A Câmara Municipal de Vereadores do Rio de Janeiro realizou nesta quarta-feira (15) sua primeira audiência pública para tratar do projeto de reforma e modernização de São Januário. Durante o debate, os vereadores fizeram questão de esclarecer que a 777 Partners, dona da SAF do Vasco e envolvida em denúncias, não possui qualquer tipo de envolvimento na questão. "Quero enfatizar aqui, porque é um debate interno entre os vereadores, que a 777, que hoje é a SAF que administra o futebol, não tem absolutamente nenhum poder sobre o estádio e o que vai ser ampliado e reformado. Esse benefício e legado será dos torcedores do Vasco da Gama. Importante enfatizar isso aqui. Essa é a uma conquista da cidade do Rio de Janeiro", disse o vereador Alexandre Isquierdo (União-RJ).
Outros parlamentares reforçaram esta prerrogativa. "O projeto é muito claro que se trata da associação do clube, que pertence aos sócios e torcedores do Vasco. Esses recursos são de um patrimônio de uma associação e não da SAF. Muito importante ser esclarecido, outros vereadores trouxeram essa preocupação, mas dizer que essa operação beneficia a associação e não a SAF", afirmou o vereador Pedro Duarte (Novo-RJ). Carlo Caiado, presidente da Câmara, foi outro a sinalizar a perspectiva do poder público. "Importante enfatizar isso. Estamos falando com o Vasco da Gama, com o presidente Pedrinho", complementou.
O arquiteto Sérgio Dias apresentou o projeto arquitetônico que já foi aprovado pela Prefeitura do Rio. A presença e apresentação do profissional confirmam que o presidente Pedrinho abraçou a ideia do "Caixotinho" -apelido que os vascaínos batizaram popularmente nas redes, deixando para trás a possibilidade inicial de se fazer outro tipo de construção. A vereadora Teresa Bergher (PSDB-RJ) fez questionamentos. Ela indagou, principalmente, sobre os reais benefícios ao entorno do estádio e às comunidades, algo enfatizado por vereadores vascaínos.
Thiago Ramos Dias, subsecretário executivo da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, também falou sobre o assunto. O vereador Pedro Duarte (Novo-RJ) questionou alguns pontos da concessão do potencial construtivo. Ficou decidido que na próxima audiência pública estas questões mais técnicas serão esclarecidas.
Representantes de comunidades e organizadas do Vasco defenderam o entorno de São Januário. Presidente da Associação de Moradores da Barreira do Vasco, Vaninha falou sobre a mágoa pela forma como o local foi tratado pelo Poder Judiciário no período em que o estádio ficou suspenso. Já o presidente da Associação das Torcidas Organizadas do Vasco, Marcelo Rocha, reforçou a fala, classificando o ato das autoridades como preconceituoso.
Vaninha falou ainda sobre a geração de empregos que a obra trará à comunidade. Além dela estava presente um representante da comunidade do Arará. Já o presidente associativo do Vasco, Pedrinho, se emocionou na audiência: "Eu já vi esse projeto algumas vezes e, de verdade, foi a única vez que me emocionei com ele sendo apresentado aqui agora. Eu cheguei no clube aos seis anos de idade e muitas vezes eu dormi embaixo da arquibancada. Meu pai trabalhou como motorista de caminhão de lixo. Tenho a oportunidade de realmente enfrentar esse projeto e fazer com que saia do papel e que a gente entregue um estádio à altura do torcedor vascaíno e respeitando o estádio histórico de São Januário".
A legislação urbanística da cidade determina limites para edificações nas diferentes regiões - ou seja, quanto poderá ser construído em um terreno em cada bairro. No caso de um estádio de futebol, nem todo esse limite é utilizado- já que não há construção no gramado, por exemplo. No caso de São Januário, um total de 197 mil metros quadrados de construção autorizada pela legislação não serão utilizados. O projeto permite que essa área seja negociada para ser aplicada em outras regiões, onde a área máxima construída seria menor pela legislação local.
O índice de aproveitamento desse potencial varia de acordo com a área. Na transferência para a região da Avenida Brasil, por exemplo, cada metro quadrado transferido de São Januário vai gerar um aproveitamento de 1,73 metros quadrados. Ou seja, quem adquirir 100 metros quadrados de potencial poderá construir 173 metros quadrados em um terreno na Avenida Brasil. Já os trechos da Barra da Tijuca terão aproveitamento significativamente menor: cada metro quadrado transferido de São Januário poderá se transformar em áreas construídas que variam de 0,21 a 0,52 metros quadrados. Ou seja, 100 metros quadrados de São Januário virariam de 21 a 52 metros quadrados, dependendo do trecho. Ainda são estabelecidos limites para as construções nas chamadas áreas receptoras.
A diretoria do Vasco se reuniu com a presidência da Câmara Municipal em março. Participaram 23 vereadores dos 51 que compõe a Câmara, além do presidente da casa, Carlo Caiado. Estavam no encontro representantes de praticamente todas as bancadas e partidos. Foi costurado um acordo para acelerar o processo. A ideia é votar o projeto ainda no primeiro semestre, pois no trâmite normal, aconteceria só em outubro e a eleição municipal poderia fazer ficá-lo em "banho-maria".
O UOL apurou que três empresas estão dispostas a comprar o potencial construtivo de São Januário: uma famosa rede de hospitais, uma construtora e um fundo imobiliário. O Vasco calcula arrecadar cerca de R$ 500 milhões com a venda. A Prefeitura obriga o Vasco a aplicar 100% dos recursos arrecadados na reforma. O projeto de ampliação e modernização prevê um estádio para cerca de 47 mil pessoas.
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