Prefeituras da Grande Vitória criam processos mais ágeis para atrair investimentos
Na busca de aperfeiçoar sistemas e digitalizar processos, prefeituras utilizam até mesmo inteligência artificial, para que aprovação de projetos imobiliários sejam analisadas em menos tempo
Publicado em 3 de janeiro de 2024 às 11:30- Atualizado há um ano
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Aprovação de projetos por meio digital é um dos investimentos dos municípios. (Shutterstock)
O crescimento de um município passa, principalmente, por seu desenvolvimento imobiliário. E um dos fatores mais importantes, que tem o potencial de fazer com que um determinado empreendimento seja construído ou não em uma cidade, é justamente a aprovação do projeto.
Um dos principais pleitos do setor imobiliário, a velocidade com que projetos são aprovados junto ao poder público ainda é um gargalo, mas prefeituras, principalmente da Grande Vitória, têm buscado aperfeiçoar sistemas e digitalizar processos, usando até inteligência artificial, para que a liberação para o início das obras ocorra em menos tempo.
Um exemplo é a Prefeitura de Vila Velha que, desde 2021, quando tornou o trâmite de processos totalmente on-line, conseguiu reduzir em até 30% esse tempo, segundo afirma a secretária municipal de Desenvolvimento Urbano e Mobilidade, Adriana Peixoto Miguel.
“Atualmente, estamos em fase de testes, mas assim que instituírmos, de forma on-line, a autodeclaração de projetos de baixa complexidade, o tempo de espera de aprovação de novos empreendimentos será ainda menor”, afirma.
A Prefeitura de Vitória também tem apostado na redução do tempo de espera com a digitalização e simplificação de processos. Segundo o secretário de Desenvolvimento da Cidade e Habitação, Luciano Forrechi, em 2021 foi mudada a legislação para separar os tipos de empreendimentos.
“A aprovação de uma obra nova de alta complexidade demorava mais de um ano para acontecer. Atualmente, essa média é de 120 dias. Também estamos em fase de testes para a utilização de inteligência artificial para ajudar na análise de projetos”, complementa.
Crescimento mais ordenado
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Espírito Santo (Sinduscon-ES), Douglas Vaz, afirma que as prefeituras têm buscado se estruturar para aumentar a celeridade dos processos. Mas, segundo ele, o que ainda pode melhorar nesse quesito é uma mudança de cultura.
“É preciso ter uma visão voltada para o desenvolvimento do município, pois quanto mais acelerar a aprovação dos projetos, melhora a cidade, que passa a ter mais empregos, renda e receita para o município. É preciso implantar uma cultura de dar mais velocidade a esses processos”, afirma.
Segundo ele, a demora na liberação de projetos pode, inclusive, levar a um crescimento desordenado da cidade, uma vez que algumas pessoas acabam trabalhando na ilegalidade, vendendo terrenos de um projeto que não está aprovado junto à prefeitura, criando toda uma rede de insegurança, tanto para os donos dos imóveis, que podem estar sujeitos a despejo, quanto na perda de arrecadação para os municípios.
O engenheiro civil e membro do núcleo Gestor do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES) José Maria Cola dos Santos explica que, no caso de empreendimentos ilegais, o papel da entidade é orientar e penalizar o profissional de engenharia, quando este comete uma infração.
“As prefeituras têm feito o seu trabalho e o Crea faz seu papel de fiscalização Dependendo de onde se encontra e o porte do empreendimento, é necessário fazer o estudo de impacto de vizinhança. Quanto ao Crea, temos digitalizado os processos para permitir uma velocidade maior na emissão da notação de responsabilidade técnica. Assim que o pagamento da mesma é realizado, ela já está valendo, permitindo que uma obra seja iniciada”, reforça.
Algumas ações das prefeituras da Grande Vitória para agilizar aprovações de projetos:
Cariacica:
Revisão do Plano Diretor Municipal (PDM), que inclui as seguintes mudanças:
não há mais limite de andares desde que a edificação atenda à área máxima de construção permitida;
liberadas áreas para novos empreendimentos;
redução da exigência de vagas para empreendimentos destinados a habitação de interesse social e comercial;
isenção de área destinada a estacionamento, circulação e áreas comuns no cálculo da área máxima permitida;
Sistema de aprovação on-line Aprova Legal, que inclui protocolo do processo, inserção de documentos, emissão de taxas, pareceres e licenças.
Inclusão das leis urbanísticas no sistema para facilitar a tramitação dos projetos, que são validados previamente pelo próprio sistema.
Alteração do Código de Obras em relação ao tamanho de vagas de estacionamento, circulação e manobra.
Aprovação e regularização de edificações com projeto simplificado.
Revisão do Código de Obras por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento da Cidade e Meio Ambiente (Semdec), que irá implementar a licença para construção autodeclarada. A análise pelos técnicos será feita posteriormente para confirmar as informações e emitir a aprovação definitiva.
Serra:
Aumento das aprovações de projeto e licenças de obra após a integração das Secretarias Municipais de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano e da implementação da aprovação de projeto e licenciamento ambiental integrados por meio de processo totalmente digital.
A digitalização dos processos, apoiados na autodeclaração, acelerou a aprovação de projetos e licenciamentos de obra e ambiental, permitindo a concessão de licenças em sete dias, em média.
Aprovação do Plano Diretor Municipal Sustentável, que instituiu as seguintes mudanças:
reestruturação do uso e ocupação do solo;
reestruturação de todos os índices urbanísticos e compatibilização com a real ocupação dos parcelamentos municipais aprovados e projetos de desenvolvimento estruturados pela prefeitura;
adequação das Zonas de Proteção Ambiental ao estabelecido no Código Florestal Brasileiro;
adequação do Plano de Mobilidade Urbana Sustentável às regras do Código de Trânsito Brasileiro;
atualização do plano viário, cicloviário, hierarquia viária, corredores de transporte coletivo, corredores de transporte de cargas, entre outros;
adequação das regras e modelos de parcelamento às normas estaduais e federais;
reestruturação do Conselho Municipal da Cidade (Concidade);
revisão do Plano Diretor Municipal Sustentável em cinco anos.
Atualmente, a prefeitura está trabalhando na revisão do Código de Obras, de Posturas e de Meio Ambiente. - Melhoria e atualização dos processos digitais, com fluxos sendo otimizados e a implantação de novas tecnologias.
Viana:
Implantação do sistema Desenvolve Legal pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (SEMDUH), plataforma on-line integrada aos demais sistemas utilizados pela prefeitura.
O sistema está parametrizado com o Plano Diretor Municipal (PDM) e com o nosso Código de Obras, agilizando a aprovação dos projetos.
Revisão do Código de Obras em 2021, com a inclusão do Programa “Simplifica Viana”, que estabelece normas e procedimentos para apresentação e análise simplificada dos projetos arquitetônicos.
Torna responsabilidade do autor do projeto e do responsável técnico pela execução da obra o atendimento a toda e qualquer legislação vigente.
Revisão do Plano Diretor Municipal em 2022.
Vila Velha:
Alterações no Plano Diretor Municipal (PDM), com mudanças na exigência de vagas de estacionamento.
Criação de estudo alternativo de impacto para projetos de menor porte, com a finalidade de reduzir o tempo de aprovação.
Está em estudo a inserção de autodeclaração na aprovação de projetos de baixa complexidade, cuja consulta prévia será on-line.
O estudo de impacto de vizinhança (EIV) foi readequado, separando projetos de 5 mil a 10 mil m² como de baixa complexidade, e acima de 10 mil m² como de alta complexidade.
Alteração dos impactos das atividades econômicas: antes, a atenção ficava apenas com o tamanho do empreendimento. Hoje, o critério vai depender da relação do tipo da atividade com a área onde está inserido o projeto.
Inserção de processo eletrônico em 2021, reduzindo o tempo de tramitação.
Vitória:
Inclusão da aprovação on-line de projetos para agilizar o processo.
Mudança na legislação, em 2021, com a separação dos tipos de empreendimentos a serem feitos: nova obra, melhorias, pequenas e grandes intervenções.
Diferenciação entre projetos de baixa e alta complexidade: o que define cada uma não é mais o tamanho e sim o impacto que terá na região.
Está em desenvolvimento um sistema que utilizará inteligência artificial (IA) permitirá analisar automaticamente os requisitos do Plano Diretor Urbano (PDU) para aprovação automática de um projeto.
Atualização do PDM por meio de discussão junto à sociedade para adequar o que deve ser ajustado.