O governo do estado de São Paulo negou o pedido da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para a liberação de público nos jogos do Campeonato Brasileiro e no confronto da seleção contra a Bolívia, válido pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2022.
"O cenário atual da pandemia [de coronavírus] no estado de São Paulo não permite a retomada de público em eventos associados a grandes aglomerações, como nas partidas de futebol de qualquer categoria", afirmou nesta quarta-feira (23) José Medina, coordenador do Centro de Contingência da Covid-19 do governo de João Doria (PSDB).
Segundo Medina, a solicitação da CBF não era apenas para que o Brasileiro pudesse ter torcida, mas também o jogo entre Brasil e Bolívia, no próximo dia 9 de outubro, marcado para a Arena Neo Química.
Na última terça-feira (22), a CBF conseguiu o aval do Ministério da Saúde para jogos com até 30% das arquibancadas ocupadas. Porém, para que isso ocorra, é necessária a autorização das administrações locais, o que não aconteceu em São Paulo.
A decisão do governo Doria pode melar a intenção da CBF de retornar com o público no Nacional, uma vez que o entendimento de parte dos clubes é de que só pode haver torcida se as condições forem iguais para todos os 20 participantes da Série A.
O presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, já se manifestou publicamente e ameaçou deixar o campeonato caso os torcedores sejam liberados apenas em alguns estados. Clubes como Atlético-MG e Grêmio têm o mesmo entendimento dos corintianos.
"Sou a favor do retorno imediato desde que respeitados todos os protocolos de saúde de segurança sanitária. Importante ressaltar que deve-se buscar a isonomia, voltando o público em todas as praças ao mesmo tempo", diz à reportagem Sérgio Sette Câmara, presidente do clube mineiro.
O Palmeiras pediu o respeito da isonomia entre as equipes. "A presença de torcida deve se aplicar a todos os clubes ou a nenhum", se manifestou a agremiação. São Paulo e Santos também são contra.
Segundo a CBF, será realizada uma reunião com os representantes dos times nesta quinta (24), às 16h30, por videoconferência, para discutir o plano.
Segundo o governo paulista, a proposta da CBF prevê que os clubes paulistas (Santos, São Paulo, Corinthians, Palmeiras e Bragantino) mobilizariam até 20 mil torcedores por partida.
"Nesse tipo de evento, ocorre um fluxo de pessoas de diferentes origens geográficas, com prevalência diferentes da doença e que produzem aglomerações difíceis de serem moduladas para garantir o permanente distanciamento recomendado", explicou Medina.
Ele também ressaltou que o número grande de assintomáticos para a doença faz com que este tipo de situação seja um polo de proliferação em potencial e informou que a decisão do comitê se deu por unanimidade de seus integrantes.
Medina justificou a decisão pelo fato de que países em estado mais avançado da pandemia, como a Inglaterra, ainda não liberaram as arquibancadas para os torcedores, e exaltou que o protocolo dos jogos sem público, utilizado desde o Campeonato Paulista, tem funcionado.
Pelo plano de afrouxamento da quarentena em São Paulo, eventos com aglomerações só podem acontecer na fase azul, a última escala das etapas de flexibilização das restrições.
No Rio de Janeiro, há uma disputa entre as gestões municipais e estaduais.
O prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) afirmou no último dia 18 que queria colocar até 20 mil pessoas no Maracanã -cerca de 25% dos quase 80 mil que o estádio comporta-- para a partida entre Flamengo e Athletico-PR, pelo Brasileiro, marcada para 4 de outubro.
A intenção, no entanto, foi barrada pelo governo fluminense, que um dia depois anunciou a prorrogação da proibição de presença de público em eventos esportivos.
"A abertura de estádios é totalmente imprudente e desnecessária porque tem riscos no local e no transporte. Não há nenhum local no mundo que está aceitando a volta de torcidas [na proporção de 30%]. Com certeza, o estádio é um dos locais de maior espalhamento [do vírus], vide o exemplo do Atalanta jogando em Milão, o que motivou a epidemia mais forte na Itália, em Bérgamo", afirmou o epidemiologista Paulo Lotufo.
Desde março, quando os campeonatos estaduais e a Copa Libertadores foram paralisados como forma de mitigar a contaminação pelo coronavírus, os times de futebol amargam com perdas de receitas sem a comercialização de ingressos e o chamado "matchday" (ganhos com camarotes e cadeiras cativas, além da venda de alimentos e bebidas no dia de jogo).
Segundo estudo da consultoria EY sobre os impactos da Covid-19, divulgado em maio, haverá redução entre 55% e 65% com matchday caso não haja público nos estádios até o fim deste ano. Esta receita despencaria de R$ 952 milhões, obtidos em 2019, para R$ 415 milhões.
O relatório aponta que, com a pandemia, as 20 agremiações, que faturaram R$ 6 bilhões ao todo em 2019, terão uma retração de 22% (R$ 1,34 bilhão) a 32% (R$ 1,92 bilhão).
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