Duílio Monteiro Alves, presidente do Corinthians, comentou sobre a manifestação nas redes sociais das atletas do time feminino contra a escolha de Cuca para comandar a equipe masculina. O treinador foi acusado pela Justiça suíça por agressão sexual em caso que ocorreu em 1987, em Berna, quando ainda era jogador do Grêmio. Após a apresentação de Cuca, Duílio já havia afirmado que o clube tinha feito sua parte e analisado a condenação antes de, efetivamente, anunciá-lo como substituto de Fernando Lázaro.
No domingo, o dirigente voltou a defender a escolha, apesar da manifestação das jogadoras e do técnico Arthur Elias, comandante da equipe feminina do Corinthians. Cuca sofreu outras manifestações em outras fases de sua carreira, como no Atlético-MG, mas em tom menos barulhento do que agora. Duílio diz não se arrepender nem pretende mudar sua decisão.
"Corinthians é um clube democrático, é a democracia. É o clube do ‘Respeita as Minas’ e elas têm todo o direito de se posicionar. Estive com elas, conversamos por mais de uma hora e meia (sábado), foi tudo conversado, explicado e elas têm todo o direito de colocar a posição delas", afirmou Duílio. As jogadoras foram ouvidas, mas o que elas falaram não foi levado em consideração pelo cartola.
Na manifestação, compartilhada por todas atletas em seu Instagram, o nome de Cuca não é citado, mas é possível depreender o sentido do texto diante do posicionamento das torcidas nos últimos dias. "‘Respeita As Minas’ não é uma frase qualquer. É, acima de tudo, um estado de espírito e um compromisso compartilhado", enfatizaram as jogadoras, incluindo a capitã Tamires. "Estar em um clube democrático significa que podemos usar a nossa voz, por vezes de forma pública, por vezes nos bastidores. Ser Corinthians significa viver e lutar por direitos todos os dias", completaram.
"Não sei se dá para entender como protesto, mas dá para entender que isso (manifestação das jogadoras) reforça o que é o Corinthians, o ‘respeito às minas’. Vamos continuar tratando-as e fazendo tudo o que for possível para a campanha das mulheres", reiterou o presidente Duílio.
"Muitos falam que é marketing o ‘Respeita as minas’, mas, na minha gestão, não teve nenhuma campanha de marketing falando disso, mas, sim, um apoio incondicional ao futebol feminino, tivemos a implantação da base no feminino e profissionais trabalhando em todas as áreas do clube", defendeu Duílio. Em 2021, o clube lançou uma terceira camisa que continha a frase lema da campanha - o uniforme foi utilizado na conquista do Brasileirão feminino daquele ano e em alguns jogos da equipe masculina.
Para o dirigente, o fato de ter investido no futebol feminino dá a ele e ao clube respaldo para contratar Cuca. O protesto das jogadoras foi uma demonstração de que o assunto provoca desconforto. Por ora, depois das declarações do presidente corintiano, Cuca vai continuar no comando do time masculino.
Em sua coletiva de apresentação, na última sexta-feira, Cuca se declarou inocente e afirmou que não teve participação no caso de estupro que ocorreu em 1987 em Berna. Então jogador do Grêmio, ele foi detido em 1987 com os também atletas Eduardo Hamester, Henrique Etges e Fernando Castoldi sob a acusação de "manter atos sexuais" com uma menina de 13 anos em um hotel em Berna, na Suíça.
Dois anos mais tarde, Cuca acabou condenado a 15 meses de prisão e ao pagamento de US$ 8 mil. Julgado à revelia e condenado, ele não cumpriu a pena porque o caso prescreveu. Em depoimentos à época, a vítima narrou ter sido segurada à força pelos quatro jogadores do Grêmio. O processo está sob sigilo protegido pela lei de proteção de dados da Suíça.
Antes de contratar Cuca, Duílio Monteiro Alves, presidente do Corinthians, disse que pediu a opinião de várias pessoas dentro do clube, incluindo mulheres, como a diretora Cris Gambaré, do futebol feminino. Ela não compartilhou a nota publicada pelas atletas. O mandatário alvinegro também afirmou ter consultado os departamentos jurídico, de marketing e compliance da instituição e crê na inocência do treinador.
O técnico afirmou ser "totalmente inocente", disse ter "vaga lembrança" do episódio, revelou arrependimento por ter falado pouco sobre o assunto nesses anos todos e prometeu "passar por cima" dos protestos contra a sua contratação. "Sou totalmente inocente, não fiz nada. As pessoas falam que houve estupro. Eu não fiz nada", defendeu-se Cuca, que já comandou o time na derrota por 3 a 1 diante do Goiás, fora de casa.
Cuca vai provar nesta semana a repercussão de tudo o que foi dito desde sua contratação quando comandar o time dentro da Neo Química Arena. Na quarta-feira, o time recebe o Remo em decisão de vaga pela Copa do Brasil. Os patrocinadores do clube ainda não se manifestaram sobre o episódio.
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