BUENOS AIRES, ARGENTINA - O dia seguinte ao título mundial da Argentina foi de ressaca para torcedores em Buenos Aires. Um grupo passou a noite no Obelisco, epicentro das comemorações na capital argentina. Alguns tomaram a decisão porque, na madrugada de segunda-feira (19), já não havia mais transporte público nem táxis para levá-los de volta.
Há relatos de famílias inteiras e grupos caminhando mais de 70 minutos durante a madrugada até suas casas ou até pontos em que podiam tomar uma carona para outras cidades da província.
Outros ficaram no Obelisco para guardar lugar, pois a previsão inicial era de que o ônibus com os jogadores campeões, vindos do Catar, chegaria ainda nesta segunda às 19 horas à Argentina. Logo, todos foram frustrados por carros da polícia de trânsito e de limpeza da prefeitura. Teriam de sair.
Tanto melhor. O voo atrasou e as comemorações de rua com os jogadores ocorrerão apenas a partir da madrugada de terça-feira (20).
Além disso, era preciso consertar a porta do Obelisco, quebrada por torcedores mais violentos, limpar as pichações que poluíam o principal monumento da cidade e restabelecer o trânsito na cidade.
Tirando os que voltavam dali ou de bares que ficaram abertos até tarde, em geral ainda meio bêbados, as ruas estavam completamente vazias nas primeiras horas da manhã.
Os tradicionais quiosques, que abrem cedo, assim como os cafés esperavam um pouco mais do que o habitual para abrir. "Um pouco é por segurança, mas também porque todo mundo celebrou até tarde ontem", disse Meylin Zhau, dona de um mercado chinês no bairro da Chacarita.
Houve relatos de alguns incidentes. Lixões de rua revirados ou danificados porque torcedores subiram neles para celebrar. E gente visivelmente alterada seguia nas ruas, às vezes sem perceber que caminhava pelo meio da via, causando desvios e quase acidentes.
Na região nobre dos arredores do Shopping Alto Palermo, algumas pessoas do bairro tomavam café como se já tivesse passado a euforia. A dona do local, porém, tinha a maquiagem toda borrada. Havia trabalhado o dia inteiro e, sem poder ir para casa, dormiu atrás do balcão.
"Faltaram garçons ontem [domingo] por causa do jogo, e hoje não estão se animando a vir. Parece que vou ter de ficar aqui o dia todo hoje outra vez", afirmou Susana Carnero, 52 anos. O curioso é que ela não falava com raiva, e sim com um sorriso no rosto e a brilhantina branca e celeste ainda grudada na pele.
Uns minutos depois, a calma do café se alterou. Três rapazes aparentemente bêbados e tresnoitados subiam a rua aos empurrões e gritos. Um deles correu até uma das mesas e agarrou uma faca, começou a ameaçar os outros, ele sangrava. Os clientes deram um salto para trás, algumas mulheres protegendo bebês. A dona do bar gritou, e o rapaz, sangrando, saiu correndo.
Quem despertou com o mesmo ânimo festeiro do dia anterior começou a rumar para Ezeiza, ainda sem saber como será o acesso aos jogadores quando chegarem. Organizadores falam numa provável saudação ainda na pista do aeroporto, por volta das 2h. Daí, sairiam em ônibus até o edifício da AFA.
O debate ainda estava aberto, porque alguns jogadores manifestaram que não queriam fotos "políticas", nem com o presidente da associação, muito menos com o presidente Alberto Fernández, que os convidou à Casa Rosada.
O mandatário afirmou que se houvesse festejo diante da sede de governo, poderia declarar feriado nacional nesta terça-feira (20). Porém, frente à resistência da equipe de cumprimentar o presidente, a ideia pode não avançar.
Não havia representantes do governo argentino na partida, apenas o ex-presidente opositor, Mauricio Macri, que tem pretensões de voltar a disputar em 2023. Do lado francês, estava Emmanuel Macron. Fernández não quis ir para não abrir um flanco para críticas de uma viagem caríssima do presidente em meio a uma crise econômica intensa e a inflação chegando aos 100%.
Uma alternativa que debatida no começo da tarde era que os jogadores fossem direto ao Obelisco, num ônibus aberto, e daí a suas casas.
Mas mesmo a perspectiva de não ve-los nos corredores do aeroporto não afastou os torcedores, que foram chegando com bandeiras e ocupando o hall do aeroporto. Funcionários de Ezeiza começavam a separar a área de embarque das demais, para que a chegada de uma multidão não atrapalhasse os passageiros com voos nesses horários.
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