A Seleção Brasileira anunciou recentemente a contratação da psicóloga Marisa Santiago, que passou a integrar a comissão técnica de Dorival Júnior. Foram 10 anos sem a presença de um profissional da psicologia na seleção canarinho - a última vez foi na Copa do Mundo do Brasil, em 2014, quando Regina Brandão integrou a comissão técnica de Luiz Felipe Scolari.
Marisa é Mestre em Psicologia do Esporte pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), especializada em terapia cognitiva comportamental e também atua como professora universitária. Ela chega para apoiar os atletas na parte mental, ponto muito criticado pelos torcedores nas últimas participações do Brasil em Copas. Para entendermos melhor sobre o assunto, a reportagem de A Gazeta entrevistou o psicanalista Artur Costa. Confira a entrevista completa abaixo.
A Seleção Brasileira foi duramente criticada na última Copa por não ter o acompanhamento psicológico devido. Essa nova comissão acorda para coisas que outras seleções já tinham acordado há muito tempo. No futebol, assim como em outros esportes de alta performance, os atletas trabalham sobre grande pressão e tem uma carreira muito curta. Então a pressão psicológica em cima de um profissional que vê o tempo passando, que vê que está envelhecendo, que a sua carreira profissional está encurtando, é muito grande. Existe a pressão da imprensa, da própria torcida que cobra no estádio, então sem esse preparo psicológico, que faltou na última Copa do Mundo, dificulta muito. Isso foi notório pelo próprio comportamento do Tite, o abandono dele a equipe em campo já mostrava nitidamente que aquela equipe não estava alinhada emocionalmente. Agora, acertadamente, a Seleção coloca uma psicóloga para estar dando esse apoio para os profissionais que sofrem grande pressão.
A afirmação dele faz total sentido. O profissional de esporte, que vive sobre constante exigência, ele precisa de uma rede de apoio. A rede de apoio para um profissional de alta performance é uma estrutura familiar sólida. Por exemplo, um jogador de futebol que acaba tendo inúmeros casamentos, tendo uma desestrutura familiar, ele vai ter uma tendência maior a desenvolver, por exemplo, o próprio burnout, que a gente fala que é típico do trabalho, mas não é só resultado do trabalho.
A gente não fala, por exemplo, sobre o burnout no futebol, mas existe uma pressão muito grande em cima do jogador. Ele tem um empresário, ele tem que entregar resultado, ele tem patrocinador, ele tem milhares de patrões que são os torcedores cobrando o tempo todo. Então, imagina só uma pessoa que não pode cometer erros porque vai ser brutalmente criticada em todas as instâncias da sociedade, quando ele não tem apoio dentro de casa, no caso dele (Richarlison), que precisou tirar de casa o seu próprio empresário. A rede de apoio dele é essencial para que ele possa ter uma saúde emocional saudável. Como ele encontrou na terapia a saída dessa situação, com certeza a terapia veio se somar a importância da rede de apoio que todo profissional precisa ter.
A verdade é que, a medida que o tempo vai passando, uma geração inteira ouve falar das conquistas do Brasil, mas não as veem. Consequentemente, a cobrança sobre os jogadores de hoje e a comparação cresce. Uma das coisas mais tóxicas para um jogador de alta performance é a comparação com gerações anteriores. Por exemplo, hoje a geração mais moderna de jogadores é criticada por se preocuparem mais com a estética do que com o futebol que jogam, comparado com gerações anteriores. As gerações anteriores entregaram conquistas que as gerações mais novas não conseguiram, então existe uma pressão que o próprio tempo exerce sobre o jogador. A medida que o tempo vai passando, a pressão também vai aumentando e a comparação com jogadores de outras gerações se torna cada vez mais constante, como se houvesse uma obrigação moral dessa geração de entregar resultados e campeonatos de expressividade como a Copa do Mundo.
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