Não tem como escapar: seja pelas notícias, seja até pelas músicas que fazem sucesso no verão brasileiro, Balneário Camboriú (SC) está em alta e chama a atenção não só por suas praias como por outro elemento: a abundante presença de prédios super altos.
Arranha-céus, edifícios de luxo e projetos biofílicos são elementos comuns e característicos da cidade do litoral catarinense, que deram a ela o apelido de “Dubai brasileira”. Atualmente, “BC” reúne sete dos dez prédios mais altos do Brasil, sendo que o One Tower, um residencial, é o maior deles com seus 290 metros de altura, algo próximo de 7,5 vezes a altura do Cristo Redentor, localizado no Rio de Janeiro.
Entretanto, a cidade tem planos mais ambiciosos. Isso porque a FG Empreendimentos, com liderança técnica da Talls Solutions, consultoria especializada em prédios desse porte, está encabeçando a construção da Senna Tower, que promete ser o maior residencial do mundo com surpreendentes 500 metros de altura e 154 andares.
Atualmente, o edifício que lidera como o residencial mais alto do mundo é o 111 West 57th Street, em Nova Iorque (EUA), popularmente conhecido como Steinway Tower, com 435 metros de altura e 84 andares. Ele também acumula o recorde de ser o arranha-céu mais estreito do mundo, com 18 metros de largura.
Já o edifício misto que ainda tem a posição de mais alto do mundo, e não deve ter a coroa contestada tão cedo, é o Burj Khalifa Bin Zayid, em Dubai, com seus 828 metros de altura e 160 andares. Lembrando que este não é apenas um prédio residencial já que ele abriga também salas comerciais, além de apartamentos.
Com o início da construção desse gigante em solo brasileiro, surge a dúvida: será que o Espírito Santo tem capacidade física e estrutural para receber um prédio dessa magnitude?
Especialistas têm opiniões divergentes, mas uma coisa é unânime: essas construções não podem, sob hipótese alguma, desvalorizar o que há de melhor nas paisagens do Estado.
Dentre os defensores dos arranha-céus está Sandro Pretti, diretor do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Espírito Santo (Sinduscon-ES) e um dos arquitetos responsáveis pelo Taj Home Resort, o residencial mais alto do Espírito Santo com 158,20 metros e 50 andares – uma altura modesta se comparada com o Senna Tower, mas ainda inovadora para o mercado capixaba.
Pretti considera que é um equívoco restringir a altura dos prédios de forma geral e que as limitações fazem sentido apenas em locais específicos, como na orla da praia, ou quando a altura da construção gera a obstrução da vista de monumentos históricos, como o Morro do Moreno e o Convento da Penha, elementos naturais e históricos do Estado.
“Fora esses casos, não vejo razão para impedir construções mais altas. Quanto mais alto o prédio, maior a necessidade de afastamentos laterais, o que proporciona mais privacidade, melhor qualidade de vida e uma menor ocupação da área do terreno”, complementa.
Para ilustrar a questão, ele dá exemplo do próprio Taj. "Em seu terreno de 30 mil metros quadrados, apenas 12% da área foram ocupados, deixando 88% como área permeável, o que é benéfico para uma cidade que tem histórico negativo com as chuvas, como Vila Velha", diz.
A distância entre as duas torres do empreendimento é de 180 metros – praticamente um quarteirão –, espaço que poderia abrigar 20 prédios de 10 andares, de acordo com Pretti.
“Isso mostra como a densidade pode ser bem aproveitada. Podemos ter um edifício de 100 andares, com um apartamento por andar, ou um prédio de 10 andares com a mesma ocupação. A diferença é que, com 100 andares, há mais privacidade, melhor insolação no solo, maior permeabilidade e melhor ventilação dos apartamentos, que são características valorizadas por quem compra um imóvel”, destaca o arquiteto.
Entretanto, o principal motivo que impede a construção dos superprédios é a falta de terrenos. Os megaempreendimentos necessitam de terrenos grandes o suficiente que atendam às exigências de afastamento lateral estabelecidas pelos Plano Diretor Urbano (PDU), no caso de Vitória, e o Plano Diretor Municipal (PDM), leis que definem as regras e estratégias de desenvolvimento de uma cidade.
“Hoje, encontrar terrenos amplos em Vitória é praticamente impossível, o que dificulta a viabilização de edifícios altos na cidade”, afirma Sandro Pretti.
Apesar dos desafios, o diretor do Sinduscon acredita que os arranha-céus devem cada vez mais ocupar espaço no mercado imobiliário, pois são elementos que valorizam a cidade – e, inclusive, destaca Balneário Camboriú como referência. “A cidade se vende tanto por suas belezas naturais quanto por sua arquitetura”, finaliza.
Apesar dos benefícios e de Balneário realmente ser um grande exemplo de projetos arquitetônicos e construções grandiosas, o professor Augusto Alvarenga, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), ressalta que a importação de modelos é um grande erro.
Alvarenga concorda que prédios dessa magnitude são possíveis no Estado, mas destaca que, numa tentativa de copiar projetos estrangeiros, principalmente de cidades como Dubai e Miami, que possuem climas, número de habitantes e tipos de solo completamente diferentes do que encontramos aqui, outros problemas são gerados, como a sobrecarga da infraestrutura pública da cidade.
“Se observarmos Balneário Camboriú, por exemplo, vemos prédios com até sete ou oito andares de janelas muito próximas umas das outras, o que torna o ambiente interno da cidade pouco agradável, já que não foi levado em consideração o adensamento urbano. Precisamos ser críticos em relação a esse modelo, pois ele pode parecer bonito em fotos, mas não garante a qualidade de vida prometida para os moradores no dia a dia”, afirma o profissional, que possui doutorado em Investigação em Arquitetura e Meio Ambiente.
O professor também ressalta que a realidade tropical brasileira exige sombra, varandas amplas e ventilação cruzada, algo essencial para o conforto térmico.
“A verticalização precisa ser feita com respeito à cidade e ao clima local. Não basta erguer torres imponentes para criar uma ‘cara de Dubai’. É fundamental que esses empreendimentos estejam integrados à realidade da nossa região, sem servir apenas aos interesses do mercado”, pontua.
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