O anúncio da organização da F-1 de que não haverá GP no Brasil em 2020 representa um golpe duro não apenas para a história da categoria no Brasil, mas também para os cofres da prefeitura de São Paulo.
De acordo com pesquisa do Observatório de Turismo e Eventos da SPTuris, a empresa de turismo da capital, o impacto econômico gerado pelo GP Brasil em 2019 foi de R$ 361 milhões. Em 2018, também segundo a SPTuris, o evento movimentou R$ 334 milhões.
Para a realização da corrida no ano passado, o autódromo de Interlagos contou com um investimento de R$ 75 milhões de dinheiro público, segundo levantamento feito pela reportagem, para benfeitorias na estrutura do local, como reformas nas pistas e nas dependências internas, especialmente nos boxes.
A maior parte desse valor, R$ 41 milhões, foi paga pelo governo federal, e o restante bancado pela prefeitura.
Neste ano, caso Interlagos recebesse a prova, a movimentação econômica na cidade seria consideravelmente menor, já que o autódromo provavelmente não poderia receber público, como vem ocorrendo nos GPs da atual temporada na Europa. Isso derrubaria o fluxo de turistas que vêm ao país para acompanhar a corrida.
A F-1 não cancelou somente as provas no Brasil, mas em toda a América. Estados Unidos, Canadá e México também tinham Grandes Prêmios previstos para 2020, mas ficarão sem os eventos.
Nesta sexta-feira (24), o prefeito da cidade de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), lamentou a decisão e afirmou que o município estaria preparado para receber o GP.
"Nós, ao longo dessas semanas, enviamos todos os dados à organizacao do evento, mostrando que a realidade da cidade de São Paulo e do estado são bem diferentes da realidade brasileira. A projeção mostra que em novembro estaremos numa situação bem melhor do que estavam países europeus onde já tivemos a realização de Grandes Prêmios", afirmou Covas em entrevista coletiva.
A atual temporada da F-1, que começou no início de julho, já teve três provas realizadas (duas sediadas na Áustria e uma na Hungria) e ficará restrita a países da Europa e da Ásia.
Até esta sexta, a cidade de São Paulo já havia registrado mais de 173 mil casos da Covid-19 e superado a marca de 9.000 mortes.
A notícia da não realização do evento no Brasil em 2020 chega em um momento no qual São Paulo e Rio de Janeiro disputam a sede da F-1 no país, cujo contrato com a capital paulista se encerra neste ano.
Sem a confirmação por parte da organização da categoria de onde será o GP Brasil a partir de 2021, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), segue publicamente otimista que a cidade irá manter o evento. O prefeito Bruno Covas também se diz confiante sobre a manutenção da sede a partir do próximo ano.
"Continuamos as tratativas com a organização do evento para a prorrogação do contrato a partir do ano que vem", afirmou Covas nesta sexta, quando também disse que uma licitação no valor de R$ 48 milhões para mais obras no autódromo será cancelada.
Com muitas incertezas sobre o futuro da F-1 no Brasil, os possíveis cenários a partir de 2021 são: a prefeitura da capital paulista renova o acordo e garante a permanência da corrida na cidade; o GP é deslocado para o Rio de Janeiro, que ainda tenta tirar um autódromo do papel; a prova deixar de ser realizada no país.
A força-tarefa criada em São Paulo, que envolve o governo do estado e a prefeitura, além da promotora do evento em Interlagos, a empresa Interpub, tenta convencer a F-1 a assinar um novo contrato.
A FOM, braço comercial da categoria, sob a gestão do americano Chase Carey, não abre mão de receber a chamada "taxa de promotor", que pelo acordo assinado em 2014 São Paulo está isenta de pagar. O valor não é público nem fixo, variando conforme o local do evento.
O Rio de Janeiro, por exemplo, teria feito uma oferta de US$ 35 milhões (R$ 182 milhões) pela taxa, valor que dificilmente seria superado pelos paulistas.
Por outro lado, a empresa vencedora da licitação para construir um novo autódromo na capital fluminense nem começou a tirá-lo do papel. A promessa é que a construção de um circuito em Deodoro, na zona oeste da cidade, no valor de R$ 697 milhões, seja quitada apenas com recursos privados.
Uma das etapas necessárias para o início da construção estava travada até a última semana, quando o STF (Supremo Tribunal Federal) atendeu a um pleito da Prefeitura do Rio Janeiro e permitiu que uma audiência pública para analisar o impacto ambiental das obras seja feita virtualmente.
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