Quem nunca visitou um restaurante que apesar da excelente comida, era quase impossível de conversar? O barulho de talheres rangendo no prato, a movimentação da cozinha e os ruídos reverberando pelo ambiente tornavam o cenário tão caótico que não dava para aproveitar o espaço e relaxar durante a refeição.
É ainda pior quando esses problemas sonoros estão dentro de casa e o som dos vizinhos começa a vazar dentro da sala. Ou até mesmo no trabalho com o barulho de cadeiras se arrastando, conversas paralelas entre colegas e o som dos teclados que tira a concentração e deixa ainda mais difícil recuperar a linha de raciocínio.
Esses cenários estão presentes na vida de milhares de brasileiros diariamente e poderiam ser facilmente resolvidos com uma palavra famosa, mas que nem sempre é valorizada na hora dos projetos arquitetônicos: a acústica.
“Ela sempre teve relevância quando falamos de isolamento, desde empreendimentos residenciais até salas corporativas e comerciais. Mas, recentemente, vem ganhando um destaque ainda maior devido a atual preocupação das empresas com a sensação de conforto e comodidade de seus usuários e colaboradores”, explica a gestora técnica em acústica e revestimentos Andrea Bellon.
Isso porque com a pandemia muitas pessoas começaram a trabalhar de forma remota e agora com o retorno das atividades presenciais, o ambiente de trabalho corporativo precisa ser igualmente atrativo e aconchegante quanto os nossos lares.
A descoberta dessa necessidade acústica foi feita, aliás, no próprio home office. O som da reunião on-line que ecoava pela sala ou os barulhos externos que impediam de se comunicar com os colegas por videochamada, poderiam ser problemas cansativos.
Projetos corporativos que aliam design, acústica e ergonomia estão em alta, porque de acordo com a arquiteta Melissa Francani, hoje temos noção de que nós nos relacionamos e fazemos escolhas por meio do espaço.
“Não escolhemos voltar em um restaurante barulhento e com uma iluminação ruim. Então, muitas empresas estão revendo seus ambientes porque quando você dá conforto, o engajamento das pessoas aumenta, já que elas se sentem pertencentes àquele espaço. Não dá mais para desassociar a arquitetura corporativa da produtividade”, destaca.
Entretanto, engana-se quem pensa que para criar um ambiente confortável na empresa basta apenas colocar um mobiliário que se usaria dentro de casa. A arquiteta explica que o desenvolvimento de um sofá para um ambiente corporativo, por exemplo, exige medidas diferentes e materiais mais resistentes.
“A própria ergonomia dos móveis é feita para manter o bem-estar dos trabalhadores. Isso reduz até os custos de afastamento dos empregados porque desenvolvemos ambientes para diminuir os riscos à saúde desses trabalhadores”, ressalta Melissa Francani.
Essa combinação entre conforto ambiental, térmico e acústico é o que possibilita a melhora das áreas de conexão. Para Andrea Bellon, algumas pequenas mudanças no espaço já ajudam a melhorar a absorção do som pelo ambiente. No entanto, é claro que uma ajuda profissional é sempre o mais recomendado, já que estamos falando de uma área que será utilizada com frequência.
“Hoje em dia, está muito em alta o forro ser aberto e não ter mais o modular. Entretanto, não podemos esquecer de avaliar a absorção acústica dos materiais. Recomendo a adoção de algumas divisórias entre as mesas e também observei que nos projetos de Vitória não existe o costume de usar carpete, o que já perde uma parte dessa absorção”, avalia Andrea.
De acordo com a gestora, é interessante como nos tornamos seletivos em relação aos espaços que frequentamos. Muitas pessoas se acostumaram a trabalhar remotamente, então é preciso se sentir confortável no trabalho como se estivesse dentro de casa.
Por isso, de acordo com as especialistas, unir a arquitetura acústica e corporativa é fundamental. Afinal, pensar na dispersão do som é indispensável para criar ambientes harmônicos e aconchegantes e em tempos de muita informação, manter o foco pode ser uma tarefa complicada.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta