Em pleno 2019 há quem acredite que não dá para confiar em goleiros negros. Ficou surpreso? O racismo deixa marcas debaixo das traves no Brasil desde os anos 50. Não é novidade que incontáveis jogadores no país do futebol são negros. Mas quantos camisas 1 negros atualmente defendem a meta dos seus times? Pouquíssimos. E por qual motivo: falta de qualidade ou preconceito?
Os números não mentem. Quando o assunto é Série A do Campeonato Brasileiro, dos 20 times, apenas um tem um goleiro negro titular: o Fluminense com Rodolfo. No Capixabão, titulares, temos Walter, do Serra, Bambu, do Atlético Itapemirim, e Paulo Henrique, do Real Noroeste.
Na Seleção Brasileira não é diferente. Poucos negros estiveram na meta do Time Canarinho nos últimos anos. O goleiro Barbosa foi um dos grandes símbolos do preconceito e da perseguição. Ele se tornou o vilão da Copa de 50 na derrota do Brasil para o Uruguai, em plena final no Maracanã. Para muitos, a falha de Barbosa gerou uma desconfiança em torno de goleiros negros.
Considerado um dos melhores arqueiros daquela época, Barbosa eternizou a seguinte frase. A pena máxima por um crime no Brasil é 30 anos. Eu pago por aquele gol há 50, disse ele, que foi proibido pela comissão técnica de se aproximar da Seleção, em 1994, antes do tetra. Sua presença daria azar.
Depois de 1950, entre muitos surgimentos e desaparecimentos de gerações como Manga, que fez apenas um jogo na Copa de 66 -, o gol do Brasil só voltou a ter um goleiro negro como titular absoluto em 2006, com Dida. Ele também chegou a ser questionado debaixo das traves.
Décadas e décadas se passaram e o tabu continua. E recentemente o ex-goleiro Jefferson, ídolo do Botafogo, deu uma declaração contundente. Campeão mundial sub-20 em 2003, o hoje aposentado contou que ficou de fora da seleção pela sua cor.
Na convocação para a seleção sub-20, estava praticamente decretada quem seriam os goleiros. Quando saiu a convocação, na época ia ser em janeiro, eu estava certo que meu nome estava lá e, para minha surpresa, quando vi no jornal a convocação, meu nome não estava lá. Fiquei muito chateado.
O campeonato mudou de data e passou para dezembro. E eis que Jefferson recebeu a notícia: Faltando um mês para a convocação eu nem estava esperando, então recebi uma ligação: E aí, está preparado para voltar à Seleção? A gente ia te convocar lá atrás, só que a gente foi barrado, porque não poderia convocar goleiro negro. Tinha uma pessoa (da CBF) que falou que não poderia convocar. Essa pessoa saiu e agora podemos fazer o que quisermos fazer.
Um triste relato para os amantes do futebol, que tem que ser disputado por atletas que tenham condições de praticar o esporte em alto nível. De forma alguma a cor da pele deve influenciar nas escolhas dos profissionais.
Ele ouviu: Negro não joga
Walter é um dos goleiros mais consagrados do futebol capixaba. Com 16 anos de carreira, o camisa 1 do Serra não se esquece de uma frase que ouviu em 2009 de um treinador de goleiros. Ele disse que certos clubes brasileiros não colocam goleiro negro para jogar. No máximo fazer parte do elenco. Além disso, tive outros treinadores que já sentiram na pele esse preconceito.
O goleiro gosta de ser lembrado pelos grandes feitos nos gramados e evita lamentar as provocações que ouve dentro de campo. No entanto, ele garante que há preconceito, sim, com goleiros negros por uma herança do passado.
Eu não tenho problema algum com isso, mas é só puxar o histórico. O Barbosa era negro, falhou, o Brasil não foi campeão em 50, tem o Manga, o Dida também dizem que ele falhou no gol da França em 2006. Depois disso, o único goleiro negro foi o Jefferson, que ainda assim foi deixado de lado. Eu não vejo que estamos abaixo de um goleiro branco, cada um tem sua qualidade. Goleiro branco que falha absurdamente não é tão criticado, disse.
Ele completou: Tenho muita história no futebol capixaba, muitos feitos e sempre fui respeitado. E sempre tento provar dentro de campo o meu potencial. Sem contar que tivemos grandes goleiros negros no futebol capixaba: Merivaldo, Cláudio Márcio, Marcionílio, Luiz Cláudio, o saudoso Jorge Reis, Geovane, entre outros.
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