Maior jogador de futebol de todos os tempos, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, morreu aos 82 anos, na quinta-feira (29). Dono de inúmeros feitos memoráveis que o consagraram como Rei do Futebol, o maior artilheiro da história do esporte, com 1.283 gols, também deixou sua marca no Espírito Santo, na única vez que disputou uma partida no Estado.
O Espírito Santo teve a honra de receber o Rei para uma partida, no antigo estádio Governador Bley, em Jucutuquara, Vitória — hoje pertencente ao Instituto Federal do Espírito Santo. Lá, Pelé marcou seu único gol no Estado, contra a tradicional equipe do Santo Antônio. Mas, apesar dessa marca histórica, o amistoso também foi marcado por momentos de irritação da torcida com o Rei e deixou prejuízo nas contas do clube capixaba.
O goleiro Adjalma Teixeira esteve em campo naquele 28 de julho de 1965 e contou, em entrevista dada ao colunista Filipe Souza em 2020, como foi o sentimento de estar frente a frente com o Rei do futebol. “Quando soube dessa notícia fiquei emocionado. Porque um time de Vitória ia jogar contra o Santos de Pelé, um jogador famoso, fiquei muito feliz”, contou o ex-jogador, hoje com 96 anos.
O jogo terminou com vitória do Santos, é claro. O clube paulista abriu o placar logo cedo, aos 5 minutos, com Coutinho. Ciro até empatou a partida, mas Coutinho marcou novamente, e o primeiro tempo ficou 2 a 1 para os visitantes. A partida de Pelé até então era apagada, e a torcida capixaba começou a perceber que o jogador não mostrava o futebol esperado. Foi aí que as provocações ao Rei começaram, como lembrou Adjalma.
“Pelé estava jogando, mas fazendo aquele jogo de compadre. Vamos dizer assim, passe pra lá, passe pra cá e tal... E a galera estava fazendo festa. Mas, no segundo tempo, começaram a pegar no pé dele e fazer piadas”, contou Adjalma.
A provocação da torcida despertou Pelé, que marcou o seu 736° gol da carreira aos 28 minutos do segundo tempo. Adjalma lembra como entrou para a honrosa galeria das "vítimas do Rei".
“O terceiro gol começou com uma jogada no meio-campo, que culminou em um cruzamento pelo lado direito. No passar da bola, quando eu virei, ele veio de trás e fez o gol de cabeça, lá no outro canto”, relatou o arqueiro sobre o gol que decretou a vitória santista por 3 a 1.
Na época, era costume a torcida entrar no gramado para abraçar e conversar com os jogadores. Não foi diferente naquele dia, e muitos capixabas tiveram a honra de estar perto do maior jogador de futebol de todos os tempos.
“Quando acabou o jogo foi aquela festa. Antigamente entrava todo mundo no campo, né. Entraram para abraçá-lo, conversar e tudo mais”, disse Adjalma, que terminou a partida com o sentimento de dever cumprido. “E assim foi essa visita do Pelé aqui e eu tive aquela honra de jogar contra ele. Graças a Deus me saí bem”.
Para o Santo Antônio, porém, apesar de a derrota não ter sido vergonhosa, o saldo final acabou sendo negativo. Ter o Rei em um jogo em terras capixabas era um desejo pessoal de Michel Sily, presidente do clube à época. Por isso o mandatário realizou um grande esforço para trazer o galático elenco santista para a exibição. Além de Pelé, estiveram em campo feras como o goleiro Gilmar, o volante Zito e o atacante Coutinho, todos campeões mundiais com a Seleção Brasileira.
Após a euforia da partida, o clube capixaba se viu diante de um grande prejuízo financeiro. Tanto que no dia 30 de julho de 1965, a edição impressa de A Gazeta publicou uma nota do clube que informava o valor do prejuízo. “A apresentação do Santos FC, na noite de anteontem redundou em fracasso financeiro. O quadro paulista recebeu 20 milhões de cruzeiros e as despesas atingiram cerca de 32 milhões de cruzeiros. O prejuízo do alvirrubro foi da ordem de milhões de cruzeiros”.
Para não ter sua saúde financeira ainda mais prejudicada, o Santo Antônio solicitou auxílio financeiro ao governador Francisco Lacerda de Aguiar (Partido Social Progressista - PSP), a deputados estaduais e a empresários. O clube já não vivia seus melhores dias. E muitos relatam que começou ali a decadência de um dos times mais importantes do Estado, e que posteriormente abandonou o futebol profissional.
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