DOHA, CATAR - Richarlison personificou o espírito da camisa 9 da Seleção Brasileira. Na estreia da Copa do Mundo, fez dois gols, com direito a um dos mais bonitos do torneio até aqui — um voleio para garantir a vitória contra a Sérvia. Brincalhão, conseguiu até que o técnico Tite comemorasse fazendo a dança do Pombo na partida contra a Coreia do Sul.
Ele é vice-artilheiro da Copa, a dois gols de Kylian Mbappé, e sonha em trazer para casa esse troféu e o do hexa. Seu pai, Antônio Marcos de Andrade, 46 anos, lembra que tudo na vida do filho se construiu para estar nesse momento. Até mesmo as lembranças do pentacampeonato, quando Richarlison tinha só cinco anos, mostram o comprometimento em ser um dos grandes nomes da Seleção.
"Ele se inspira muito no Ronaldo Fenômeno. Eu lembro que ele tinha uns cinco anos na época e morávamos só nós dois. Eu desci para a rua e eu assisti a esse jogo num barzinho lá, com ele. Ele saía um pouquinho, ia jogar bola com os meninos na rua, voltava, e eu ficava assistindo. Eu acredito que ele tem essas lembranças do Ronaldo em 2002", contou Antônio, por telefone, à reportagem.
A paixão pelo futebol veio do avô de Richarlison, João Olímpico de Andrade, que morreu no começo do ano. Ele sempre levava o filho, pai do jogador da Seleção, para ver seus jogos na várzea, tradição que seguiu na família.
"Ele sempre me levava, não me deixava para trás em nenhum jogo que ele ia. Essa linhagem eu peguei. Quando tive o Richarlison, eu sempre levava ele desde que ele começou a andar. Eu participava de amador. A gente saía em cima de caminhão, à pé, de bicicleta, sempre dava um jeito de levar ele. E ele aprendeu a gostar do futebol igual a mim."
Richarlison, inclusive, foi o catalisador do sonho do pai em disputar pelo menos uma partida como profissional. Ele fundou o Nova Venécia Futebol Clube, na cidade onde nasceu, e o clube é presidido pelo pai do atleta. No ano passado, quando o time disputava a Série B do Campeonato Capixaba, aos 45 anos, Antônio e Elton, o tio, foram anunciados como atacantes.
"Eu me inscrevi no Estadual, na Série B do Capixaba. Graças a Deus, fomos campeões e eu entrei em duas partidas, inclusive na final, que empatamos em 1 a 1 e ganhamos nos pênaltis. Foi muito gratificante para mim. Por falta de oportunidade, talvez eu não tenha seguido essa carreira, mas Deus sempre está cuidando da gente. Não deu certo para mim, mas deu certo para o meu filho, que pode alcançar sonhos ainda maiores", comemora.
A construção da carreira passou ainda pelo apoio do tio Elton e da tia Audiceia. Outra herança do jogador é a coragem de se posicionar. Foi assim, por exemplo, na época de vacinação contra a Covid-19, no desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Pereira.
"Isso vem de berço mesmo. Nossa família sempre foi humilde, sempre morou no interior, e essa humildade a gente traz de berço, de família, dos pais, que mesmo com dificuldades procuramos sempre ajudar o próximo. Meus pais sempre foram assim, sempre trabalharam duro e eu aprendi muito com eles. Procurei sempre passar isso para o Richarlison e meus outros filhos. Vem de solidariedade com o outro. Ajudar o próximo sempre é bom, né?", diz Antônio.
No Catar, as expectativas eram muitas. Richarlison se machucou às vésperas do torneio e se tornou uma preocupação. Antônio admite que ficaram apreensivos, mas a vontade de estar presente do filho foi tão grande que até a recuperação se acelerou.
"Não tenho palavras para descrever esse sentimento. Assim como vi ele realizando o sonho dele de estar no profissional do América, subindo e continuou subindo até chegar a uma Champions League, estreando com dois gols. Hoje, está na Seleção Brasileira e estreou em Copa do Mundo com dois gols. Não tem palavra que descreva essa alegria. Se Deus quiser, ele vai sair campeão dessa Copa e vai levar o hexa para o Brasil."
O Brasil volta a campo nesta sexta-feira (9), às 12h, contra a Croácia, pelas quartas de final da Copa do Mundo.
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