (através de PPP ou concessão). Mas a realidade dos últimos anos é de abandono.
Na atual situação do governo, essa diferença de valores chega a ser preocupante?
A palavra talvez não seja preocupante, é um dado que exige que o Estado possa buscar parceria para reduzir essa despesa.
Não era uma despesa esperada quando ele foi inaugurado?
Despesa esperávamos, porque sabemos que o estádio não tem sustentabilidade financeira. Quando você constrói um equipamento público como aquele, o Estado tem que aportar algum recurso. Ali não tem, no primeiro momento, retorno para alguém. O Estado quando faz um equipamento daquele, é como construir uma estrada. Você não faz uma rodovia achando que não vai ter despesa. Tem manutenção. O estádio é a mesma coisa, você sabe que tem que incorporar uma despesa. Aquele é um equipamento público, não foi feito para dar retorno. Mas ele pode ser melhor gerenciado.
Além do aluguel, há outras formas de arrecadação?
Se passado para o setor privado, sim. Estamos vinculados a interessados a partir desse momento que a gente lança uma carteira de possibilidade de parceria e recebe sugestões.
Então ele seria melhor aproveitado se tivesse essa gestão privada?
Seria, porque você iria além do futebol. O futebol capixaba tem uma arena do nível A, que é o Kleber Andrade. Tem clássicos, possibilidade de receber Mundial, tem capacidade de receber muito público. Porque aí a expertise de quem gerencia uma arena como aquela pode atrair jogos, shows. Mas para que tenha um retorno ou reduza as despesas, é bom que tenha alguém com a visão comercial. Eu sou muito defensor de transferir para o setor privado.
E se não aparecer nenhuma empresa?
Nós vamos gerenciar melhor o estádio. É um equipamento público. Vamos receber jogos, vamos cobrar, o futebol capixaba precisa de apoio, nós já apoiamos, seja na Série D, Capixabão. Uma forma de apoiar também é você estar ofertando um equipamento bom como aquele.
À época da construção e até da reinauguração do estádio muito se falava sobre a necessidade do Espírito Santo possuir uma praça esportiva que fosse capaz de impulsionar o crescimento do futebol capixaba, o que não aconteceu. Em sua avaliação, o estádio contribuiu ou não conseguiu cumprir com esse objetivo?
Não é papel do estádio. O estádio é um equipamento que você pode ofertar o torcedor um local mais agradável, seguro para que ele assista aos jogos. Mas não é escola que faz o aluno ou o estádio que faz o atleta. A situação do futebol capixaba é decorrente de uma série de fatores. Não é o estádio que vai resolver essas dificuldades.
Entenda nosso trabalho
Por que fizemos esta matéria?
Na cobertura diária do futebol local, percebemos que na maioria dos jogos no Kleber Andrade o público é muito baixo. Assim, decidimos levantar os gastos e as receitas do governo com o estádio e constatamos que os números são decepcionantes. A praça esportiva não consegue se manter e ainda consome muito do dinheiro público.
Como apuramos as informações?
Verificamos os boletins financeiros de todos os jogos realizados no estádio desde 2014 e contamos com dados fornecidos via Lei de Acesso à Informação. Esses números embasaram todas as nossas análises.
O que fizemos para garantir o equilíbrio?
Analisamos os dados e ouvimos todos os responsáveis pelo Kleber Andrade. Para não ficar apenas no problema, conversamos com especialistas que apontaram possíveis soluções para o estádio.
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