A discussão da saúde mental como um dos pilares na preparação de um atleta tem crescido, principalmente após as Olimpíadas de Paris 2024. Durante a competição, os principais nomes do Brasil comentaram sobre o tema e a importância que um acompanhamento psicológico tem, tanto quanto o treinamento físico. Rayssa Leal e Rebeca Andrade protagonizaram falas de conscientização sobre o assunto, que ainda encontra resistência em alguns esportes.
A questão já havia sido muito abordada quando Simone Biles desistiu das finais nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 para priorizar sua saúde mental. Em entrevista, a ginasta brasileira Rebeca Andrade revelou sobre como a decisão da Simone a influenciou positivamente.
“Ela foi muito forte mesmo, e eu me sinto muito orgulhosa, tanto que eu fiz o mesmo por mim no Mundial, quando eu decidi não fazer o solo. Porque a gente precisa entender que o nosso corpo e a nossa cabeça têm um limite, e que a gente precisa respeitar o nosso corpo. Não posso controlar as expectativas das outras pessoas. A única pessoa que eu posso controlar sou eu", contou a ginasta.
Nas pistas, Rayssa Leal também falou da importância que foi ter um acompanhamento psicológico desde cedo, principalmente por ser tão nova e precisar lidar com ascensão meteórica que conquistou. “Eu tinha muito medo dos campeonatos, de ‘ai, se eu não me dar bem’. Outras várias coisas, dos obstáculos serem altos... Sei que consigo jogar, mas minha mente acaba falando ‘ai, não tenta’. Ela (psicóloga esportiva Gissele Serra Angeliéri) vai me ajudando a meio que desbloquear isso. Foi uma das melhores coisas para mim como atleta, porque sou muito novinha e tudo aconteceu muito rápido. A ajuda dela e da minha equipe foi essencial para mim”, relatou.
A equipe de A Gazeta Esportes conversou com o ex-atleta de futebol americano e psicólogo Fernando Dorsch, que falou sobre o tema. "Hoje a gente vive numa sociedade do rendimento. A gente saiu da sociedade do espetáculo, onde todo mundo tinha que estar bonito e feliz, para uma sociedade de rendimento, onde todo mundo tem que performar. A autocobrança que se faz é muito grande e, às vezes, muito insalubre, a ponto de gerar ansiedade, depressão, dentre outros transtornos mentais", explica Fernando.
Ainda existe um tabu e desvalorização da real importância dos cuidados com a saúde mental no meio esportivo. Influências do segmento e atletas tratam o assunto como banal, como foi o caso de uma fala do Endrick, jogador de futebol que atualmente defendendo o Real Madrid e a Seleção Brasileira. "Meus psicólogos são Deus e minha família. Se eu tenho Deus na minha vida, não preciso desabafar com outra pessoa que não vai nem conhecer meus pais e minha pessoa. Eu somente tenho que conversar com Deus e orar", afirmou o atleta de 17 anos.
"Infelizmente a psicologia ainda é vista como algo que só vai ao psicólogo quem é fraco. Então, às vezes, um atleta que aparece com um psicólogo, ele tem vergonha de falar que tem psicólogo porque ele vai ser visto como fraco. E, na verdade, se a gente for para fora do país, as equipes cada vez mais estão incluindo psicólogos dentro dos times, dentro de equipe", afirmou Fernando Dorsch, fazendo um contraponto à entrevista de Endrick. Um exemplo é no futebol, onde 6 times da Série A do Brasileirão ainda não possuem um departamento de psicologia operante no clube (Flamengo, Athletico-PR, Cuiabá, Grêmio, Internacional, Juventude e São Paulo).
Atleta capixaba que disputou as duas últimas olimpíadas e que em Paris viu sua equipe ser eliminada precocemente por conta do desempenho afetado pela lesão de uma companheira de time, Deborah Medrado deixou claro a importância de uma preparação física e mental para atletas de alto rendimento. Sobre o processo de desmistificação e conscientização do tema dentro do esporte, ela também citou a Simone Biles e Rebeca Andrade como referências da causa: "Depois daquele documentário da Simone Biles as pessoas começaram a olhar (terapia) de uma forma melhor. Um dos passos pra desmistificar, que a Rebeca faz isso muito bem, é sempre exaltar o psicólogo dela, de falar da saúde mental. Atletas de ponta fazerem isso ajuda muito", constatou a atleta.
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