Mário Jorge Lobo Zagallo é sinônimo de Copa do Mundo. Como ponta-esquerda, foi titular nas campanhas dos títulos da Seleção Brasileira em 1958 e 1962. Como treinador, guiou a conquista do tri em 70. Já em 1994, foi coordenador técnico e conquistou o tetra ao lado de Parreira. Aos 90 anos, completados nesta segunda-feira (09), um dos maiores ídolos nacionais merece toda a reverência do futebol.+ Confira a classificação atualizada do BrasileirãoJUVENTUDE
Nascido em Atalaia, Alagoas, ele se mudou para o Rio de Janeiro antes mesmo de completar um ano. Na tradicional Tijuca, bairro da Zona Norte, iniciou sua caminhada no futebol. Engenhoso com a bola nos pés, garantiu vaga na peneira do time infantil do América e, posteriormente, na equipe juvenil.
O sonho de moleque não era o mesmo do pai. Aroldo Cardoso Zagallo conhecia o caminho ardiloso do futebol. Foi profissional e chegou a defender as cores do CRB, de Alagoas. A ideia do ex-jogador que era que o Velho Lobo - que ainda não havia recebido a alcunha - se tornasse estudante de contabilidade. Foi mudar de opinião somente quando foi convencido por Fernando, seu outro filho, que ajudou o irmão a seguir carreira no esporte.
Aos 19 anos - quando ainda era soldado da Polícia do Exército - Zagallo iniciava com gosto amargo a relação duradoura que teria com a Seleção Brasileira. Segundo o 'Uol', no 'Maracanazo' da Copa do Mundo de 1950, o Velho Lobo era responsável pela segurança do estádio carioca. E, aos 34 da etapa final, viu Gigghia coroar o Uruguai campeão do mundo sobre o Brasil.
Mal ele sabia que sua história com a principal competição do futebol estaria apenas começando. SELEÇÃO BRASILEIRA
Único tretacampeão mundial, Zagallo disputou sete Copas do Mundo. Chegou à final em cinco, sendo vice-campeão diante da França, no fatídico 12 de julho de 1998.
- Há uma dificuldade natural para dimensionar o nível de craque que o Zagallo foi. O fato de jogar ao lado de Pelé e Garrincha ofuscaria o brilho de qualquer outro que não tivesse a estatura dos gênios. Não seria diferente com Zagallo - relatou ao 'Uol' Vanderlei Borges, autor da obra 'Um Vencedor', em parceria com Luiz Augusto Erthal.
A FIFA também lançou um documentário em homenagem aos 90 anos de Zagallo, comemorados nesta segunda-feira (9). Contando com a presença de Pelé, Parreira, Jairzinho, Rivellino, Dunga, Bebeto, Ronaldo e do técnico português José Mourinho, o primeiro episódio já foi ao ar no canal da entidade no Youtube. CLUBES DO RIO
Zagallo possui uma relação íntima com outros dois clubes do Rio, além do América. No Flamengo, recebeu sua primeira oportunidade em 1950. Apelidado de 'Formiguinha' durante sua passagem na Gávea, conquistou um tricampeonato carioca durante os oito anos que jogou no rubro-negro. Foram 250 jogos e 29 gols marcados.
Na época, diferente dos tempos de hoje, jogador de futebol era sinônimo de vagabundagem. Talvez por isso Zagallo tenha escondido de Alcina como realmente ganhava a vida. Mal sabia que ela seria sua futura mulher e companheira ao longo dos 57 anos de casamento. São cinco filhos do casal, que comemoram o matrimônio em 13 de janeiro de 1955. O número é uma das marcas de Zagallo em sua passagem no futebol. Alcina morreu aos 80 anos, em 2012, vítima de complicações respiratórias.
Três anos após o casamento, Zagallo conheceu seu segundo amor. Convocado pelo técnico Vicente Feola, disputou como titular na ponta-esquerda a Copa do Mundo da Suécia, em 1958. Autor de um gol e uma assistência no 5 a 2 brasileiro sobre os donos da casa, o Velho Lobo também ajudou defensivamente. Impediu o 2 a 0 rival tirando uma bola em cima da linha.
No regresso ao Brasil, deixou as cores rubro-negras do Flamengo e vestiu o alvinegro botafoguense. A tentação por jogar com ídolos como Garrincha, Didi e Nilton Santos pesou na decisão. Em General Severiano, conquistou o bicampeonato carioca de 1961 e 1962, o Torneio de Paris e outros títulos.
COPA DE 1962
Na Copa do Chile, em 1962, foi uma das principais peças da engrenagem brasileira para superar a lesão de Pelé e alcançar o topo do futebol mais uma vez.
- Zagallo foi extraordinário dentro e fora de campo. Dentro das quatro linhas, foi um jogador excepcional. Fora delas, é um amigo exemplar. Jogar ao lado de Zagallo, Garrincha e Didi foi uma escola. Poucos clubes no Brasil conseguiram reunir um timaço daqueles - contou Amarildo, destaque da Seleção Brasileira no lugar do lesionado Pelé.
Aposentado aos 34 anos, o Botafogo foi seu último clube da carreira. Com treinador, também iniciou sua trajetória no alvinegro. O currículo como técnico também constam clubes como Flamengo, Fluminense, Vasco, Bangu, Portuguesa-SP, Al Hilal e Al Nassr, da Arábia Saudita.
TREINADOR DA SELEÇÃO
Em março de 1970, a cerca de dois meses e meio antes da Copa do México, Zagallo foi convidado para assumir a Seleção Brasileira. Era o treinador mais jovem a comandar o Brasil, aos 39 anos. Reuniu feras como Pelé, Jarzinho, Tostão, Rivellino e Gérson, e conquistou o tricampeonato mundial.
- Zagallo sempre soube extrair o melhor de cada atleta. Em suas preleções, esbanjava confiança e serenidade. Não precisava alterar a voz. Todo mundo o respeitava. Ele me influenciou muito. Não teria sido treinador se não fosse o Zagallo - recorda Parreira.
Em 1994, foi coordenador técnico do tetra a convite de Parreira e viu Dunga repetir o gesto icônico de Bellini se repetir 24 anos depois. Três anos depois, pintou o continente de verde e amarelo na conquista da Copa América. Venceu os seis jogos que disputou e aproveitou para responder jornalistas esportivos que teriam feito pressão para Vanderlei Luxemburgo assumir a Seleção em seu lugar.
- Vocês vão ter que me engolir! - exclamou.
Seu único vice-campeonato com o Brasil viria um ano após o desabafo. Na final diante da França, perdeu por 3 a 0.
- Contra a Turquia, foi ajudado pela arbitragem. E, no episódio envolvendo o Ronaldo, a comissão técnica fez uma lambança. O jogador poderia ter morrido em campo depois de ter tido uma convulsão na manhã do dia da final - escreveu Milton Neves.
ADEUS AO FUTEBOL
Zagallo deu adeus ao futebol em 2001, aos 79 anos. À beira de campo, comandou o tricampeonato do Flamengo sobre o Vasco. No Maracanã, se apegou à imagem de Santo Antônio , aos 43 da etapa final, viu Petkovic marcar de falta no ângulo de Helton.
- Para aquele time, o Zagallo foi mais que um treinador, foi um pai. Soube transmitir serenidade e confiança para o grupo. Se não fosse ele, eu não teria disputado aquele jogo e feito aquele gol, um dos mais importantes da minha carreira. Minha relação com a diretoria não era boa. Mas, o Zagallo teve a coragem de bancar minha escalação - recorda Pet.
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