Uma pesquisa idealizada pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol, em parceria com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Nike, revelou um triste resultado: 41% dos profissionais negros do futebol brasileiro alegam ter sofrido racismo ao exercerem suas atividades. Dentre eles, 11,4% dos participantes afirmaram ter sofrido casos dentro de centros de treinamentos e concentrações.
O levantamento contou com a participação de 508 profissionais do futebol brasileiro e abordou questões relacionadas a raça, religião, orientação sexual e origem. O documento apresenta dados coletados entre julho e agosto, com atletas, comissão técnica, staff dos clubes e arbitragem – atuantes nas Séries A e B do Campeonato Brasileiro masculino, além das Séries A1 e A2 do feminino na temporada 2023.
"O levantamento em parceria com o Observatório da Discriminação Racial e a Nike é um retrato, um recorte importante sobre os efeitos nocivos do racismo. O combate diário e incansável a esse crime é uma das principais bandeiras da minha gestão. E com esse diagnóstico vamos trabalhar ainda mais para banir estas e outras práticas discriminatórias do futebol, seja dentro ou fora dos campos", afirma Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF.
Cerca de 5% dos entrevistados pela pesquisa afirmaram praticar religiões de matriz africana (candomblé e umbanda). O levantamento então destacou uma estatística preocupante: apenas 2,75% dos praticantes dessas religiões de origem africana sentem que suas crenças são respeitadas no contexto do futebol.
"Os dados desse levantamento certificam nossa desconfiança de que o futebol brasileiro está longe de ser um local democrático e com respeito às diferenças”, comentou Marcelo Carvalho, diretor-executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.
Os resultados também destacam os desafios enfrentados pela comunidade LGBTQIAP+ no futebol. Apenas 1% dos homens entrevistados se declararam homossexuais ou bissexuais. Este resultado contrasta com a realidade brasileira, que de acordo com estimativas, tem cerca de 8,5% de representantes da comunidade no país.
Isso leva a uma importância de se refletir sobre os motivos que levam a falta de autenticidade nas respostas: medo de represálias, como achincalhamento público, perda de contratos e falta de oportunidades. Segundo o estudo, 61% dos casos de homofobia relatados são diretamente cometidos pela torcida - sendo 36% pela adversária e 25% da torcida do próprio time.
O relatório identificou que 21,06% dos participantes relataram ter sofrido xenofobia, no entanto, apenas 3% decidiram denunciar tal comportamento. Muitos dos casos não foram reportados devido à falta de compreensão de que a xenofobia é um crime, conforme estabelecido pela Lei 9.459 de 1997, que altera os artigos 1º e 20 da Lei 7.716/89, sobre os crimes resultantes de preconceito de raça ou cor.
28% dos participantes da pesquisa são mulheres. Destas, 57% são atletas e 35% ocupam cargos fora das quatro linhas. Apenas 8% delas atuam no futebol masculino, sobretudo nas áreas de comunicação e saúde. Em contrapartida, 18% dos homens trabalham nas divisões do Brasileirão Feminino em cargos diversos. Essa proporção deixa claro que quase metade - exatamente 45% - das pessoas que atuam nas Séries A1 e A2 do campeonato feminino são homens.
Esses dados ressaltam a importância de qualificar e incentivar a participação das mulheres nas mais diversas áreas do futebol, tanto no masculino como no feminino. Além disso, dar espaço e abertura para elas em cargos de liderança e direção, que são ocupações estratégicas para a representatividade feminina.
Enquanto a colaboração entre o Observatório da Discriminação Racial no Futebol, a CBF e a Nike, na condução desta iniciativa, é um passo importante para aumentar a conscientização, ela também aponta um caminho: a solução se faz com a maior inserção e atuação dos entes esportivos, organizações da sociedade civil e empresas, entre outros atores, no combate às diferentes formas de discriminação.
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