Atacante da Seleção Brasileira e do Everton, da Inglaterra, o capixaba Richarlison atualmente colhe os frutos em sua carreira. Mas nem sempre foi assim. A vida sofrida no passado poderia o ter levado para uma trajetória bem diferente da atual. Em entrevista ao site "The Players Tribune", o atleta de apenas 23 anos fez várias revelações sobre a infância e juventude no Espírito Santo, e uma delas diz respeito ao seu primeiro clube na carreira, o Real Noroeste, que fica no município da Águia Branca, próximo à Nova Venécia, onde ele residia com a família.
Ainda quando estava nas categorias de base do clube capixaba, Richarlison lembra que quase desistiu do futebol. "Sinceramente, eu teria desistido de ser jogador se não houvesse muito apoio ao longo do caminho. Do meu pai. Do meu avô. Preciso mencionar o Fidel, um policial que também era treinador de futsal e com quem aprendi muito. "Não desista nunca", ele falava. O Régis foi outro cara importante. Ele era o dono da escolinha e tinha bons contatos. Ele acabou conseguindo um clube para eu jogar o Capixabão. O Real Noroeste ficava perto de Nova Venécia", lembrou.
De acordo com Richarlison, os Merengues Capixabas dificultaram a sua saída para o América-MG, clube que iria servir como um foguete em sua carreira, pois logo depois do destaque na Série B do Brasileiro em 2015 acabou sendo contratado pelo Fluminense.
"Joguei lá por um ano e evoluí muito. Mas aí eles fizeram uma sacanagem comigo e com o meu pai. Com o meu desenvolvimento naquele um ano no clube, o América-MG demonstrou interesse em me contratar. Por ser um clube maior e muito tradicional, claro que eu queria ir. Inicialmente, o Real Noroeste disse que me liberaria, mas depois vieram com outra conversa, a de que só me negociariam se ficassem com 50% do valor. Eles falavam uma coisa e faziam outra. Isso abalou muito o meu pai. Nós sabíamos que seria a minha última chance, e na época só faltavam quatro jogos para acabar a temporada daquela categoria da base do América-MG."
Os problemas na negociação afetaram a saúde do pai de Richarlison, que ainda teve que lidar com uma depressão em todo o processo. As recusas anteriores em testes no Avaí e no Figueirense apareciam como "fantasmas" para o jogador, mas mesmo após a conclusão positiva do negócio, Richarlison revela que ainda possui uma mágoa grande da diretoria do Real Noroeste.
"Foi muito difícil para o meu pai administrar o problema. Além da pressão por ser a minha última chance, ele estava sofrendo de depressão. Aquilo me magoou muito. Fiz grandes amigos no Real Noroeste, mas eu não falo muito do clube até hoje por causa disso. Ainda bem que resolvemos a situação, e eu fui para o América-MG. Eu poderia ter sido reprovado outra vez, não sei. Tirei forças de onde eu não sabia que tinha."
Richarlison lembra que treinou muito forte para estar pronto quando tivesse uma chance. "Eu comecei treinar ainda mais forte. Os gols começaram a aparecer. Os treinadores felizmente me notaram. E em dezembro de 2014 recebi uma proposta do América-MG. Fica até difícil descrever o sentimento de alcançar algo que esperei por tanto tempo. Eu tinha passado por muita dor e dificuldades. E finalmente eu poderia ajudar a minha família. A minha mãe não tinha mais com o que se preocupar. O meu pai poderia parar de trabalhar, e eu poderia treinar mais leve, sem tanta ansiedade", lembrou.
A reportagem entrou em contato com o presidente do Real Noroeste, Fláris Olímpio da Rocha, para saber o posicionamento do clube com relação às declarações de Richarlison. O mandatário merengue se mostrou surpreso com as acusações e deu a sua versão por meio de nota oficial, que pode ser lida na íntegra abaixo.
A verdade sobre a ida do Richarlison para o América-MG é bem diferente da que ele conta (para não falar que ele está mentindo, ou talvez seja a verdade que passou a acreditar).
Richarlison era jogador de base do Real Noroeste, o responsável por ele no clube era a mãe dele (Dona Vera, salvo engano), quando todos os atletas eram liberados para ir pra casa ele não ia, pois, estavam com problemas familiares (era que tínhamos conhecimento na época).
Tanto ficava no clube aos finais de semana que a minha família passou a convidar ele para ficar com a gente em alguns finais de semana, minha filha fez até bolo de aniversário para ele, coisa que nunca fizemos para outros atletas de base, e ele era só atleta de base, minha família tem um carinho especial por ele e isso vem desde quando ele estava aqui (na base do nosso clube) não começou quando ele obteve sucesso, bem antes disso.
Para ser bem realista, dos familiares do atleta que iam no clube, às vezes, era um tio e alguns priminhos que o chamavam de Charlim, fora isso não tenho recordação de ninguém mais.
Em um determinado final de semana que ele tinha ido pra casa ele não retornou ao clube, dias depois o próprio Richarlison entrou em contato com minha esposa, pois era o último dia para se inscrever na competição pelo América na FMF, só aí fomos ter ciência de que ele estava lá. Daí por diante o Real Noroeste como todo e qualquer clube tratou da negociação e liberou o atleta, ficamos detentores de direitos econômicos em parceria com o América, nós com 20% e o América com 80%, tudo muito bem documentado, e-mails enviados pelo América ao nosso clube, etc.
Não recebemos dinheiro por essa negociação, os direitos econômicos do atleta eram integralmente do Real Noroeste, até hoje tem coisas pendentes a serem resolvidas. Nunca recebi a visita do pai do Richarlison enquanto ele esteve no nosso clube, eu não me recordo de ter recebido ou visto ele.
Quando o Richarlison já estava no América, um empresário veio ao Real para visitar um atleta agenciado por ele e trazer outro para integrar a nossa equipe, foi quando eu falei do Richarlison que estava muito bem no América, que era um jogador promissor e não tinha empresário, esse agenciador foi até o Richarlison e esta com ele até hoje, ou seja, tudo que eu podia fazer para ajudar da forma poderia ser feito na época nós fizemos.
Quando o Richarlison já estava profissionalizado no América-MG e já com a negociação acertada com o Fluminense, aí o pai dele, ele e o agenciador vieram visitar o clube, para esse último tentar comprar o percentual do Real Noroeste, o que não foi concretizado e que levou o rompimento desse agenciador com as portas abertas que tinha no Real Noroeste.
A partir daí começou a surgir essas inverdades, coisas que nunca aconteceram, mas que ele insiste em falar como se verdade fosse. Não existe sacanagem por parte do Real Noroeste, e nunca existiu.
Penso que o atleta não precisa fazer menção ao nome do clube que o colocou em condições de ir para os grandes clubes dos quais ele se orgulha em falar, mas então conte a sua verdadeira história de vida, ela por si só é bonita, sem invenções.
O que nos entristece é que o atleta sabe a verdade, sabe tudo que passou aqui e tudo que fizemos por ele. Mas parece que isso não conta. Aqui no Real não precisamos inventar história, muito menos criar uma história, o futebol e a história de vida de cada um é a coisa mais bonita que existe, ficar contando histórias inverídicas uma hora elas vão desencontrar, aí ficará feio para quem está inventando.
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