Depois de dez anos da partida que marcou a abertura da Copa do Mundo de 2014, o Brasil ainda não pagou a conta pela realização de seu segundo Mundial de futebol. A reportagem apurou que nove dos doze estádios construídos ou reformados para o torneio ainda devem para o BNDES, responsável pelo financiamento das obras.
Para garantir que o país teria condições de receber o torneio, o governo federal criou uma linha de crédito especial. O ProCopa Arenas destinou R$ 4,145 bilhões para 11 projetos. A reforma do Mané Garrincha, em Brasília, foi a única que não usou esse dinheiro do governo do Distrito Federal bancou. Entre essas 11 arenas, só uma já pagou completamente a conta: o Mineirão, em Belo Horizonte. O repasse foi de R$ 400 milhões.
O segundo estádio quitado para o BNDES pode ser uma surpresa: o banco considera que a Neo Química Arena, do Corinthians, está quitada. Mas esse status precisa de um asterisco, já que a dívida com o BNDES foi paga com um repasse da Caixa Econômica Federal. Na prática, essa dívida, que começou em R$ 400 milhões, ainda existe, só mudou de credor.
O BNDES não divulgou o total ainda em aberto no ProCopa Arenas, alegando sigilo bancário. Confirmou apenas que os outros estádios têm valores pendentes de pagamento. Para tentar descobrir a cifra total, a reportagem procurou os governos estaduais. E quatro deles (Rio de Janeiro, Ceará, Bahia e Paraná) confirmaram o valor exato do saldo a pagar, até o fim de abril. O financiamento para Maracanã, Castelão, Arena Fonte Nova e Ligga Arena foi de R$ 1,2 bilhão. E os quatro estados já quitaram R$ 893,7 milhões. Ou seja, a pendência deles, ao todo, é de R$ 312,4 milhões. As secretarias da Fazenda de Mato Grosso, Amazonas e Pernambuco não responderam aos questionamentos. No caso de Beira-Rio e Arena das Dunas, o financiamento do BNDES foi feito a entidades privadas, administradoras dos estádios, que optaram por não revelar o andamento dos parcelamentos.
É bom ressaltar que o fato de os estádios ainda estarem devendo não significa que haja atraso nos pagamentos. Os empréstimos foram feitos entre 2010 e 2012, e cada beneficiário negociou termos individuais com o BNDES. O parcelamento foi esticado por causa de uma lei criada por ocasião da pandemia que permitiu a pausa nos pagamentos e a negociação de novos prazos para quitação completa.
No Paraná, por exemplo, o estado deveria pagar o principal da dívida em 156 parcelas mensais e sucessivas, com vencimento da primeira em 15 de dezembro de 2014 e liquidação do contrato em 15 de novembro de 2027. Mas, segundo a Secretaria Estadual de Fazenda, "foi acordado que a nova data de término dos pagamentos seria 16 de novembro de 2028". Já o financiamento do Castelão tinha como data final do contrato, inicialmente, 15 de agosto de 2020. A Secretaria de Fazenda informou que "o prazo final para amortização foi prorrogado até 15 de dezembro de 2026 e será pago normalmente".
No Rio, a operação dos R$ 400 milhões do Maracanã tinha previsão de quitação em 15 de agosto de 2027. Mas "o contrato teve o prazo inicial estendido por um ano, em 2020", segundo a Secretaria de Fazenda. "Como o Rio está no Regime de Recuperação Fiscal (RRF), a operação vem sendo paga pela União e o estado paga ao governo federal de acordo com as regras do RRF", completou o órgão. Na Bahia, o prazo de pagamento é até 15 de dezembro de 2027. "As parcelas de amortização vêm sendo pagas regularmente pelo estado, que nunca ficou inadimplente", segundo a Secretaria de Fazenda.
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