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Anderson Varejão e Didi lembram experiências na NBA e analisam o draft de 2020

Anderson Varejão e Didi lembram experiências na NBA e analisam o draft de 2020

A reportagem de A Gazeta conversou com Varejão, que atuou por 13 temporadas na liga, e Didi, que em 2019 entrou na NBA e atualmente passa por um período de experiência na liga australiana

Publicado em 23 de novembro de 2020 às 19:47

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Montagem de Anderson Varejão ao lado de Didi, ambos prestes a arremessar uma bola, com a camisa da Seleção Brasileira de basquete durante um jogo
Anderson Varejão e Didi foram os capixabas que já passaram pelo draft da NBA. (Divulgação/FIBA)

A NBA, principal liga de basquete do mundo, conheceu suas futuras estrelas na última quarta-feira (18), quando foi realizado o draft, evento no qual os times selecionam os prospectos, como são conhecidos os jovens talentos, que encantaram no basquete universitário. Entre os principais destaques estão Anthony Edwards, selecionado pelo Minnesota Timberwolves como a primeira escolha geral, e LaMello Ball, sensação universitária e febre nas redes sociais, escolhido pelo Charlotte Hornets, franquia que tem a lenda do esporte Michael Jordan como dono, na terceira escolha geral.

Ao longo dos anos, 15 brasileiros foram draftados por franquias da NBA, sendo dois capixabas: Anderson Varejão, selecionado como a 30ª escolha em 2004 pelo Orlando Magic e trocado para o Cleveland Cavaliers, time pelo qual atuou por 12 temporadas ao lado de estrelas como LeBron James e Kyrie Irving; e Didi, escolhido em 2019 pelo New Orleans Pelicans na 35ª escolha e que atualmente passa por um período de experiência na Liga Australiana de Basquete, atuando pelo Sidney Kings.

A reportagem de A Gazeta conversou com os atletas capixabas a respeito do draft de 2020 e as expectativas deles sobre as promessas selecionadas nas primeiras escolhas.

MAS ESPERA, COMO FUNCIONA O DRAFT DA NBA?

Antes do nosso leitor conferir a conversa com Varejão e Didi, vamos para uma rápida e básica explicação sobre o complicado sistema do draft da NBA.

Ao todo, a NBA possui 30 equipes, mas apenas as 14 franquias que não alcançam os playoffs, ou seja, a fase de "mata-mata" da liga, têm direito às primeiras escolhas e podem selecionar os prospectos universitários mais valiosos e (teoricamente) talentosos. Destas 14 equipes, as com pior campanha geral tem gradualmente mais chances de conseguir a tão sonhada e cobiçada primeira escolha do draft.

O draft funciona em duas rodadas de 30 escolhas e cada franquia possui uma escolha por rodada, totalizando 60 novos atletas na liga por ano a partir do recrutamento. Os 16 times que atingiram os playoffs recebem suas escolhas conforme as campanhas. Um exemplo disso é que, teoricamente, o Los Angeles Lakers, atual campeão da NBA, teria a 28ª escolha da primeira rodada draft. Mas porque teoricamente? Porque os Lakers trocaram o seu direito à 28ª escolha com o Minesotta Timberwolves. Sim, os times podem trocar posições nas escolhas entre si e até envolver atletas que já estão na liga para garantirem uma montagem de um elenco jovem com potencial futuro.

Didi posa com uma bola de basquete e o boné do Pelicans
Didi foi selecionado pelo New Orleans Pelicans no draft de 2019. (Divulgação/FIBA)

Mas isso envolve outro fator preponderante do recrutamento. Algumas equipes adotam a estratégia do tanking, o que basicamente significa jogar mal durante uma temporada para perder propositalmente. Os técnicos colocam em quadra formações mais fracas com o objetivo de ter resultados piores e conseguir escalar na loteria do draft, alcançando as escolhas mais altas.

Para ser elegível no draft, um atleta precisa estar atuando por alguma universidade nos EUA. As estrelas internacionais que não cursam alguma faculdade em terras norte-americanas precisam ter 19 anos, ter se formado há pelo menos um ano e ter atuado por alguma equipe profissional de basquete. Caso um jogador inscrito no draft não seja selecionado por nenhuma equipe, ele possui duas opções; retornar ao basquete universitário ou se tornar um profissional e assinar com uma equipe da liga como agente livre, o que, na maioria das vezes, garante um contrato menos valioso.

UFA! ENTENDI

Após essa breve explicação sobre o sistema de recrutamento dos prospectos universitários, vamos para os capixabas da NBA! Anderson Varejão, já um veterano com 13 temporadas na liga tendo atuado por Cleveland Cavaliers e Golden State Warriors, dois contenders, ou seja, franquias candidatas ao título, passou a limpo sua carreira e falou sobre a convivência com lendas do esporte. Já Didi, que ainda trilha seu caminho rumo ao estrelato, comentou sobre as expectativas no basquete e analisou o período de experiência na Austrália.

ANDERSON VAREJÃO

Você foi draftado em 2004, há 16 anos. Como vê a evolução do draft da NBA nesses anos, em relação ao preparo feito aos jogadores jovens que estão prestes a entrarem na principal liga de basquete do mundo?

  • Anderson Varejão: Naquela época era bem diferente. Uma das coisas que 'ajudam', fazem ficar mais interessante é esse acesso que o público tem a esses jogadores que vão fazer parte do draft. As mídias sociais, as divulgações dos próprios atletas falando sobre o draft, os presentes que a NBA manda e prepara para os atletas são diferentes. Esse ano foi um ano completamente atípico, diferente, a maneira como fizeram. Mandaram o que chamam de 'locker room' (vestiário) para os atletas com os bonés de todas as franquias e mais algumas outras coisas. Acho que essa é a grande diferença de quando fui draftado para hoje em dia.

No momento em que seu nome é chamado na cerimônia, qual a sensação? Dá um frio na barriga?

  • Varejão: Quando seu nome é chamado é um momento especial, é o sonho se tornando realidade. Poder fazer parte, de poder jogar da NBA, chegar ao lugar mais alto. Poder realizar seu sonho de ainda jovem com muita coisa pra acontecer pela frente é especial. É um momento que com certeza dá um frio na barriga, é uma felicidade muito grande, mas a gente sempre pensa 'beleza, cheguei aqui, fui draftado, mas o mais importante é o meu trabalho a partir de agora para me manter na liga'. E acredito que eu tenha feito isso bem, já que foram 13 temporadas na NBA.

No Draft deste ano, tivemos vários grandes destaques universitários sendo escolhidos, como o LaMello Ball. Como avalia o Draft 2020 da NBA? Quem você acha que teve a melhor escolha?

  • Varejão: Na verdade, foi um ano que não acompanhei muito os jogadores do College (o basquete universitário) e os jogadores mais jovens para o draft. Ouvi falar muito nos primeiros cinco escolhidos nesse draft de 2020, mas não tenho uma opinião sobre como são os jogadores porque não tive com acompanhar. Estou com uma filha de sete meses, e tem a pandemia, então isso acabou tirando meu tempo para acompanhar tudo o que estava acontecendo no draft.

O Didi está na liga australiana, pegando experiência e se desenvolvendo e é um dos destaques por lá. Acha que ele pode ter um impacto na NBA, quando voltar para a liga?

  • Varejão: Acredito que o Didi tem um futuro brilhante na NBA. É um jogador que, apesar da pouca idade, joga parecendo que tem muitos anos de experiência, cadenciado, tranquilo, sabe o momento certo de fazer as jogadas. E isso só tende a melhorar, então, se não acontecer nada de lesões e problemas extra-quadra que as vezes acontecem, se depender apenas do talento dele, ele tem tudo para ter um futuro brilhante na NBA.

Você acabou jogando por 13 temporadas na NBA em times importantes como o Cleveland Cavaliers e o GSW. Como analisa sua passagem pela liga?

  • Varejão: Minha passagem na NBA marcou muito, principalmente pela maneira com a qual eu jogo. Poucos jogadores atuavam da maneira que eu jogava, um jogo diferente, mais focado em defesa, ajudar o time e em bloqueios. E, claro, estava sempre preparado para caso tivesse a oportunidade de jogar no ataque. Foram 12 temporadas e meia em Cleveland e uma temporada com o Golden State. Durante esse tempo no Cleveland, passei por muitas coisas, atuei em times que brigaram por títulos, que passaram por reformulações, renovações, depois de novo o time brigando por título e acho que me adaptei bem a todas essas situações. Como a gente estava passando por uma reformulação, era um momento em que eu tinha que mostrar um pouco mais do meu poder ofensivo e acabei fazendo um bom trabalho. Depois, com os times que brigaram por títulos, o que nunca foi minha prioridade. Eu priorizava ser importante para o time, então sempre busquei me encaixar da melhor maneira possível em todos os times que joguei, pra ser importante, ajudar. Foram 13 temporadas, tirando as lesões e outros problemas que eu tive, bem positivas e sou satisfeito com o trabalho que fiz durante esse tempo.

Nomes como LeBron James, Kyrie Irving, Stephen Curry e Klay Thompson foram seus companheiros de equipe. Como era a convivência com esses caras? Tem alguma história engraçada ou curiosa sobre as resenhas com eles?

  • Varejão: São muitos jogadores que eu felizmente tive a oportunidade de dividir as quadras, na mesma equipe e até jogando contra, com certeza isso vai ficar marcado na minha carreira, muito feliz por todos esses nomes que são referência mundialmente no basquete, eu ter tido a oportunidade de jogar com eles. Claro que existem muitas histórias, mas a gente tem que deixá-las para a gente mesmo, tem que guardar com a gente porque algumas delas podem complicar! Brincadeiras a parte, as histórias engraçadas tem que ficar entre a gente mesmo.

DIDI

Você foi o último brasileiro draftado na NBA. Qual a sensação de estar lá na cerimônia, esperando seu nome ser chamado?

  • Didi: Foi muito especial, uma sensação indescritível. Era um sonho que eu tinha, treinei muito, me dediquei e me preparei muito para estar lá. Deu tudo certo. Estava com a minha mãe do meu lado para viver aquele momento comigo. Quando chamaram o meu nome, muitas coisas vieram na minha cabeça, desde quando eu era pequeno, das dificuldades, de tudo que tivemos que abrir mão, do sacrifício para que as coisas dessem certo e eu pudesse viver aquele dia nos Estados Unidos.

Um dos principais destaques do draft desse ano foi o LaMello Ball, sensação do basquete universitário. Acha que ele pode ter um impacto imediato na liga? Quem você acha que teve a melhor escolha?

  • Didi: Acompanhei o Draft, sim, acredito que LaMello pode ter um impacto bem grande na liga. Não sei se de imediato, até porque é grande a diferença de nível entre o jogo aqui da Austrália e da NBA. Com o tempo, ele vai mostrar o seu potencial e vai marcar na liga. Acho que o Golden State, que teve o segundo pick, teve a melhor escolha com o Wiseman, um pivô versátil, bastante atlético.

Você é um dos destaques da liga australiana. Como avalia esse período de experiência fora dos Estados Unidos?

  • Didi: Está sendo muito bom, muito importante pra mim. Quando cheguei ao Kings, todos me receberam muito bem, clube, jogadores, fãs, todos na cidade me receberam bem e isso facilitou demais a minha adaptação. Vejo que estou evoluindo, melhorando o meu jogo, e sei que ainda tenho muito a crescer. Eu não poderia ter chegado a um lugar melhor, a uma equipe melhor para isso.

Há uma ansiedade para voltar para a NBA? O que espera quando retornar para a liga?

  • Didi: Quero muito jogar na NBA e o draft foi o primeiro passo. Mas hoje a minha cabeça, o meu foco, está todo aqui no Sydney. Tenho uma temporada importante pela frente, com a disputa da liga e também com a Seleção Brasileira. Quero muito estar no Pré-Olímpico para ajudar o Brasil a conquistar a vaga para as Olimpíadas de Tóquio, no ano que vem.

Quais são seus principais sonhos e as metas no basquete?

  • Didi: Hoje o meu foco está apenas aqui no Sydney. Quero fazer uma grande temporada, ajudar a equipe a chegar à final, lutar pelo título e dar alegrias à nossa torcida. Temos um time forte, bem equilibrado e de qualidade, e vamos trabalhar muito para alcançar os nossos objetivos.

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