Durante a construção ou reforma de uma residência, um fator muitas vezes negligenciado é o planejamento elétrico, especialmente na organização dos pontos de tomada. O que pode parecer um detalhe pequeno, em comparação com outros aspectos da obra, na verdade é capaz de garantir praticidade e segurança aos moradores.
Problemas elétricos como curto-circuito, sobrecarga e instalações elétricas mal feitas são algumas das causas mais comuns de incêndios domiciliares no Brasil. Além do prejuízo a bens materiais causado por essas ocorrências, que pode ser grande, elas também oferecem riscos para a vida das pessoas que ali moram.
O arquiteto Bruno Moraes destaca que é preciso ter muito cuidado com esse fator ao construir ou reformar um imóvel, uma vez que o seu papel é essencial.
“Assim como o coração bombeia sangue para o corpo, a instalação elétrica distribui energia para todos os pontos da casa. Essa analogia com o órgão humano é muito verdadeira, uma vez que o quadro de distribuição, também conhecido como quadro de luz, é o responsável por levar a energia elétrica aos pontos de consumo, como tomadas, lâmpadas, chuveiros, ar-condicionado e demais equipamentos”, explica.
Além disso, a engenheira civil e designer Elis Nobre ressalta que profissionais qualificados são essenciais para um bom planejamento, devendo ser acionados em todas as etapas do processo, conforme a necessidade.
“Primeiro é importante consultar o projetista, arquiteto, designer ou engenheiro civil ou elétrico, para dimensionar a quantidade, locais, amperagem e voltagem. No caso do engenheiro elétrico, ele entra mais quando o local requer a assinatura de um profissional e a tensão de entrada for maior que 1.000 volts. Também é preciso um eletricista para fazer a instalação das tomadas e toda a fiação elétrica da obra”, comenta.
Segundo Bruno, é comum encontrar casos de instalações elétricas feitas por pessoas que não têm a qualificação adequada – o famoso “conhecido do conhecido” –, sob improviso ou de maneira que não segue os padrões e normas de segurança estabelecidos.
O arquiteto conta que sugere aos clientes que façam uma análise de tudo que envolva a parte elétrica ao planejar uma construção ou reforma, para que seja possível desenhar e posicionar as tomadas adequadamente. Ele também ressalta que é importante estar atento às normas da ABNT e saber quais são as necessidades dos moradores para aquele ambiente e como as tomadas serão usadas.
“Já tivemos casos em que o cliente gostaria de ligar vários equipamentos que comprou no apartamento novo sem nos consultar antes, mas ao realizarmos os cálculos, verificamos que o cabeamento que alimenta o quadro de distribuição do apartamento não iria suportar todos os equipamentos eletrônicos comprados e precisaríamos trocar o cabo alimentador”, conta.
Para Bruno, a ausência do projeto de instalação elétrica poderia ter ocasionado danos aos aparelhos e até mesmo ao imóvel.
“Se não tivéssemos feito este projeto de elétrica, provavelmente o quadro não iria aguentar e iria desarmar toda hora. Também pode gerar um pico de energia em uma instalação elétrica mal planejada e queimar seus eletrodomésticos e, no pior caso, o cabo pode entrar em combustão e gerar um princípio de incêndio”, alerta.
A engenheira civil Elis Nobre explica que a quantidade de tomadas em uma residência varia de acordo com o projeto de ambientação e a necessidade do proprietário. Ela cita que em locais onde se usam muitos eletrônicos ao mesmo tempo – como cozinhas e salas de TV, por exemplo – é bom pensar em mais tomadas.
Além disso, existem opções para deixar as tomadas concentradas em um só lugar, principalmente para atender situações em que múltiplos carregadores são usados próximos uns aos outros.
“Sempre falo que tomada nunca é demais. Mas caso não queira colocar um monte, pode reduzir o número e colocar espelhos (placas onde ficam os furos da tomada ou interruptores) com mais de uma entrada, para que não falte quando for necessário usar mais de um aparelho em um mesmo local”, conta a designer.
Outra alternativa para quem precisa de muitas entradas próximas são as tomadas embutidas, geralmente vendidas na forma de torre ou caixa.
“As tomadas embutidas ou mais sobressalentes, a priori, têm como principal diferença o visual. Mas, quando se tem pouco espaço, as embutidas, que ficam faceadas à parede, à superfície, deixam o espaço mais livre, protegidos de esbarrões”, explica Bruno.
Da mesma forma que alguns cômodos exigem mais tomadas, outros não precisam de tantas entradas, como nos casos do banheiro e da varanda. Elis cita que, inclusive, nessas partes do imóvel, é preciso tomar cuidado com fatores de perigo, evitando principalmente colocar tomadas em locais de área molhada.
Ela também alerta que é importante se atentar ao posicionamento de móveis e outros elementos que podem atrapalhar o acesso à tomada.
“As tomadas devem ser posicionadas depois que o layout de ambientação estiver muito bem definido, pois assim, serão colocadas onde realmente devem ser usadas. É sempre bom tomar cuidado para não perder uma tomada atrás de algum móvel pesado ou que ficará embutido. Em casos de painéis, sempre trazer a tomada para frente do mesmo”, ressalta.
Outro fator que deve ser levado em consideração é o tipo das tomadas, que variam em amperagem (10A ou 20A) e voltagem (127V e 220V). Aparelhos de 20A exigem uma potência maior para funcionar e por isso vêm com pinos mais grossos, o que impede o encaixe em tomadas de 10A. Também é importante observar a voltagem da tomada, para evitar danos e instabilidade aos aparelhos.
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