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Presidente de LaLiga sobre racismo com Vini Jr.: "Faz parte da malícia humana"

Presidente de LaLiga sobre racismo com Vini Jr.: "Faz parte da malícia humana"

Javier Tebas concedeu entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira (25) e apontou que 'grandes jogadores são os mais insultados'

Publicado em 25 de maio de 2023 às 13:07

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Javier Tebas, presidente da LaLiga, da Espanha
Javier Tebas, presidente da LaLiga, da Espanha. (Reprodução / La Liga)
João Barbosa
Estagiário / [email protected]

Em entrevista coletiva concedida na manhã desta quinta-feira (25), em que A Gazeta participou de forma on-line, o presidente da LaLiga, Javier Tebas, se pronunciou sobre os insultos racistas sofridos por Vinicius Jr. durante partidas do Campeonato Espanhol.

Em meio um discurso que visava defender a competência da LaLiga e apontar que a Espanha não é um país de racistas, Tebas mostrou o seu desconhecimento sobre o que de fato é racismo.

“Não entendo o racismo, mesmo que eu lute contra ele todos os dias. Não podemos ser preconceituosos, então talvez o erro tenha sido meu. Não queria criticá-lo, queria dar uma informação, já que estávamos fazendo muitas coisas para defendê-lo. Entendo que Vini esteja frustrado, pois ele não compreende quem de fato é responsável. Ele recebe insultos por ser um grande jogador. E aqueles que são grandes jogadores são realmente os que mais são insultados, faz parte da malícia humana”.

Além de reafirmar por diversas vezes que nem ele e nem a LaLiga são racistas, Tebas sinalizou que o órgão que regula o futebol espanhol trabalha para que o preconceito seja combatido, e que diretrizes são estudadas para que os casos de injúria racial tenham punições severas.

Logo no início da coletiva, Javier Tebas disse que apoia Vini Jr. desde sua chegada à Espanha, e que luta ao lado do brasileiro.

“Temos uma história muito importante na luta contra o racismo. Houve vídeos mostrados nas redes sociais, onde podíamos ver e ouvir insultos racistas e homofóbicos, e isso aconteceu com Messi, com Cristiano Ronaldo, Roberto Carlos, e trabalhamos para que isso fosse retirado dos estádios. Mas, apareceram pessoas contra essa batalha. Temos um comitê que analisa todas essas denúncias, e quando comprovadas são revertidas em multas, e é assim que podemos atuar contra o preconceito”, iniciou Tebas.

Ao citar Messi, Cristiano Ronaldo e Roberto Carlos, Javier lembrou de insultos sobre o intelecto do argentino, gritos homofóbicos contra o português e atos racistas e violentos contra o ex-lateral brasileiro quando atuavam no futebol espanhol.

Mas ao citar os cânticos racistas contra Vini Jr., Tebas afirmou que a LaLiga e a procuradoria espanhola estudam o que aconteceu de fato em cada um dos casos denunciados. “Foram só uns segundos no jogo de Valencia. A procuradoria lida com esses casos pessoalmente, eu lido com tudo isso pessoalmente”

Javier apontou ainda que a La Liga também atua em denúncias que nem o próprio Vini Jr. estaria ciente, para que a competência da competição fosse mantida.

“Há um caso em específico, de um jogo em 18/02 entre CA Osauna e Real Madrid, e no meio da arquibancada alguém gravou outro torcedor dizendo: ‘O p*** negro marcou um gol’. O Vini nem ouviu isso, pois aconteceu no meio da arquibancada, mas nós investigamos e fizemos uma denúncia. Fizemos tudo isso para defendê-lo, mesmo que ele não soubesse. Prezamos por nossa competência”.

Mas na verdade, o jogo citado por Javier não teve gols do brasileiro e sim de Valverde e Asensio, dois jogadores brancos.

Coletiva foi estampada com o lema 'Unidos contra o racismo'
Coletiva foi estampada com o lema 'Unidos contra o racismo'. (Reprodução / LaLiga)

Após o caso sofrido no último domingo (20), Vini Jr. demonstrou insatisfação com a falta de punições aos casos de racismo e cogitou sair da Espanha, mas Javier defendeu a permanência do jogador, além de salientar que não quer que outros jogadores negros tenham receio de jogar no país pelos últimos acontecidos.

“Quero que ele [Vini] continue no futebol espanhol, e que veja que nossa organização trabalha sim contra o racismo. Temos que proteger os esportistas de qualquer raça para que não sejam alvos de nenhum insulto, seja no âmbito profissional ou em sua vida pessoal. Temos um contato muito direto com os jogadores, então se surgir alguma dúvida sobre os casos do passado, estaremos aqui para sanar”.

Javier apontou ainda que a LaLiga estuda diretrizes para modificar a lei do racismo, xenofobia e intolerância, para que o órgão tenha uma competência maior para punir os suspeitos.

“Quem pode sancionar os clubes e os jogadores não é a LaLiga, mas sim a Federação Espanhola de Futebol. [...] Decidimos elevar o nível das denúncias, mudamos as estratégias, indo direto aos juizados”, disse Javier.

Em relação à postura dos patrocinadores da liga espanhola, Javier disse que a LaLiga entrou em contato com os apoiadores para mostrar proatividade na luta anti-racista.

Quando questionado pela reportagem de A Gazeta sobre o porquê do protocolo da Fifa não ter sido seguido, já que a partida deveria ser paralisada ou anulada, Javier apontou que a decisão em campo é do árbitro, e neste âmbito, a LaLiga não pode intervir.

“Em campo quem decide é o árbitro. E é o comitê de arbitragem que controla o que deve ser feito. Se cumpriu ou se não cumpriu, nós [LaLiga] não podemos entrar ali e mudar a decisão dos responsáveis pela arbitragem”.

Por outro lado, Javier apontou que a possibilidade de perda de pontos no Campeonato Espanhol é uma forma de punição estudada por seu comitê.

“Sanção de tirar pontos existe na legislação espanhola só para inscrições irregulares. Seria bom pensar na perda de pontos (para o racismo)? Creio que sim. Isso seria bom poder introduzir. Com o regime atual de sanções, queremos mais competências para nós. Temos que pensar no futuro. Contra o racismo é fundamental lutar todo dia”.

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