> >
Zagueiro capixaba foi de 'inimigo' a parceiro de Pelé no tri em 1970

Zagueiro capixaba foi de 'inimigo' a parceiro de Pelé no tri em 1970

Fontana, campeão do mundo em 1970, foi algoz do Rei quando atuava pelo Vasco; mas os dois se uniram na Seleção Brasileira que encantou o mundo na Copa do México

Publicado em 30 de dezembro de 2022 às 13:18

Ícone - Tempo de Leitura 4min de leitura
Pelé e o zagueiro capixaba Fontana jogaram juntos pela Seleção Brasileira
Pelé e o zagueiro capixaba Fontana jogaram juntos pela Seleção Brasileira. (Divulgação)
Breno Coelho
Estagiário / [email protected]
Zagueiro capixaba foi de 'inimigo' a parceiro de Pelé no tri em 1970

Durante a carreira, que foi de 1956 a 1977, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, sempre tirou o sono dos adversários. Enfrentar o Rei era sinônimo de desespero para os zagueiros, seja de clubes em jogos contra o Santos, seja de seleções em confrontos com o Brasil. Mas um defensor em especial parecia não se intimidar com o Rei. Pelo contrário. Com seu estilo viril, até desafiava em campo o melhor jogador de todos os tempos.

Essa "ousadia" partia de um zagueiro capixaba: Fontana, que chegou a ganhar o apelido de "inimigo do Rei". Ao lado de Brito, o defensor formou no Vasco uma das mais fortes duplas de zaga do Brasil, nos anos 1960, e protagonizava grandes duelos com o craque. Tanto que os dois foram convocados para a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1970 e se tornaram parceiros de Pelé na conquista do tricampeonato mundial, no México.

Quando se enfrentavam pelos clubes, Pelé e Fontana sempre "se estranhavam". Além da marcação forte, havia discussões, xingamentos, troca de empurrões e até socos, conforme relatava a imprensa da época. Tanto que em duas oportunidades os dois chegaram ser expulsos de campos, durante confrontos entre Santos e Vasco.

Pelé e Fontana travaram grandes duelos, nos anos 1960, nos jogos entre Santos e Vasco
Pelé e Fontana travaram grandes duelos, nos anos 1960, nos jogos entre Santos e Vasco. (Reprodução)

Em um desses duelos, aconteceu uma das mais famosas histórias da genialidade de Pelé. Vasco e Santos se enfrentavam, no Maracanã, pelo Torneio Rio-São Paulo, em 16 de fevereiro de 1963. Na época, o Peixe havia conquistado o Mundial de Clubes diante do Benfica, campeão europeu, e tinha um elenco recheado de craques.

Ao contrário do esperado, a partida não começou bem para a equipe paulista. O Vasco entrou ligado e abriu 2 a 0 no placar. Na defesa, Fontana estava anulando Pelé e fazendo uma ótima partida. Conforme relato da revista Placar, de 1999, foi aí que o capixaba e o companheiro de zaga, Brito, teriam decidido provocar o Rei, como contam relatos da época.

"Brito, a minha mãe disse que o Rei vinha hoje no Maracanã e me pediu para levar uma lembrança. Você viu algum Rei por aí?", provocou Fontana, enquanto marcava Pelé de perto.

"Vi não, Fontana. Acho que fugiu!", retrucou Brito.

Pelé se manteve calado, mas as provocação dos dois "xerifes" vascaínos atiçaram o Rei. Faltavam apenas cinco minutos para o fim da partida quando Pepe, pelo lado esquerdo, fez um lançamento perfeito para o camisa 10 santista, que chutou de primeira, diminuindo o placar: 2 a 1.

Dois minutos depois, Pelé recuperou a bola e iniciou uma arrancada ainda na intermediária do campo. Depois de sair driblando todos que vinham a sua frente, o Rei entrou no gol com bola e tudo: 2 a 2.

Pelé, então, fez questão de pegar a bola no fundo das redes e entregar nas mãos de Fontana: "Está vendo esta bola? É sua, Fontana. Leva para a tua mãe e diz que foi o Rei quem mandou!", disse o Rei do Futebol.

Em entrevista à Revista Placar, em 1999, Pelé contou a sua versão dessa história, que entrou para o folclore do futebol brasileiro.

“Naquele dia, o Fontana e o Brito me encheram demais. Toda vez que a bola saía e eu ia buscar, um deles chutava mais longe, aproveitando que, naquela época, não havia tantos gandulas. Depois, falavam: 'É crioulo, essa não dá mais…'. Só que, quando faltavam três minutos para o jogo terminar, fiz um gol, descontando para 2 a 1. Faltando dois minutos, fiz outro. Aí peguei a bola, dei para o Fontana e disse: 'Tá vendo isso aqui? Leva para a sua mãe de presente'. Mas eu não falei que 'foi o Rei que mandou'."

Trégua na Copa

Sete anos depois, Fontana e Pelé voltaram a se encontrar. Desta vez, estavam no mesmo time, ou melhor, na mesma seleção. Mas, mesmo com as cores do Brasil, a animosidade entre os dois persistia. Segundo relato de alguns jogadores que integraram a equipe, durante um treino, o zagueiro capixaba Fontana teria insinuado que era Pelé quem escalava a Seleção. O Rei teria desmentido: "Nunca escalei, nunca vou escalar".

Fontana (3º em pé, da esquerda para a direita) e Pelé (penúltimo agachado) durante jogo da Seleção Brasileira contra a Romênia, Copa de 1970
Fontana (3º em pé, da esquerda para a direita) e Pelé (penúltimo agachado) na formação que disputou o jogo da Seleção Brasileira contra a Romênia, na Copa de 1970. (Reprodução)

Depois do jantar, já na concentração, Pelé teria convocado uma reunião com os demais jogadores para "aparar as arestas" com Fontana. 

"O clima na Seleção é maravilhoso e não sou eu quem vai estragá-lo. Acho que alguns de vocês ouviram o que o Fontana disse no treino. Eu não gosto desse tipo de comentário. Quero que ele exponha aqui, na frente de todos, as diferenças que tem comigo", disse o camisa 10.

O zagueiro capixaba, porém, ficou calado. A partir daí, o respeito imperou entre os jogadores e a Seleção se uniu até chegar à conquista do tricampeonato mundial no México.

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

Tags:

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais