Um episódio que resultou em uma acusação de racismo, que já está em investigação pela Polícia Civil do Espírito Santo (PCES), gerou revolta em jogadores e torcedores que acompanharam uma partida de uma competição de futebol de base na manhã de quarta-feira (20), no Estádio Municipal de Barra de São Francisco, na Região Noroeste do Estado.
No jogo disputado entre Athlos/Aert e Solvive, válido pela categoria sub-16 da Copa A Gazetinha, um jogador do Solvive se dirigiu a um atleta do Athlos, fez gestos em referência a um macaco e apontou para o adversário, de acordo com informações que constam em boletim de ocorrência registrado na 14ª Delegacia Regional de Barra de São Francisco. Ainda de acordo com o boletim, o fato foi reportado ao árbitro da partida e aos policiais militares presentes no local, mas a situação foi ignorada por ambos.
Leonardo Pasolini, treinador da equipe do Athlos, conta que ao ter conhecimento do fato retirou sua equipe de campo. “A situação ocorreu após o gol do Solvive, e na comemoração o atleta deles fez os gestos em direção ao meu jogador. Quando soube da situação e da omissão da arbitragem, reuni meus atletas e deixamos a partida”, contou.
Ainda de acordo com Pasolini, na saída do primeiro tempo houve um princípio de confusão entre os atletas e nem assim os responsáveis pela organização do jogo buscaram tomar conhecimento do caso. “Nem com reclamações dos jogadores e das arquibancadas eles deram atenção. O jogo iria seguir normalmente como se nada tivesse acontecido”, finalizou.
Procurada pela Redação de A Gazeta, Nubia Alves, mãe do atleta que sofreu com o ocorrido se manifestou sobre o fato. "A organização do evento não foi falar com meu filho e nem sequer tentou contato comigo. Eu não estava com ele, mas sei que tanto o psicológico dele quanto dos colegas está muito abalado. Além do racismo em campo o time ainda foi eliminado com o resultado de uma partida que nem terminou de jogar", contou.
"O pior é que não tenho expectativa nenhuma de punição ao jogador do Solvive. Se nem a polícia no momento do jogo fez alguma coisa, não acredito que vá fazer daqui para frente", finalizou.
Em nova partida da competição, na manhã desta quinta feira (21), jogadores do Athlos/Aert e do Palestra se manifestaram contra o racismo ao se ajoelharem no gramado antes de a bola rolar.
Atos de injúria racial têm penalidades previstas em lei. De acordo com o artigo 20 da lei 7.716, o ato de praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional tem a punição de reclusão de um a três anos e multa.
Na quinta-feira (21), o Solvive foi procurado pela reportagem de A Gazeta e o Coordenador da equipe, Marcos Ribas afirmou que aguardaria as provas sobre o ocorrido para que o clube se posicionasse. No entanto, na manhã desta sexta-feira (22), Ronaldo Celso, diretor da equipe, entrou em contato com a reportagem e se pronunciou sobre o fato. "Acho que a partida poderia continuar normalmente. Foi uma comemoração comum, daquelas que o jogador coloca a mão na orelha e provoca o rival pedindo para que 'fale mais'. Para mim, não houve esse suposto racismo", declarou.
Na sequência, Ronaldo sinalizou que os clubes Athlos/Aert e Solvive têm uma disputa nos gramados da Grande Vitória, e nas últimas partidas a equipe do Solvive saiu vitoriosa, gerando insatisfação da equipe rival. "Parecia algo orquestrado, como se fosse combinado. Assim que o Solvive fez o gol e teve a comemoração, o atleta do Athlos gritou 'racismo' e toda a equipe deles se reuniu para deixar o campo", finalizou.
De acordo com a Polícia Civil, o caso segue em investigação pela unidade onde o boletim de ocorrência foi registrado, e outras informações não serão divulgadas para preservar o prosseguimento do caso. Já a Polícia Militar informou que nenhuma ocorrência com essas características foi registrada.
A organização da Copa A Gazetinha foi procurada pela reportagem para esclarecer informações sobre o ocorrido, mas não se manifestou. Entretanto enviou nota sobre o acontecimento ao Athlos/Aert, texto em que afirmou que a partida poderia continuar normalmente.
"A Copa A Gazetinha repudia qualquer ato antiesportivo, seja de racismo, bullying ou manifestação de discriminação. Entende que é justo cada pessoa que se sentir ofendida a buscar a reparação. Mas, no referido fato, não houve relato de testemunha no campo, tanto por parte da equipe de arbitragem, nem torcedor e policiais militares presentes, o que resultaria (caso fosse constatado pela autoridade em campo) na expulsão do atleta que supostamente teria cometido o ato, não sendo, neste caso, necessário o abandono do jogo, uma vez que a segurança da partida estava garantida, com a presença de policiais militares no campo. Com isso, declaramos que houve abandono de campo, permanecendo o resultado da partida até o momento em que ela foi interrompida."
Vale ressaltar que a Copa A Gazetinha, criada pelo jornalista José Antônio Nunes do Couto, o JANC, carrega o nome do veículo da Rede Gazeta desde 1976, quando era realizada pelo jornal A Gazeta. Entretanto, há muitos anos, a Rede Gazeta já não possui nenhum vínculo com a competição esportiva.
A coordenação da equipe Solvive declarou na tarde de quinta-feira (21) que não iria se pronunciar até reunir provas sobre o caso. Entretanto, na manhã desta sexta-feira (22), o diretor do clube entrou em contato com a reportagem de A Gazeta e deu novo posicionamento sobre o assunto. A matéria foi atualizada.
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