Eventos climáticos extremos como as fortes chuvas na Região Sul do Espírito Santo, alagamentos nunca vistos antes no Rio Grande do Sul e seca histórica na Amazônia são reflexo do aquecimento global e das mudanças climáticas que têm afetado o mundo e preocupado autoridades do assunto.
Os principais fatores que impulsionam essas mudanças são a queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás, que emitem gases de efeito estufa e retêm o calor do sol, aumentando as temperaturas.
Por isso, o mundo está mais quente do que nunca. Desde 1980, cada década tem uma temperatura maior que a anterior e quase todas as áreas vêm enfrentando mais dias quentes, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Conforme as temperaturas se elevam, mais umidade evapora, o que agrava as chuvas, inundações e alagamentos, com tempestades mais destrutivas.
Com o crescimento na intensidade das chuvas, as práticas mais conhecidas de gerenciamento de águas fluviais podem não ser suficientes para resolver transtornos como alagamentos. É o que diz o arquiteto paisagista chinês Kongjian Yu, criador do conceito “cidade-esponja”, que vem ganhando adeptos ao redor do mundo.
“Práticas tradicionais de gerenciamento de água da chuva costumam depender de infraestruturas que incluem canais de concreto e canos para rapidamente transportar a água para longe de áreas urbanas. No entanto, esse método costuma afastar o problema, em vez de resolvê-lo”, afirma.
As estruturas feitas para transportar a água da chuva, geralmente de concreto, não conseguem receber um volume maior que o esperado para elas. Por isso, em situações extremas, elas podem transbordar ou até quebrar.
Para o arquiteto paisagista chinês Kongjian Yu, a solução para as cidades está em reimaginar os espaços urbanos com processos que imitam a natureza, projetando áreas naturais para absorver um grande volume de água. Por isso o nome cidade-esponja.
“Construir cidades-esponja significa adaptar as cidades para absorver, guardar e purificar água dentro de um ambiente urbano, muito similar a uma esponja natural. Isso inclui o uso de superfícies permeáveis, ‘parques-esponja’, jardins de chuva, zonas úmidas e coberturas verdes, que, coletivamente, absorvem e filtram a água da chuva para, gradualmente, devolvê-la ao meio ambiente ou armazená-la para ser usada no futuro”, destaca.
Atualmente, o arquiteto é consultor do governo chinês e já projetou obras em mais de 70 cidades do país.
Para a conselheira do Instituto de Arquitetos do Brasil, departamento do Espírito Santo (IAB/ES), a arquiteta e urbanista Nayara Gava, a criação desses espaços também é possível no Espírito Santo.
“Acredito que é possível e urgente pensarmos em cidades capixabas mais sustentáveis e preparadas para catástrofes. Do ponto de vista da arquitetura e do urbanismo, precisamos planejar espaços mais permeáveis e com outras alternativas de drenagens, diferentes das convencionais. Ainda somos um povo que retifica canais, acresce asfalto e retira árvores das ruas, e isso é uma cultura que deve ser trabalhada”, pontua.
Para a implementação de políticas mais sustentáveis nas cidades, os municípios precisam atuar, por exemplo, na elaboração e atualização dos planos diretores e na execução de medidas que impactam diretamente os centros urbanos. É o que defende o diretor-geral do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Pablo Lira.
“Se alguma cidade aqui do Estado investir nesses espaços, não significa que as enchentes vão acabar, até porque a gente sabe da questão do aquecimento global e dos eventos climáticos cada vez mais extremos. No entanto, com essas estratégias combinadas e um ordenamento territorial urbano regido pelos planos, como plano diretor municipal, plano local de ação climática, plano de gestão de risco geológico ou plano de mobilidade urbana, os impactos podem ser amenizados”, afirma.
O arquiteto paisagista chinês Kongjian Yu, criador do conceito de cidades-esponja, concorda que o poder público também precisa se comprometer com a criação desses espaços para haver um resultado eficiente.
“Para implementar o conceito de cidade-esponja rapidamente, é crucial ter forte apoio governamental e políticas claras que priorizem infraestruturas verdes. Sem uma forte liderança e comprometimento por parte do poder público, seria desafiador superar as barreiras da implementação e garantir o sucesso no longo prazo”, conclui o arquiteto.
Segundo a arquiteta Nayara Gava, cidades mais arborizadas e com mais parques urbanos são algumas das medidas que podem ser implementadas.
“Para pensar em cidades-esponja, precisamos construir cidades mais arborizadas, com mais parques urbanos e menos asfalto e concreto e, definitivamente, respeitar mais o meio ambiente. O poder público deve atualizar a forma de pensar e fazer a cidade, além de auxiliar na conscientização da população sobre essas possibilidades”, finaliza.
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