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Não faça nada. Não diga nada. Não seja nada.

Não faça nada. Não diga nada. Não seja nada.

Luiz Henrique Stanger - Associado Alumni do Instituto Líderes do Amanhã

Publicado em 25 de novembro de 2022 às 10:07

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Segundo Elbert Hunard, “há apenas uma maneira de não receber críticas: não faça nada, não diga nada, não seja nada.”. Constantemente somos colocados diante de debates com divergências que ganham grandes proporções, em que o lado mais melindrado costuma ser aquele criticado, cuja ideia, teoria, ação ou pensamento foi posto em dúvida.

Se a liberdade de expressão é garantida por cláusula pétrea em nossa Constituição, sendo vetada a censura, seríamos realmente livres para discordar?

Somos livres para discordar, entretanto, quero propor neste artigo sair da obviedade do direito à liberdade de expressão para levar o leitor à seguinte reflexão: é importante identificar se a base da nossa discordância recai sobre o conflito de interesses, de visões ou de ideologias.

A princípio, vale destacar que conflito de interesses tem clareza das partes interessadas, isto é, o debate é posto sobre o que se defende e o que não se defende. Contudo, tomando como base a percepção direta dessas partes, cujo fundo emocional é o maior componente, tal conflito pode torná-las completamente cegas em uma disputa/discussão em que seja necessário o equilíbrio racional ou a postura crítica. Por consequência, apegar-se emotivamente a interesses pode tornar um ambiente - ou uma mente - imune a argumentos e debates racionais.

Segundo o economista Thomas Sowell, “conflitos de interesses predominam por período curto, porém conflitos de visões dominam a história’’.

Comparado ao conflito de interesses, o conflito de visões é mais profundo e abrangente, pois depende da consciência de pressupostos fundamentais sobre a realidade. Entende-se que uma visão não é meramente um sonho, uma esperança ou algo nesse sentido, mas o próprio pensar sobre o funcionamento do mundo e, diante de uma realidade abrangente, aleatória e complexa, mapas mentais são criados para tentar abstrair detalhes excessivos e compreender a realidade de forma simples e esquemática. A mente tenta dar um sentido para aquilo que se quer entender, aceitar e compreender. Visões não usam como justificativa a metodologia, mas conectam-se com o que sentimos ou percebemos do funcionamento do mundo. É a experiência em sua totalidade e não alguma cena ou estado especifico das coisas.

A visão, então, modela a nossa orientação teórica, mas esta não determina nossa visão. O risco de uma visão, segundo Sowell, é “trocar a liberdade inerente da capacidade humana de pensar pela camisa de força da lógica, que pode subjugar o homem quase tão violentamente quanto uma força extrema.” O caminho para encontrar a verdade passa pelo questionamento, o que deve começar pelo indivíduo, ao investigar os fundamentos das próprias visões.

A filósofa Hannah Arendt diz que ideologia significa um pensamento total que dá conta de explicar tudo previamente, sem deixar nenhum detalhe em vão. Agarrar certezas que moldam o mundo pode ser muito sedutor, já que retira o esforço de pensar e examinar com profundidade, qualquer que seja o tema.

Quem se ancora em uma ideologia acredita que seu fundamento se baseia em lógica, opondo-se a tudo que não caiba nela. Não há sentido em apelar para nada quando a mente se perde na coerência de uma boa ideia.

O escritor Frédéric Gross aponta a filosofia como tendo “a tarefa de estremecer as certezas mais do que fundamentá-las. Já a ideologia seria ao contrário: se devo mostrar-te que tenho razão, é que tu serás meu inimigo.’’

Somos livres para discordar, mas podemos estar diante de situações em que indivíduos ou grupos tenham interesses escusos, visões de mundo destoantes da realidade ou ideologias petrificadas. O fascínio de sempre estar com a razão pode acabar sendo um passo perigoso para quem busca a verdade.

Associado Alumni do Instituto Líderes do Amanhã
Associado Alumni do Instituto Líderes do Amanhã. (Luiz Henrique Stanger)

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