O jornalista Antero Greco morreu nesta quinta-feira, aos 69 anos, vítima de um tumor no cérebro, contra o qual lutou por quase dois anos. Ele estava internado no Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, havia meses para tratar a doença. Uma das figuras mais conhecidas do jornalismo esportivo, o experiente comentarista marcou época em parceria com Paulo Soares, o Amigão, no comando do programa SportsCenter, do canal ESPN, e como repórter, editor e colunista do Estadão. Antero deixa a mulher, Leila, e seus dois filhos. A despedida de Antero será no Cemitério do Redentor, em São Paulo, às 12h desta quinta-feira. E o enterro está marcado para as 16h.
Na última semana, Paulo Soares, parceiro de bancada e de vida de Antero, escreveu um relato emocionado sobre o amigo na coluna do jornalista Juca Kfouri, no UOL. Foi ele que revelou que o quadro de saúde do colega era grave e irreversível. "Infelizmente o meu grande amigo e de todos nós, Antero Greco, está em seus dias finais. Tumor cerebral. Lutou desde junho de 22, mas agora não há mais o que fazer", relatou.
Nos últimos meses, Antero diminuiu a frequência de suas participações na programação do canal esportivo. O jornalista fazia seus comentários preferencialmente de casa. Ele estava tratando um tumor no cérebro desde junho de 2022 que o impediu que voltasse aos estúdios e trabalhasse plenamente.
Em setembro de 2022, passou mal ao vivo durante o SportsCenter. "Exames foram feitos e se constatou um corpo estranho aqui, na cuca. Fui internado em urgência e operado. Dois meses depois, fazendo exames de rotina, mostrou que sobrou 'um treco da gororoba', então deveria ser submetido a uma segunda operação, sem prazo definido", explicou à época.
"Exame aqui, biópsia aqui e acolá, a coisa ia de 'médio' para 'grave a gravíssimo' e para 'coisa muito ruim', depois foi rebaixado para 'grave'. Fiz radioterapia e quimioterapia", disse Antero em maio de 2023, quando voltou a trabalhar ocasionalmente nos estúdios da ESPN.
Filhos de imigrantes italianos e paulistano do bairro do Bom Retiro, onde passou toda a sua vida, Antero Greco dedicou 44 de seus 69 anos ao Estadão, no qual começou a sua carreira, como revisor de anúncios em madrugadas de fim de semana, em 1974 Na época, ainda era estudante de Jornalismo da USP. Na editoria de Esportes, foi repórter, chefe de reportagem, repórter especial, editor assistente, editor e colunista, cargo que ocupou até novembro de 2018, quando encerrou sua "parceria de vida" com a empresa, como escreveu quando deixou o jornal.
"Por mim, a ESPN terá de me aturar muito tempo ainda, da mesma forma que o Estadão, porque não largo o osso tão facilmente. Só quando ficar velhinho, desde que a gastrite e dores várias deixem. Assim como minha mulher carregará este fardo (leve, vai) por pelo menos mais uns 40 anos. Amém e obrigado", escreveu o jornalista, em uma de suas centenas de colunas, em 2014.
Sensível, inteligente, altivo e bem-humorado, Antero também trabalhou no Diário Popular e teve breve passagem pelo extinto Popular da Tarde, além da Folha de S.Paulo e da Band, em cujas transmissões comentava o Campeonato Italiano. À época, Antero era um dos que mais conhecia o futebol da Itália no Brasil. Mas as ligações mais fortes do palmeirense Anterito, como era chamado por Paulo Soares, foram mesmo com o Estadão e com a ESPN.
Sua última coluna no jornal, entre as quase 2 mil escritas, foi publicada em 14 de novembro de 2018. O texto era sobre a iminência do 10º título brasileiro do Palmeiras, do qual era torcedor, ainda que não gostasse que sua paixão pelo time alviverde viesse à tona. Discreto, ele se incomodou por muito tempo quando associavam sua imagem ao Palmeiras.
"O cara que me lê ou me ouve vai concordar ou discordar comigo porque o que eu falei não está correto ou está, não porque eu sou palmeirense, corintiano, são-paulino ou santista", explicou no ano passado. "Da mesma forma, quero saber do repórter de economia se o que ele escreveu é embasado. Isso é o que importa, não misturar o gosto da gente". Em sua última coluna, Antero se emocionou ao se despedir do jornal em que trabalhou por mais de quatro décadas. "Cai uma lágrima, claro, pois não se rompe uma relação de vida inteira sem aperto no coração", escreveu.
Figura muito conhecida no jornalismo esportivo, Antero formou com Paulo Soares, o Amigão, uma das parcerias mais duradouras da televisão brasileira. Ao longo de mais de 20 anos, os inseparáveis parceiros informaram as notícias ao telespectador dos canais ESPN de uma forma irreverente e descontraída sem abrir mão do profissionalismo.
Era comum terem crises de riso ao vivo, por diferentes motivos - como uma palavra que virava uma piada fálica - que acabavam se tornando virais e divertiam quem os assistia. O telejornal do fim de noite, por essa descontração e profissionalismo da dupla, virou marca registrada da ESPN. Os dois brincavam e caíam na gargalhada, mas sem passar do limite.
"A gente percebe que as pessoas nos curtem pela nossa imagem sincera e verdadeira. A gente não faz gênero. Não criamos personagens. Somos nós lá", afirmou Antero, ao Estadão, em 2021. Ele dizia tomar o cuidado de conferir leveza à notícia sem ser leviano. "O jornal é 99,9% sério. O 0,1% que tem a leveza, a brincadeira, que é algo natural nosso, não é programado. Tem de ser espontâneo. Não somos atores".
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