O ano de 2022 será marcado por disputas eleitorais que podem ditar o ritmo da geopolítica internacional nos próximos anos. Teremos eleições para chefes de Estado em diversos países da América, Europa e Ásia, que podem refletir as influências políticas dos atuais governantes, ou que podem ditar o rumo das eleições de 2024. Por isso, listo aqui cinco processos eleitorais para ficarmos atentos em 2022.
1. Hungria - no poder desde 2010, Viktor Orbán, líder do Fidesz (partido nacionalista e conservador) terá pela frente a Oposição Unida, com seis partidos que vão dos socialistas à direita moderada. No atual momento, tem-se um empate nas pesquisas. Visualizando uma forte coalizão, a oposição escolheu como candidato Péter Márki-Zay, católico conservador que entrou para a política em 2018. Com uma política autocrata, Orbán reduz o Estado de Direito húngaro ao interferir na interdependência entre os três poderes, aumentou seu domínio e influência sobre mídia e possui um discurso anti-imigrante e anti-LGBT. Uma possível derrota da oposição poderia enviar um sinal desastroso à democracia húngara de que nem uma frente ampla poderia retirar Orbán do poder.
2. França: com a popularidade em alta, Emmanuel Macron surge como favorito para reeleição. Com a possível reeleição, o atual presidente do país tem a esperança de se firmar como o principal líder da Europa, com a aposentadoria da chanceler alemã Angela Merkel. Na concorrência para a disputa do segundo turno têm-se Le Pen que, ao mesmo tempo em que cresceu nas pesquisas ao adotar um discurso menos radical, abriu o flanco para surgimento de outro candidato mais à direita do espectro político, Éric Zemmour. Caso um destes dois vá para o segundo turno, como possuem um teto baixo de votos, daria menos trabalho para Macron. No entanto, é importante salientar que Le Pen e Zemmour roubam votos um do outro e ficam ambos em torno de 15%. Bom para Valérie Pécresse (direita tradicional), que daria mais trabalho para Macron em um segundo turno.
3. EUA: em 2022 acontecerão as eleições legislativas, também conhecidas no país como midterms. Historicamente são mais leves e tranquilas, com menos apelo populacional e menos ações midiáticas. No entanto, fato é que as eleições importam menos agora e mais em 2024, quando Trump deverá se candidatar de novo à Casa Branca. Com a popularidade de Biden em queda, é provável que os Republicanos saiam com maioria na Câmara e no Senado. Caso tudo isso ocorra, é possível que em 2024 o partido retorne mais fortalecido. Caso Trump perca por pouco, sem aceitar o resultado, e neste mesmo cenário tenhamos um Congresso Republicano disposto a não certificar o vencedor, o cenário pode ser pior do que nas últimas presidenciais. Aqui, temos o maior ponto de atenção para a democracia liberal do ocidente.
4. Colômbia: o país sul-americano, com sua política contemporânea fortemente influenciada pelo combate às Farc e à ELN, passou ao largo da "onda vermelha" na América do Sul durante a década de 2000. Como presidente teve Uribe, Santos, depois Duque. Em 2022 pode eleger seu primeiro presidente posicionado mais à esquerda do espectro político. Gustavo Petro, ex-prefeito de Bogotá, lidera as pesquisas. No segundo turno, enfrentará campanha que reaviva fantasma do comunismo e risco de a Colômbia, vizinha e país de maior relação com a Venezuela, "virar uma Venezuela".
5. China: pode parecer cômico, mas, sim, teremos eleições na China em 2022. É provável que o congresso quinquenal do Partido Comunista reeleja Xi Jinping para um terceiro mandato, embora três mandatos sejam um tabu desde os anos 1980. O assunto mais importante estará ler nas entrelinhas, e não no resultado em si. Podemos dizer que no congresso de 2017, Xi teve seu "pensamento" incluído na constituição, igualando-se a Mao e Deng Xiaoping, e anunciou pretensão da China de virar "líder global" em 2050. Novamente, a eleição se torna relevante não pelo seu resultado, que é previsível, mas pelas mensagens que passará à geopolítica internacional.
Os processos eleitorais em 2022 representarão uma tendência da geopolítica internacional. Teremos embates importantes entre direita e esquerda (casos dos EUA, Colômbia e Hungria) e teremos, também, um embate pelo poder Europeu (no caso de Macron). No entanto, sem dúvidas, a disputa mais importante se dará pela influência geopolítica mundial que ocorrerá durante a vitória de Xi Jinping.
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